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Modelo atrasado

O Globo, Opinião, p. 6
24 de Mar de 2004

Modelo atrasado

As estatísticas sobre as condições de saneamento básico no Brasil, divulgadas esta semana pelo IBGE, destoam dos dados relativos a demais serviços públicos no país, como eletricidade, telecomunicações ou coleta de lixo. Os números insatisfatórios no fornecimento de água e coleta de esgoto vêm derrubando o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) do Brasil na avaliação periódica feita pelas Nações Unidas, enquanto educação e saúde puxam esse indicador para cima.

O surpreendente é que tal resultado decorra de um modelo retrógrado, que nem mesmo o governo passado, favorável à privatização em diversos outros setores, conseguiu mudar.

O governo de Luiz Inácio Lula da Silva percebeu em boa hora que o saneamento básico é uma das atividades que podem servir como alavanca para recuperação da economia brasileira. Por envolver a construção civil, é grande empregador, seja na fase de investimento ou na de manutenção dos serviços. O Brasil possui tecnologia atualizada para suprir a atual demanda. E há sinais claros do interesse da iniciativa privada por esse setor - alguns especialistas estimam que pelo menos a metade dos investimentos necessários para pôr o saneamento básico em pé de igualdade com os outros serviços públicos poderia vir de investidores privados, desde que o novo modelo regulatório avance nessa direção.

A participação da iniciativa privada nas regiões mais desenvolvidas do país liberaria recursos federais para aquelas que apresentam os resultados mais insatisfatórios no saneamento básico.

A melhoria do saneamento básico tem efeito direto sobre a saúde da população, de modo que qualquer investimento na captação e distribuição de água potável, assim como na coleta e tratamento de esgotos, reduz consideravelmente os gastos na rede pública hospitalar.

O problema do saneamento básico no Brasil não se resume à ausência desses serviços. Onde já existem redes de fornecimento de água o grau de perda é absurdamente alto (40% na média brasileira, segundo o IBGE) para os padrões internacionais, que não passam de 20%. E na rede de esgoto, a falta de tratamento chega a ser calamitosa.

O Globo, 24/03/2004, Opinião, p. 6

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