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Ministro constou divisão entre indígenas da reserva e levará isto ao presidente Lula

Brasil Norte-Boa Vista-RR
Autor: IVO GALLINDO
13 de Jun de 2003

Márcio Thomaz Bastos afirmou achar ser possível atender aos dois lados na homologação, que sairá com rapidez

Márcio Thomaz Bastos: "O pior que pode acontecer, para Roraima e para quem vive nesta reserva, é a demora na homologação, o que gera incerteza e insegurança"

O ministro da Justiça, Márcio Thomas Bastos, deixou Roraima convicto de que os índios estão divididos quanto ao modelo demarcatório da Raposa/Serra do Sol. Parte das comunidades, que são ligadas ao CIR e Igreja Católica, quer a homologação conforme definiu a Portaria 820/98. Outro grupo, representado por várias entidades, apresentaram propostas semelhantes às do governo estadual, excluindo algumas áreas da terra indígena.
Ao terminar no final da manhã de ontem, na comunidade Raposa, sua visita às malocas indígenas no norte do Estado, o ministro afirmou que a homologação acontecerá com rapidez, mas não fixou prazos.

Adiantou que analisará, a partir de hoje, as informações colhidas aqui para fazer uma ampla explanação ao presidente Lula, responsável pela definição de como será a reserva: com 1,687 milhão de hectares ou retirando-se uma pequena parcela.
"Nós ouvimos, praticamente, todas as posições, desde os favoráveis a uma solução como os que defendem outra. Levaremos ao presidente da República dados suficientes para que possa tomar a melhor decisão", reafirmou ao acrescentar ser diferente se olhar de Brasília e sentir a realidade. Voltou a dizer que a definição não prejudicará os índios, sem antecipar qual dos dois lados. "Vamos encontrar uma solução", resumiu o ministro.

Raposa
Cerca de dois mil índios recepcionaram Márcio Thomaz Bastos num ginásio da comunidade da Raposa, onde o sentimento dos indígenas é pela exclusão de municípios, vilas, rodovias, áreas de produção de arroz e propriedades com títulos definitivos do ato demarcatório da reserva. "Queremos que o presidente Lula dará uma decisão que atenda o anseio do povo que vive na região e no Estado", salientou Davi marcos, tuxaua da maloca Napoleão. O líder da comunidade, tuxaua Caetano Raposo, foi mais além ao pedir que o ministro da Justiça observasse a vontade dos que ali estavam reunidos. "Não desejamos olhar pra trás, ficar fixado no passado, mas ver e planejar o futuro". Entregou-lhe um documento, a Carta da Raposa, onde diz existir divergências de opiniões e peculiaridades naturais a serem respeitados: potencialidades diversas de desenvolvimento e como querem promovê-lo.

Tecnologia
As manifestações de outras lideranças seguiram o mesmo caminho. Os índios da Raposa, em sua maioria da etnia Macuxi, se dizem preparados para usar tecnologias do mundo moderno e acompanhar o progresso de Roraima em sintonia com toda a sociedade. Consideram que não perderão suas identidades ao serem advogados, engenheiros ou ocuparem cargos públicos relevantes. Só não aceitam 'acepções ou barreiras entre os povos brasileiros'.

Conflitos
O macuxi Silvestre Leocádio, presidente da Sodiurr, que reúne mais de 10 mil associados, exemplificou uma realidade discriminatória. Assegurou que seu povo, por exemplo, não pode entrar na reserva Ianomâmi, apesar de serem todos indígenas. "Com a demarcação em área contínua, haverá desagregação de etnias e conflitos. Não verdade, o índio daqui não precisa de terras, mas de apoio para produzir riquezas. É insto que queremos", declarou.

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