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Mortes por desnutrição expõem miséria em aldeias

Campo Grande News-Campo Grande-MS
Autor: Helio de Freitas, de Dourados e Márcio Rolon/Diário MS
24 de Fev de 2005

Presidente da Funasa visita centrinho em Dourados; Lula pediu mais empenho da Saúde
Embora as autoridades responsáveis pela saúde dos índios tentem minimizar o efeito da miséria nas aldeias de Mato Grosso do Sul, especialmente em Dourados - onde está concentrada a maior população indígena do Estado - as mortes de crianças desnutridas têm colocado em descrédito essa estratégia oficial. Só neste ano, quatro crianças morreram por desnutrição na reserva de Dourados. A quarta morte ocorreu na madrugada desta quinta-feira. A menina de um ano e três meses, morava na aldeia Bororó - a mais miserável de Dourados - e estava internada no hospital da Missão Evangélica Caiuá. Pesava menos de 5 kg.
Quando o quadro de fome e desnutrição voltou à tona, em janeiro, inclusive com repercussão nacional de cenas de crianças em pele e osso sobre leitos do Centro de Recuperação Nutricional (Centrinho), o governo correu para mostrar os programas e ações que são desenvolvidos em benefício dos índios. Estiveram em Dourados o secretário nacional do Ministério de Segurança Alimentar e de Combate à Fome, José Antonio Baccarin, o diretor nacional de saúde indígena da Funasa (Fundação Nacional de Saúde), Alexandre Padilha, e por último, o presidente da Funasa, Valdi Camarcio Bezerra, que esteve em Dourados na terça-feira passada.
Em todas as visitas, apenas elogios ao trabalho desenvolvido pela prefeitura, governo do Estado e Funasa. A única posição crítica ao atendimento à saúde dos índios foi a do Grupo de Trabalho que a Funai (Fundação Nacional do Índio) mandou à região para verificar os casos de desnutrição. O grupo de antropólogos e médicos apontou os problemas administrativos da Fundação Nacional de Saúde como responsável pela queda na qualidade do atendimento nas aldeias.
As mortes ocorridas em 2005 também levam ao descrédito a alegação da Prefeitura de Dourados de que há apenas casos isolados de desnutrição nas aldeias Bororó e Jaguapiru. As quatro crianças que morreram desde janeiro moravam na reserva de Dourados.
Outra realidade exposta pelas mortes é a de que o atendimento preventivo não está chegando a todos os 11 mil índios da reserva de Dourados. Keli Fernandes Arévalo, de seis meses de vida, morta sábado passado, nunca havia recebido tratamento apesar do quadro de desnutrição severa. A alegação dos médicos e da própria Funasa: os pais resistiam ao tratamento. Jenifer Duarte, morta na madrugada desta quinta-feira, também não vinha recebendo tratamento. Quando chegou ao Hospital da Missão Caiuá, na madrugada de hoje, a menina já estava morta.
A Funasa afirma que o índice de desnutrição indígena em Mato Grosso do Sul é de 12%. Em janeiro, profissionais que trabalham com a saúde dos índios divulgaram dados mostrando que 31% das crianças com até cinco anos da reserva de Dourados apresentavam algum tipo de desnutrição e que 15% tinham, até dezembro, a chamada desnutrição grave. Alexandre Padilha desmentiu os números.

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