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Moradores fazem cerco internacional a siderúrgica no Rio

FSP, Cotidiano 1, p. C3
27 de Nov de 2010

Moradores fazem cerco internacional a siderúrgica no Rio
Comunidade de Santa Cruz buscou ajuda de organismos internacionais contra supostos danos causados pela CSA
Moradores ligam CSA a problemas ambientais, danos à saúde e suposta relação com milícias que atuam na região

Denise Manchen
Do Rio

Moradores de Santa Cruz foram buscar ajuda de ONGs com atuação internacional para tentar barrar as atividades da CSA (Companhia Siderúrgica do Atlântico), inaugurada em junho no bairro da zona oeste do Rio.
As queixas contra a siderúrgica chegaram à Europa, sede da ThyssenKrupp.
A empresa alemã é dona de 73% do empreendimento de cerca de R$ 14 bilhões. A Vale, com 27%, é parceira.
As reclamações vão desde o suposto envolvimento da siderúrgica com milicianos que atuam na região até danos à pesca local e a emissão no ar de um pó brilhante.
Apesar de negar, a empresa não conseguiu evitar que esses assuntos chegassem aos tribunais brasileiros e a organismos internacionais.
Os principais críticos são os pescadores, que responsabilizam a dragagem da baía de Sepetiba, para a construção do porto da companhia, pela redução da pesca local.
Segundo eles, metais pesados, que no passado vazaram da falida companhia Ingá, foram trazidos à tona.
"Meu ganho foi reduzido a 20% do que era", afirma Marcos Garcia, da Confapesca (Confederação das Federações de Pesca do Brasil).
A empresa nega e diz que adotou práticas que evitaram a dispersão dos poluentes. Em nota, diz que foi autorizada por órgãos ambientais.
Na Justiça, ao menos sete ações de associações de pescadores pedem indenização de quase R$ 300 mil para cada um dos 5.763 associados.
Os protestos também estão no cerne da acusação de envolvimento com milicianos.
Um pescador, que está em um programa de proteção da Secretaria Especial de Direitos Humanos, diz ter sido ameaçado de morte por se opor ao empreendimento.
Segundo o deputado estadual Marcelo Freixo (PSOL), o pescador reconheceu o chefe da segurança da CSA como o autor das ameaças.
A siderúrgica diz que as acusações são caluniosas. "O serviço de segurança da empresa é realizado por empresas legalmente estabelecidas e licenciadas por órgãos públicos competentes."

PARLAMENTO EUROPEU
Em 2009, o caso foi exposto ao Parlamento Europeu. Em janeiro, o pescador ameaçado falou perante os acionistas da Thyssen.
Em maio, o caso foi parar em Madri, no Tribunal Permanente dos Povos, que pediu a interrupção do projeto.
O processo culminou com a visita, em setembro, da eurodeputada Gabriele Zimmer, do partido alemão Die Linke (A Esquerda). Ela chegou pouco após a CSA ser multada em R$ 1,8 milhão pela emissão de material particulado na atmosfera.
A empresa diz que o material não oferece riscos à saúde. Os moradores discordam.
Zimmer prometeu pedir à bancada de seu partido, no Parlamento alemão, que faça um pedido de explicações ao governo. "Eles podem não estar tão preocupados que a imagem deles seja prejudicada no Brasil, mas certamente ficarão se isso ocorrer na Europa", diz a eurodeputada.

http://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidian/ff2711201039.htm

CSA recorre à Justiça para garantir áreas ao redor de empreendimento

Do Rio

Proprietária de terras no município de Itaguaí, vizinho ao Rio, a família de Eduardo Rocha tornou-se ré em uma ação judicial movida pela CSA após recusar a oferta de indenização pela passagem de uma linha de transmissão que ligará a siderúrgica ao Sistema Interligado Nacional. Segundo Rocha, a empresa ofereceu R$ 2 por metro quadrado de terreno.
"Nós não somos contra o projeto, mas queremos um preço justo. A linha passa bem no meio dos nossos lotes, a área fica improdutiva. Ninguém mais vai querer comprar nossas terras", diz ele, que disse ter tomado conhecimento de terrenos na mesma rua vendidos por cerca de R$ 20 o metro quadrado. "A localização é estratégica, perto do Arco Metropolitano e de áreas comerciais."
O caso do produtor rural não é único. A Folha encontrou mais 18 ações semelhantes em andamento em Itaguaí e Seropédica. Um desses proprietários, que pediu para não ser identificado, disse ter recebido a mesma oferta de R$ 2 por metro quadrado.
Com a resistência às ofertas, a CSA recorreu à Justiça a fim de garantir o acesso aos imóveis e viabilizar a construção da linha. Isso foi possível porque a Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica) concedeu uma declaração de utilidade pública para o empreendimento.
A empresa disse ainda que, de um total de quase cem proprietários e posseiros afetados pela construção da linha, cerca de 20% não aceitaram os valores oferecidos a título de indenização.
"Em todos os casos foram utilizados os mesmos critérios técnicos de avaliação dos imóveis e benfeitorias afetadas", afirmou. "Em alguns dos processos cujos méritos já foram apreciados pelo Poder Judiciário, os valores oferecidos pela CSA foram inclusive confirmados pelos peritos judiciais", diz.

http://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidian/ff2711201040.htm

Saiba mais
Companhia emprega 3.500 funcionários

Do Rio

Inaugurada em junho deste ano pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a CSA é um complexo siderúrgico que ocupa um terreno de 9 km2, em Santa Cruz, na zona oeste do Rio.
Na fase de construção, o empreendimento gerou 30 mil postos de trabalho. Agora emprega 3.500 pessoas. Quando a siderúrgica estiver a pleno vapor, terá capacidade de produzir 5 milhões de toneladas anuais de placa de aço.

http://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidian/ff2711201041.htm

FSP, 27/11/2010, Cotidiano 1, p. C3

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