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Ministro admite racionamento se nível dos reservatórios cair para 10%

OESP, Economia, p. B5
23 de Jan de 2015

Ministro admite racionamento se nível dos reservatórios cair para 10%
Segundo Braga, com 10% de água nas represas, governo terá de tomar medidas; reservatórios do Sudeste e Nordeste tinham 17% nesta quinta-feira

Anne Warth e Eduardo Rodrigues - O Estado de S. Paulo

O ministro de Minas e Energia, Eduardo Braga, admitiu nesta quinta-feira, 22, pela primeira vez que o governo terá de adotar medidas de racionamento de energia caso o nível dos reservatórios das usinas hidrelétricas fique abaixo de 10%. Dados do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) mostram que os reservatórios estavam ontem em 17,43% na região Sudeste/Centro-Oeste e em 17,18% na região Nordeste.
"É claro que, se tivemos de tomar uma medida que seja prudencial, nós tomaremos. O limite é 10%", afirmou o ministro, ao ser questionado sobre em que momento o governo adotaria medidas de estímulo à economia de energia ou mesmo um racionamento.
"É obvio que se nós tivermos mais falta de água, se passarmos do limite prudencial de 10% nos nossos reservatórios, estaremos diante de cenário que nunca foi previsto em nenhuma modelagem", disse Braga. "A partir daí, teríamos problemas graves, mas estamos longe disso."
Braga afirmou que, se o nível atual dos reservatórios das hidrelétricas se mantiver, haverá energia suficiente para abastecer o País. Mas ele explicou que nenhuma usina hidrelétrica pode operar com reservatórios abaixo de 10% por conta de problemas técnicos que impedem o funcionamento das turbinas.
Caso o nível dos reservatórios das hidrelétricas fique abaixo dos 10%, Braga admitiu que o governo terá de adotar medidas de racionamento
Ainda assim, o ministro relatou que o ritmo hidrológico já atingiu o mínimo em diversas regiões do País e que, além da questão hidrelétrica, o abastecimento de água também preocupa o governo. Por isso, hoje haverá uma reunião na Casa Civil com representantes dos ministérios de Minas e Energia, de Meio Ambiente, de Ciência e Tecnologia e da Agência Nacional de Águas (ANA).
"Estamos traçando cenários com especialistas para estabelecermos planos. Temos de acompanhar a situação com atenção sem sermos otimistas nem pessimistas", afirmou Braga.
Argentina. Apesar de não ocorrer desde 2010, a importação de energia elétrica da Argentina pelo Brasil nesta semana foi classificada como "rotineira" por Braga. A opção por trazer eletricidade do país vizinho não decorreu de falta de suprimento nacional, mas da incapacidade de se trazer para o Sudeste a energia que sobrava no Nordeste. Nesta quinta-feira, pelo terceiro dia consecutivo, o Brasil importou energia da Argentina para complementar a oferta brasileira.
"O Brasil tem um acordo com a Argentina desde 2006. É uma operação normal, que sequer é tratada como compra de energia, mas como compensação", disse o ministro. "Trata-se de uma operação rotineira, não é extraordinária ou excepcional."
Ontem, pelo terceiro dia consecutivo, o Brasil importou energia da Argentina para complementar a oferta brasileira.
Na terça-feira, um dia depois do apagão que atingiu dez Estados e o Distrito Federal, o País comprou 998MWpara atender a demanda no horário de pico, às 14h48. Na terça, foram mais 798 MW, às 15h29. Os números de ontem só deverão ser revelados hoje.
Braga admitiu não ter sido informado da importação de energia no momento em que as operações aconteceram e garantiu que não falta eletricidade ao Brasil. "Havia uma sobra de 2,5 GWno Nordeste que, por limitações de transmissão, não tínhamos como trazer para o Sudeste. No total temos energia mais do que suficiente, mas para alguns lugares precisamos remanejar o suprimento." /
COLABOROU RENÉE PEREIRA

Dados do ONS mostram problema na oferta

O ministro de Minas e Energia, Eduardo Braga, tem justificado que falhas técnicas causaram o apagão da última segunda-feira e reafirmado que há sobras de energia no País. Mas os dados do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) são claros quanto à origem do blecaute que deixou dez Estados e o Distrito Federal sem luz: não havia energia disponível para atender ao pico de demanda. Em decorrência dessa limitação de geração, equipamentos entraram em pane e passaram a comprometer o abastecimento nacional.
As limitações de geração estão no acompanhamento diário feito pelo ONS. Para garantir o abastecimento do País, o regulador deve manter uma oferta de geração 5% superior à demanda projetada diariamente. Essa margem de segurança é o que permite administrar a oferta em momentos de pico de consumo. Ocorre que, atualmente, essa "sobra" tem ficado na casa dos 3%. Nesta semana, em várias situações, ela nem sequer existiu.
No dia do apagão, o ONS havia se programado para colocar 79.122 megawatt (MW) no sistema nacional de energia. Só que a demanda efetivamente registrada, segundo informações do operador, chegou a 79.553 MW- ou seja, no lugar de ter carga extra para garantir o atendimento, o parque nacional de geração ficou devedor em 431 MW.
Essa situação ocorreu no horário de "pico regulatório", entre as 17 horas e as 22 horas. Isso significa que, na prática, o saldo negativo foi certamente maior, já que os recordes de demanda de energia têm ocorrido entre as 14 horas e as 16 horas.
"Está claro que a queda da frequência alegada pelo governo é resultado dessa demanda de pico, que o governo não conseguiu atender", diz o especialista Claudio Salles, diretor do Instituto Acende Brasil.
Paliativo. A importação de energia da Argentina iniciada na terça-feira ajudou a atenuar o estresse na geração, mas não resolveu o problema. Na terça-feira e na quarta-feira, diversas regiões do País registraram índices de geração que comprometeram a margem de segurança do sistema.
Na quarta-feira, por exemplo, a Região Sul registrou demanda de 15.739 MW, superando os 15.726 MW que estavam programados. Essas limitações regionais ocorrem porque o setor elétrico tem restrições técnicas para fazer o intercâmbio de energia.
Duas semanas atrás, após encontro do Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico (CMSE), composto pela cúpula da área de energia, o governo garantiu que o País tem "sobra estrutural de cerca de 7.300 MW médios" e que não há falta de energia. Especialistas veem o discurso oficial com cautela.
"Há uma certa distância entre o que mostram os dados e as conclusões do governo. O ONS tem feito o que pode, mas é claro que hoje vivemos uma situação de absoluto estresse", diz o presidente da Comerc Energia, Cristopher Vlavianos.
No curto prazo, a situação não deve se alterar. "Está faltando potência, tanto que estamos buscando apoio fora do País e acionando o que temos ainda de térmicas", disse João Carlos Mello, presidente da consultoria Thymos Energia.

OESP, 23/01/2015, Economia, p. B5

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