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Morales suspende estrada, mas não detém crise política

FSP, Mundo, p. A15
28 de Set de 2011

Morales suspende estrada, mas não detém crise política
Após violenta repressão contra manifestantes no fim de semana, segundo ministro boliviano apresenta renúncia
Indígenas decidem retomar marcha até La Paz contra estrada financiada pelo BNDES que passa por reserva

Flávia Marreiro
De Caracas

A decisão do presidente da Bolívia, Evo Morales, de suspender a construção de uma estrada financiada pelo Brasil não conseguiu estancar a crise política no país detonada pela mobilização contra a obra: indígenas anunciaram que seguirão os protestos, a maior central sindical promete fazer greve hoje e o segundo ministro pediu demissão.
Sacha Llorenti, ministro de Governo (segurança), anunciou a renúncia ontem, em meio à discussão sobre quem no alto governo foi responsável pela violenta repressão aos manifestantes antirrodovia no domingo.
Llorenti já havia apontado um de seus vices, Marcos Farfán, como mandante da intervenção. Este também deixou o cargo, desmentindo o ministro. Seguiu os passos de Cecília Chacón, que renunciou à pasta da Defesa anteontem, e de María Quiroga, que se desligou da direção de Migrações.
Dois outros ministros serão sabatinados sobre o tema na sexta no Congresso.
Na noite de ontem, Morales nomeou o viceministro de Coordenação Governamental Wilfredo Chávez para o lugar de Llorenti, e o diretor de Reivindicação Marítima Rubén Saavedra para a pasta de Defesa, segundo o "La Razón".
Acuado, o presidente classificou anteontem a repressão de "imperdoável" e anunciou a interrupção das obras da rodovia, a cargo da OAS.
O presidente não precisou se a paralisação afetaria só o trecho polêmico -o 2, que cortará uma reserva indígena e que nem começou a ser construído- ou abarcará também os trechos 1 e 3, já em obras.
Ontem, o porta-voz da OAS na Bolívia, Pablo Siles, informou que, para cumprir o contrato, a construtora seguirá trabalhando nos setores 1 e 3 da rodovia até receber uma notificação oficial.
A estrada de 306 km tem custo de US$ 415 milhões, dos quais US$ 332 milhões virão do BNDES. A OAS realiza trâmites para receber US$ 64 milhões do banco brasileiro referentes às primeiras obras.
O embaixador do Brasil em La Paz, Marcel Biato, afirmou que a suspensão da estrada -total ou do trecho não iniciado- não altera as condições de financiamento brasileiro, liberado conforme a execução da obra.
Biato repetiu que a verba para o trecho 2 só sairá se respeitados os parâmetros da legislação sócio-ambiental do país, "que é muito semelhante à do Brasil". A etapa ainda não tem licença ambiental.
Se a obra for paralisada totalmente, podem ser afetados até 700 trabalhadores da OAS, a maioria deles bolivianos.

MARCHA E OPOSITORES
O grupo de indígenas amazônicos reprimidos no domingo anunciou que retomará a marcha rumo a La Paz que iniciou em 15 de agosto. Para eles, a suspensão da obra é uma manobra diversionista do governo.
A COB (Central Operária Boliviana), a maior do país, fará uma greve "mobilizada" hoje, com bloqueios de vias.
Os comitês cívicos dos departamentos (Estados) com forte presença conservadora, como Beni e Tarija, também anunciaram greve, numa inusual aliança com setores indígenas.
A coalizão antigoverno se forma às vésperas da inédita eleição direta para magistrados, prevista para o dia 16.
Ontem, o Departamento de Estado americano disse, em comunicado, que o problema da estrada deve ser resolvido com "diálogo" entre o governo boliviano e os indígenas.

FSP, 28/09/2011, Mundo, p. A15

http://www1.folha.uol.com.br/fsp/mundo/ft2809201110.htm

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