VOLTAR

Mobilização da Rede Wayuri recolhe seis toneladas de lixo no rio Negro

A Crítica - https://www.acritica.com/amazonia
04 de Nov de 2023

Mobilização da Rede Wayuri recolhe seis toneladas de lixo no rio Negro
Campanha reuniu agentes da sociedade civil e poder público em ação para coleta do lixo que ficou exposto devido à seca em um dos principais portos da cidade de São Gabriel da Cachoeira (AM)

acritica.com
online@acritica.com
04/11/2023 às 18:59.
Atualizado em 04/11/2023 às 19:01

Uma foto mostrando o lixo às margens do rio Negro, em um dos principais portos da cidade de São Gabriel da Cachoeira (AM), gerou uma ação de conscientização ambiental e recolhimento de resíduos.

A mobilização foi iniciada pela Rede Wayuri de Comunicadores Indígenas e reuniu vários parceiros e aconteceu na manhã deste sábado (4), sendo que em duas horas foram coletadas aproximadamente 6 toneladas de lixo. Outra ação está programada para acontecer no próximo sábado.

Os resíduos às margens do rio Negro apareceram com a seca severa que atinge o Amazonas. Atentos à situação, a comunicadora Juliana Albuquerque, do povo Baré, e o comunicador Adelson Ribeiro, do povo Tukano, foram até o Porto Queiroz e fizeram a foto do lixo. A imagem viralizou na cidade e acabou gerando a mobilização.

Na foto é possível ver uma grande quantidade de lixo. Mas a imagem mostra também a beleza da região, tendo ao fundo o rio Negro e um dos cartões-postais da cidade, a Serra do Cabari.

Enquanto ajudava a coletar o lixo, Juliana Baré falou sobre a urgência da situação e emocionou-se. "Estou me sentindo como um pequeno grão de areia numa imensidão. Parece que as pessoas não se dão conta que as mudanças climáticas são uma realidade. Elas querem toda essa beleza do rio Negro, mas não querem cuidar. Querem usufruir, mas não querem preservar. Estamos mobilizando para tocar as pessoas e sensibilizá-las a não jogar lixo em local que não deve. Também queremos que sejam colocadas lixeiras na orla", disse.

A defensora pública Monalysa Façanha também colocou luvas e participou da coleta. "Estamos aproveitando o rio seco para coletar o lixo, mas é necessário conscientizar a população a não jogar resíduos no entorno do rio. Precisamos fazer o descarte correto. Lugar de lixo não é no entorno do rio", ponderou.

Professor da Universidade do Estado do Amazonas (UEA) em São Gabriel da Cachoeira, Washington Souza considera que é necessário colocar lixeiras em toda a orla do rio Negro e promover o recolhimento periódico dos resíduos.

O também professor Armando Menezes, do povo Tukano, ajudou no recolhimento de lixo e acredita que a questão dos resíduos precisa ser tratada nas escolas e por políticas públicas. "Precisamos cuidar da nossa cidade. Nunca é tarde para criarmos políticas públicas e pensarmos em alternativas para isso", declarou.

A oficial de projeto da organização austríaca Aliança pelo Clima, Kerstin Plass, estava em São Gabriel da Cachoeira a trabalho e se juntou aos comunicadores.

"O problema do lixo é cada vez maior no mundo, principalmente o plástico que não é absorvido pela natureza. Acho muito importante essa ação de juntar esforços de várias instituições para combater esse problema, tanto local quanto globalmente. Com certos avanços no nosso mundo, vamos ter que achar modos de reduzir esses produtos de uso único e de cuidar da natureza", refletiu.

A arqueóloga Ana Cristina da Silva, povo Tukano, se preocupa com as pessoas que utilizam o rio na região do porto, onde é encontrado muito entulho. "Essa limpeza da margem do rio é muito importante. Em São Gabriel estamos enfrentando falta de energia e falta de água por causa do racionamento em decorrência da seca. E essas pessoas vêm para o rio tomar banho, mas isso acaba sendo um risco por causa da sujeira", disse.

