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Ministro manteve cautela em diálogo com índios e assegurou que homologação tem que ser rápida

Brasil Norte-Boa Vista-RR
Autor: IVO GALLINDO
12 de Jun de 2003

Thomaz Bastos visitou três comunidades ontem: ouviu posicionamentos divergentes e afirmou que os direitos dos indígenas serão garantidos

Depois de reunir-se com lideranças políticas do Estado, ontem o ministro Marcio Thomaz Bastos ficou todo o dia em RaposaSerra do Sol

O ministro Márcio Thomaz Bastos (Justiça) mostrou-se empolgado no primeiro dia de visitas a comunidades da reserva Raposa/Serra do Sol. Visitou duas facções divergentes na sede do município de Uiramutã e passou a tarde na maloca do Maturuca, a principal ligada ao Conselho Indígena de Roraima (CIR), que defende a homologação em área contínua, com os 1,687 milhão de hectares. Afirmou, ao final, que os direitos dos índios serão garantidos pelo governo Lula.

De acordo com o ministro, os dois lados, favoráveis à Portaria 820/98 e contrários ao modelo proposto, estão pressionando muito, o que considerou ser salutar.
"Isso nos ajuda a formar uma convicção, não a respeito do direito constitucional dos índios, mas de como se pode fazer a homologação da reserva Raposa/Serra do Sol com o mínimo de dano possível, sabendo o sentimento de quem vive aqui. Ouvimos várias versões e queremos saber mais", frisou Márcio Thomaz Bastos.

Questionado se o conflito de posições pede urgência na definição, ele assegurou que sim. "Trata-se de algo que não pode demorar mais e que precisa ser decidido pelo bem das duas partes, de toda população de Roraima", enfatizou o ministro ao mesmo tempo em que revelou repassar esta informação ao presidente da República. Márcio Thomaz Bastos visita hoje as comunidades da Raposa e da Serra do Sol. À tarde, participa de audiência pública no Palácio da Cultura.

Discriminações
Com uma hora de atraso, Márcio Thomaz Bastos desembarcou em Uiramutã, após sobrevoar áreas de produção de arroz, Surumu e Água Fria. Foi recebido por 37 lideranças indígenas, entre elas, o tuxaua José Pereira da Silva 'Maçaranduba', de 105 anos, o mais antigo da localidade. Também estavam a vereadores do município, a prefeita Florany Mota e o vice José Novaes, que é índio macuxi. Todos defendem que a homologação exclua algumas áreas. José Novaes conversou por 10 minutos com o ministro, repassando-lhe que a maioria dos índios está integrada com os que moram na região e não querem o isolamento, mas o desenvolvimento humano através de atividades econômicas. Filho de Maçaranduba, o vice-prefeito enfatizou que a convivência no município é harmônica. "Discriminações podem gerar conflitos", alertou, denunciando que a Fundação Nacional do Índio (Funai) só atende comunidades ligadas ao CIR.

Debate
Márcio Thomaz Bastos conversou com representantes da comunidade no auditório de uma das escolas durante uma hora.
Os tuxauas foram incisivos em alertá-lo sobre a invasão internacional na região, o que se agravaria com a demarcação em área contínua. Dizem que, se isso acontecer, os povos indígenas ficariam abandonados. "Se perderá um pedaço da Nação, caso não se exclua o município, suas respectivas vilas e estradas", opinou o macuxi Humberto Brasil, líder da maloca Água Fria.

Detalhou que os próprios índios são impedidos de entrar em algumas localidades por facções associadas ao CIR. "Criam um clima de insegurança nacional, chegando ao absurdo de não aceitar a presença do Exército na fronteira", complementou Humberto Brasil, enquanto que o tuxaua Lauro Barbosa, da comunidade Flexal, externou o sentimento deste segmento. "Somos brasileiro e temos uma bandeira única. Portanto, deve-se atender à vontade de todos", resumiu.

Acerto
Depois de ouvi-los atentamente, Márcio Thomaz Bastos repetiu o discurso do encontro com a classe política. Afirmou ter vindo a Roraima a mando de Lula para identificar as aspirações, inquietações, angústias e desejos da sociedade local, especialmente das comunidades indígenas da Raposa/Serra do Sol.
"Não tenho uma resposta. Vamos levar nossa visão ao presidente, que não medirá esforços para acertar em sua decisão. Tenham esperanças em ver um desfecho justo", prometeu.

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