CB, Política, p. 3
12 de Nov de 2004
Ministra se queixa ao presidente
André Carravilla
Da equipe do Correio
Um dia depois de o Palácio do Planalto ter se dobrado aos interesses dos ruralistas e aprovado na Comissão de Biossegurança o projeto que permite a plantação de transgênicos, a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, conversou com exclusividade com o Correio. Ela revelou ter falado com o ministro da Articulação Política, Aldo Rebelo, e o presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, sobre o assunto.Ontem ela ganhou o apoio da bancada do PT na Câmara.
Correio Braziliense - Qual sua avaliação sobre a forma como o projeto de biossegurança foi aprovado pela comissão?
Marina Silva - Nunca tinha visto alguém ser destituído de uma relatoria por pedir tempo. Mas pude conversar com deputados e haverá um esforço do governo para repor a relatoria para o deputado Renildo Calheiros (PCdoB-PE), para que ele apresente uma emenda no plenário.
Correio - Como a senhora viu o pedido do vice-lider do governo, Beto Albuquerque, para que a bancada votasse a favor do projeto ?
Marina - Conversei com o ministro Aldo Rebelo. Ele disse que não tinha autorizado o deputado Albuquerque a fazer qualquer menção ao nome dele.
Correio - O governo colaborou para aprovação do projeto em troca do apoio da bancada ruralista para destrancar a pauta da Câmara?
Marina - Há um esforço do governo na Câmara para que as medidas provisórias possam ser votadas. É claro que essa é uma articulação que passa pela liderança do governo, mas não tenho mandato para ficar falando pela liderança.
Correio - A senhora falou com o presidente ?
Marina - Falei. Ele me disse que ia conversar com o líder (Professor) Luizinho para podermos estar encaminhando adequadamente essa questão.
Correio - Por que ele não se pronuncia publicamente sobre esse assunto?
Marina - Isso você deve perguntar ao presidente da República.
Correio - Se esse projeto for aprovado em plenário a senhora deixa o cargo ?
Marina - Olha, eu sou uma pessoa que trabalha defendendo as minhas posições com muita convicção. Tenho sido extremamente ética nesse debate dentro e fora do governo. Eu compreendo que é uma situação delicada e todas as minhas posições são colocadas interna-corporis ao governo. Fora do governo qualquer coisa que eu diga nessa direção seria pelo menos um ato de desrespeito com o presidente, que me fez um convite tão honroso.
CB, 12/11/2004, Política, p. 3
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