OESP, Metrópole, p. A23
19 de Out de 2014
Movimento de reúso da água ganha adeptos
Petição online para governos, com dicas de economia, já tem mais de 19 mil assinaturas
Mônica Reolom
"Esta situação de crise da água pode significar uma oportunidade histórica para o Estado de São Paulo liderar um movimento nunca antes visto neste País, de transição para um manejo sustentável e responsável da água". A proposta está em uma petição online assinada por "cidadãos paulistanos" direcionada ao governador Geraldo Alckmin (PSDB) e ao prefeito Fernando Haddad (PT) - já com mais de 19 mil assinaturas. A cada adesão, os governantes recebem um e-mail que contém soluções colaborativas para reúso e economia de água.
Pequenas atitudes descentralizadas, simples e baratas são a solução para a crise, segundo os idealizadores do documento. "Nós ainda teremos vários anos de crise. Mesmo que chova, vamos viver uma situação de escassez e penúria por muito tempo. A petição indica parâmetros do que a gente acredita serem caminhos para vencê-la", explica Claudia Visoni, de 48 anos, jornalista e ambientalista.
Ela faz parte de um grupo de pessoas que trabalha com a permacultura: método que desenvolve sistemas em escala humana (jardins, vilas, bairros) ambientalmente sustentáveis e financeiramente viáveis. "Precisamos mostrar que decisões descentralizadas são muito baratas e eficientes e podem ser feitas hoje, agora. Não podemos nos dar ao luxo de depender da transposição de um rio prevista para daqui a dez anos. Vamos ter de começar a resolver pelas bordas: cada condomínio, cada empresa, cada prédio", afirma.
Pela cidade de São Paulo, há exemplos de permacultura que podem ser facilmente reproduzidos. E a criatividade pode vir também de situações complicadas. Caso do técnico agropecuário e hoje empreendedor social Edison Urbano, de 55 anos. "Perdi meu emprego há 11 anos, o que me fez estudar formas de não gastar dinheiro. Comecei a plantar hortaliças para economizar na feira, desenvolvi um aquecedor de água solar e pensei numa maneira de aproveitar a água da chuva. Foi como nasceu uma minicisterna", diz.
Urbano instalou no quintal de casa - que seria puro concreto, não fossem os vasos de garrafas pet cheios de plantas nas paredes - um galão de 200 litros conectado à calha que recebe água toda vez que chove. Dali, ele tira água para molhar as hortaliças na parede. "O meu foco sempre foi sociedade de baixa renda. O custo de uma cisterna urbana é de geralmente R$ 200.
Ele ensina em seu site, o Sempre Sustentável, a replicar o sistema em um guia passo a passo. A economia de 40% na conta de água também é fruto de um sistema que reutiliza a água usada no banho na descarga do banheiro. "Achavam um absurdo quando eu comecei a fazer isso porque a água fica turva. Mas é para dar descarga!"
O mesmo sistema é usado na loja Farm da Rua Harmonia, na Vila Madalena, zona oeste. Desenvolvida pelo engenheiro e designer ecológico Guilherme Castagna, de 40 anos, a obra usa água da chuva e de nascentes locais nos sistemas não potáveis - descarga, limpeza do chão e irrigação das plantas. Com plantas nas paredes, o prédio ainda tem teto verde, que diminui a sensação de calor. "A ideia desse projeto e da permacultura é incorporar ciclos da natureza nos sistemas de construção. Precisamos entender e aplicar os princípios da natureza nas obras", diz Castagna.
Mutirão. Ele, Claudia e Urbano estão organizando o movimento "Cisterna Já", para estimular as pessoas a instalar o sistema em casas, escolas e lojas. No dia 1.o, vai haver um mutirão de capacitação. "Um cenário possível em São Paulo é o de inundação e desabastecimento ao mesmo tempo, se a cidade alagar com as chuvas, mas os reservatórios não receberem precipitação suficiente", diz Claudia.
Filtragem cria lago de carpas com água da pia
Sistema desenvolvido por educador ambiental em casa no Butantã, na zona oeste de São Paulo, é responsável por 50% de economia
A água usada para lavar a louça escoa pelo ralo, mas não vai para a rede de esgoto. Como se fosse mágica, ela se transforma em um lago límpido e cheio de carpas. Não é o laboratório do Professor Pardal, mas uma casa no Butantã, na zona oeste, onde moram seis pessoas. Lá a economia na conta chega a 50%.
Educador ambiental, o morador Lucas Ciola, de 30 anos, desenvolveu um sistema de filtragem de água com cinco etapas. Da pia, a água escorre por um cano até um galão cheio de fungos e bactérias que consomem a poluição e a transformam em nutrientes. Dali, a água vai para uma caixa com carvão, brita e plantas, que assimilam a poluição como se fosse adubo.
A penúltima etapa é uma caixa d'água com plantas que filtram metais pesados e peixes que comem resíduos sólidos. "Cada caixa é um ecossistema." Por fim, a água cai em um lago criado no quintal, onde carpas nadam tranquilamente. "Entro nessa água todo dia. Com ela, cultivo alface, almeirão e outras hortaliças hidropônicas", afirma Ciola.
A casa recebe visita de escolas que querem aprender o ciclo da água. "Somos cada vez mais 'especialistas' e o que precisamos é interdisciplinaridade. Isso aqui envolve biologia, química, física, comunicação." Reproduzir o sistema em larga escala ainda é utopia. "Precisamos de gente interessada em mudança de hábito."
Solução. Se o sistema de Ciola funciona em casa, a mudança de hábito foi a solução para um prédio na Rua Afonso de Freitas, no Paraíso. Há dois meses, a administradora do condomínio sugeriu distribuir galões entre os 33 apartamentos para recolher água que sai da máquina de lavar para depois usá-la na limpeza das áreas comuns.
A conta baixou de R$ 2.700 para R$ 1.800. "Fiz palestra em um prédio vizinho sobre a medida. Todo mundo deveria adotar", diz o zelador Edilson Oliveira Gomes, de 54 anos. / M.R.
OESP, 19/10/2014, Metrópole, p. A23
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