Cerca de 30 pessoas - entre agentes públicos e voluntários - participaram da ação. Foram recolhidos pneus, sombrinhas, roupas, pilhas, vidros, sapatos e muito plástico, entre outros resíduos. A participação de vários órgãos foi essencial para a ação. Os sacos de lixo foram transportados em caminhão da prefeitura.

A mobilização da Rede Wayuri foi apoiada pela Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro (FOIRN) e Instituto Socioambiental (ISA). Participaram da ação a Prefeitura Municipal (Secretaria Municipal de Obras, Transporte e Serviços Urbanos - Semob; Secretaria Municipal de Cultura e Turismo - Semcult; e Secretaria Municipal de Juventude, Esporte e Lazer - Semjel), Defensoria Pública - Polo Alto Rio Negro; ICMBio; Universidade do Estado do Amazonas (UEA). Também apoiaram a ação as diretoras de cinema Maya Da-Rin e Mariana Lacerda e a documentarista Renata Meirelles.

Racionamento
A seca recorde do rio Negro vem impactando também São Gabriel da Cachoeira. No município, o abastecimento de energia é feito por meio de uma termelétrica que utiliza cerca de 44 mil litros de diesel diariamente.

O combustível é levado até a cidade em balsa. Mas, com a seca severa, esse transporte está dificultado. Os moradores enfrentaram racionamento de até 18 horas entre os dias 19 e 23 de outubro. Em seguida (entre os dias 24/10 e 3 de novembro), o racionamento passou para 6 horas (três horas em cada parte da cidade, alternadamente).

O comitê gestor de crise criado pela prefeitura informou no dia 3 a suspensão do racionamento a partir de sábado (4), mas informa em nota que "o rio Negro continua em nível crítico para a navegação e, com isso, é muito importante que todos mantenham uma conduta voltada para a economia de energia e água". É informado que o regime de racionamento pode ser acionado novamente dependendo do transporte do combustível.

Essa situação gerou diversos impactos no município, inclusive em serviços essenciais, como abastecimento de água. As escolas precisaram suspender as aulas.

Rede Wayuri
A Rede Wayuri de Comunicadores Indígenas é um coletivo de comunicação que atua na região do médio e alto Rio Negro, com apoio da FOIRN e do ISA.

Atualmente, o grupo conta com 19 integrantes nas áreas urbanas e em comunidades indígenas nas regiões de São Gabriel da Cachoeira, Santa Isabel do Rio Negro e Barcelos. Além disso, cerca de 50 colaboradores apoiam a Rede enviando informações em grupos de whatsApp ou por outros meios, como a radiofonia, quando não é possível acessar an internet.

A principal produção da Rede Wayuri é o programa de rádio Papo da Maloca, que vai ao ar todas as quartas-feiras, das 10h às 12h, na FM O Dia. Em seguida, o programa é editado pela comunicadora e coordenadora da Rede Wayuri, Cláudia Wanano, e fica disponível como o podcast Wayuri.

Em 2023, o coletivo também apoiou na iniciativa do Cine Japu, que promove exibições de filmes quinzenalmente em São Gabriel da Cachoeira. A Rede Wayuri pode ser acompanhada no Instagram https://www.instagram.com/rede.wayuri/.

Durante a seca, os comunicadores estão observando os impactos da estiagem e trocando informações sobre seus territórios. No alto rio Negro, a estação seca está apenas no início e deve se estender até o início de 2024, o que gera preocupação frente ao cenário que se vê em outras regiões do Estado.

https://www.acritica.com/amazonia/mobilizac-o-da-rede-wayuri-recolhe-se…

As notícias aqui publicadas são pesquisadas diariamente em diferentes fontes e transcritas tal qual apresentadas em seu canal de origem. O Instituto Socioambiental não se responsabiliza pelas opiniões ou erros publicados nestes textos. Caso você encontre alguma inconsistência nas notícias, por favor, entre em contato diretamente com a fonte.