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Misterio no litoral do Rio

CB, Brasil, p.11
13 de Dez de 2004

Um vazamento de petróleo a mais de mil metros de profundidade na bacia de Campos mobiliza o Ibama e a Marinha há quase um mês
Mistério no litoral do Rio
Ullisses Campbell
Da equipe do Correio
A Petrobras está há 25 dias tentando conter um afloramento de óleo na Bacia de Campos, no litoral do Rio de Janeiro. 0 vazamento, que ocorre a mais de mil metros de profundidade, foi identificado por robôs submarinos. Na semana passada, 12 embarcações foram mobilizadas para retirar as manchas do mar. Navios especiais do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e da Marinha também atuam para conter o vazamento.
Atualmente, segundo a Petrobras, dois barcos retiram o óleo que escapa de uma rocha localizada no fundo do mar. Segundo informou a empresa, tanto a Marinha quanto o Ibama recebem relatórios diários da Petrobras informando como está o vazamento de óleo.
Até sexta-feira a empresa do governo ainda desconhecia a verdadeira causa do vazamento. Segundo foi apurado até agora, há duas hipóteses. A primeira é que tenha ocorrido uma rachadura numa das paredes do poço MLS-107, que fica próximo à rocha que jorra óleo no mar. A segunda hipótese é que tenha ocorrido uma falha geológica natural.
A Petrobras está tentando identificar a causa do vazamento e já tomou algumas providências. 0 poço próximo ao afloramento, por exemplo, está desativado para recuperar a pressão (capacidade de jorrar petróleo). Antes de entrar em operação novamente, teve as paredes todas revestidas de cimento.
Segundo a Petrobras, não é possível quantificar o óleo que vazou nos 25 dias em que a rocha jorra petróleo no mar. A empresa garante que o vazamento está sob controle e que não há nenhum risco de dano ao meio ambiente. No entanto, na semana passada, dois aviões Hércules estavam de sobreaviso no base aérea de Brasília. A qualquer momento, eles poderiam ter de voar ao local para despejar produtos químicos que impedem que o óleo se espalhe no mar.
Mapa de óleo
Recentemente, o Ministério do Meio Ambiente concluiu o primeiro mapeamento das áreas do litoral brasileiro consideradas prioritárias para ações de combate a poluição de óleo. O atlas localiza praias, área de proteção ambiental, pesqueiros e rotas migratórias de aves e animais aquáticos. As praias do litoral do Rio de Janeiro, próximo da Bacia de Campos, área de atuação da Petrobras, foi identificada no atlas como de risco iminente de vazamento de óleo.
No mês passado, um acidente de grandes proporções também contaminou o mar. Mas daquela vez, a tragédia nada teve a ver com a Petrobras. Ocorreu quando o navio chileno Vicuña descarregava metanol no porto de Paranaguá (PR). A embarcação transportava 14,2 milhões de litros de metanol, dos quais 9 milhões já haviam sido descarregados no terminal, quando uma explosão na casa de máquinas partiu o navio ao meio. A empresa responsável pelo carregamento estima que cerca de 1,5 milhão de óleo combustível vazaram para o mar. Com as explosões o navio partiu ao meio e afundou logo em seguida.

Recordista em acidentes
A Petrobras é veterana em acidentes ecológicos. Em 2000, a empresa bateu o próprio recorde e despejou 5,8 milhões de litros de substâncias químicas na natureza. Só em janeiro daquele ano, um acidente na Baía de Guanabara (RJ) jogou 1,3 milhão de litros de óleo no meio ambiente.
Segundo a Petrobras divulgou no primeiro semestre, a ampliação das atividades da empresa fez com que a quantidade de óleo derramada no mar, baías e rios aumentasse 41% no ano passado. Segundo o último relatório da empresa, em 2002 vazaram 197 mil litros de óleo. No ano seguinte, subiu para 276 mil litros. A estatal pretende reduzir em 70% os casos de vazamento de óleo no meio ambiente nos próximos dez anos.
Nenhum órgão do governo computa a quantidade de óleo derramada na natureza. No Ibama, a justificativa é que esse acompanhamento deve ser feito pelos secretarias estaduais, que expedem a licença para as empresas funcionarem. Na Coordenação de Controle e Qualidade Ambiental do Ibama, consta que, em 2003, houve 28 derramamentos de óleo, envolvendo empresas de petróleo.
A organização não-governamental Ambiente Brasil monitora vazamentos de óleo no mundo todo. No Brasil, de acordo com o último relatório divulgado pela Ong, de 2000 até fevereiro deste ano foram registrados 56 acidentes ambientais. Isso representa um aumento de 400% em relação a década de 90. Em mais de quatro anos, vazamentos em dutos, navios e depósitos de rejeitos industriais despejaram 12,2 bilhões de litros de produtos químicos tóxicos em córregos, rios e terrenos. Em toda a década passada, foram 6 bilhões de litros.

CB, 13/12/2004, p. 11

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