VOLTAR

Mortes e vingança

Correio Braziliense-Brasília-DF
13 de Abr de 2003

A fama de povo indomável, feroz e cruel acumulada em dois séculos e meio de história torna ainda mais surpreendente a decisão do cacique Apowê de entregar meninos xavantes para serem educados por famílias da cidade. No século 18, há fartos relatos de ataques de xavantes a trabalhadores de minas de ouro em Goiás, onde viveram originalmente. A aversão ao contato com o ''branco'' foi reforçada depois de um período de cerca de 40 anos em que os xavantes aceitaram viver numa aldeia oficial, o Carretão, 150 quilômetros ao norte da cidade de Goiás.

Maltratados pelos militares que administravam a aldeia do Carretão e abandonados pelos missionários católicos, os xavantes se meteram no mato novamente. Empreenderam uma grande viagem a partir da década de 1840.

Aparentemente, a grande travessia dos xavantes seguiu uma estratégia de isolamento nas despovoadas terras do nordeste do Mato Grosso. O cerco da civilização, no entanto, não tardou a chegar. Já na década de 1920, embates entre xavantes e exploradores nacionais foram registrados.

Em 1934, xavantes mataram a dupla de padres salesianos João Fuchs e Pedro Sacilotti que havia dois anos tentavam estabelecer contato pacífico com os índios. Em 1935, um ataque dos xavantes sofreu dura represália. Foi encontrado morto um menino de 11 anos de idade, filho de um empregado de outra missão salesiana. Ao lado do corpo estavam dez bordunas xavantes cuidadosamente empilhadas. O pai do rapaz conseguiu autorização da chefia de Polícia em Cuiabá para organizar uma excursão punitiva. O grupo atacou a primeira aldeia xavante que encontrou pela frente. Saquearam-na e tocaram fogo nas 154 casas.

Preocupado com a intensificação do conflito, o Serviço de Proteção aos Índios (SPI), antecessor da Funai, organizou, em 1941, a primeira expedição para tentar contato amistoso com os índios. Em novembro do mesmo ano, o chefe da excursão, Genésio Pimentel Barbosa, e cinco auxiliares, foram abatidos pelas bordunas dos xavantes. Apenas em 1946, ou seja, mais de um século depois de abandonarem definitivamente a aldeia do Carretão, os xavantes se submeteram ao assédio do indigenista Francisco Meirelles, responsável pela segunda missão de contato do SPI.

As notícias aqui publicadas são pesquisadas diariamente em diferentes fontes e transcritas tal qual apresentadas em seu canal de origem. O Instituto Socioambiental não se responsabiliza pelas opiniões ou erros publicados nestes textos. Caso você encontre alguma inconsistência nas notícias, por favor, entre em contato diretamente com a fonte.