VOLTAR

Morre índio espancado pela polícia

Folha de Boa Vista-RR
Autor: Cyneida Correia
14 de Dez de 2001

O indígena guianense Kenedi Salomon, de 16 anos, morreu ontem, após passar cerca de dois meses doente em conseqüência de um espancamento que sofreu de policiais civis, quando trabalhava como caseiro na região da Água Boa.
O rapaz pertencia à maloca Anai, tribo Wapixana, na República da Guiana. Ele veio morar em Boa Vista há cerca de 4 anos, para viver com a família e trabalhar.
O pintor Lindomar Neves, 31 anos, que ajudou a criar o garoto, contou que ele estava trabalhando no sítio de sua família, na região da Água Boa, quando há dois meses ocorreu um problema de furto de um motor de luz.
"A polícia foi lá, entrou no meu sítio sem mandado e levaram o menino, que trabalhava como caseiro. Levaram também outros caseiros que estavam próximos da minha casa. Todos foram espancados, mas como o Kenedi não sabia falar bem o português, foi o que mais sofreu na mão dos policiais. Desde lá ele começou a definhar", denunciou.
Segundo o pintor, o espancamento foi feito por agentes da Delegacia de Patrimônios que estavam investigando o furto. A família denunciou o caso no 1o Distrito Policial e no Ministério Público.
"Desde que foi espancado, ele começou a sentir dores, vomitar sangue e não conseguia comer nada. Ele só fazia piorar. Nós o levamos no médico, mas ninguém deu jeito. Juntou o abuso de autoridade com o descaso médico e ele terminou morrendo", disse.
A família está aguardando o resultado da necropsia para saber as reais causas que levaram à morte do menino. Só então pretendem denunciar novamente os envolvidos no caso.
"Nós não queremos vingança, queremos justiça, pois não é a primeira vez que isso acontece. Desta vez eles foram longe demais. Invadiram minha casa, pegaram um índio menor de idade e o espancaram. Saindo o laudo, nós vamos citar nomes e procurar nossos direitos. Minha mãe está sofrendo muito, pois criou esse menino como se fosse filho dela", afirmou.
A Funai foi comunicada sobre a morte e vai levar o corpo do menino de volta à tribo de origem. A assessoria de comunicação da Secretaria de Segurança Pública não retornou a ligação feita pela reportagem da Folha.

As notícias aqui publicadas são pesquisadas diariamente em diferentes fontes e transcritas tal qual apresentadas em seu canal de origem. O Instituto Socioambiental não se responsabiliza pelas opiniões ou erros publicados nestes textos. Caso você encontre alguma inconsistência nas notícias, por favor, entre em contato diretamente com a fonte.