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Moradores fecham rodovia Transamazônica em protesto contra hidrelétrica

FSP, Dinheiro, p. B4
Autor: Agnaldo Brito
21 de Abr de 2010

Moradores fecham rodovia Transamazônica em protesto contra hidrelétrica

Agnaldo Brito
Enviado especial a Altamira (PA)

Trinta e cinco anos após idealizado pelo governo militar, o projeto hidrelétrico Belo Monte acaba de se converter em uma possibilidade assustadora para quem é contra a obra, para quem é a favor e sobretudo para quem ganhou.
Para os primeiros, o desafio é como impedir agora um projeto dessa magnitude com prazo de 2015 para iniciar a geração de energia. Para quem lutou pelo projeto, a dúvida agora está em como cobrar tantas exigências penduradas no empreendimento.
Com tudo isso, a agenda do empreendedor por aqui não será trivial, e resta saber se o tamanho das exigências de uma sociedade local muito organizada caberá na receita a ser obtida com a energia.
As incertezas a partir de agora talvez tenham sido a razão para uma movimentação local tão modesta, tanto daqueles contrários como dos apoiadores. Num dia de sol inclemente, amainado por momentos de chuvas alentadoras, o dia mais importante da história de Altamira, cidade distante 500 quilômetros de Belém, foi como tantos outros.
Logo pela manhã, fora da cidade, pequenos agricultores da região da Volta Grande do Xingu, acompanhados de grupos articulados contrários à barragem, fecharam o quilômetro 45 da rodovia Transamazônica, que na região liga Altamira a Anapu e Marabá.
Apenas dois policiais rodoviários federais foram destacados para acompanhar o bloqueio e negociaram a passagem de grupos mais vulneráveis, como os bebês de 30 dias de vida Kaic e Kauã, filhos de Jaiane Gomes dos Santos, 20, que aguardava dentro de um pau de arara.
Há grande preocupação em relação aos produtores. Muitos ficarão na região entre o rio seco do Xingu e o lago que fornecerá água para a hidrelétrica. "Como fica essa gente? Vão construir uma ponte? Não tem ponte nenhuma no projeto", diz Lucimar Silva, 39 anos, 29 deles na região.
Ainda nesta semana, outro problema deverá surgir. A comunidade indígena ainda prepara sua grande ação: a ocupação do Sítio Pimental, onde será instalada a barragem da hidrelétrica. A operação logística, com custo estimado de R$ 200 mil, já foi deflagrada. A previsão é que eles comecem a montar uma aldeia com várias etnias na região da barragem.
Os índios alegam que o projeto vai inviabilizar a navegação e o abastecimento de água das aldeias localizadas no trecho da Volta Grande, onde a vazão de água será reduzida de forma drástica.

Comemoração contida
O empresariado de Altamira preferiu uma comemoração contida. A carreata que membros da associação comercial local queriam fazer foi suspensa. "Queremos respeitar aqueles que são contra. Comemoramos, mas acho que também há uma preocupação sobre o que vai acontecer agora", disse José Gonçalves de Souza, presidente da associação. Ele afirmou que o grupo Forte Xingu, organização formada por 170 entidades da região -favoráveis ao projeto Belo Monte-, tomará uma posição distinta a partir de agora.
"Vamos adotar posição de cobrança do novo empreendedor em relação ao que está descrito nos estudos como condição para instalação do projeto." A cidade, afirma Souza, não tem condição de receber milhares de pessoas com a atual estrutura de equipamentos urbanos, escolas, hospitais, saneamento.

FSP, 21/04/2010, Dinheiro, p. B4

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