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Mineração e siderurgia tentam deixar passado poluidor para trás

OESP, Economia, p. B20
13 de Abr de 2005

Mineração e siderurgia tentam deixar passado poluidor para trás
Investimentos expressivos em gestão ambiental ainda conferem maior competitividade às empresas

A mineração e a siderurgia brasileiras passam por um momento de grande produtividade, incremento nas exportações e lucros recordes, o que torna as empresas desses setores muito bem posicionadas no mercado internacional. Mas o bom momento não atenua uma batalha que as grandes mineradoras e siderúrgicas vêm travando há anos: se livrar do estigma que carregam de serem número um em poluição do ar, água e solo.
A evolução tecnológica, a necessidade de investimentos contínuos nesse campo e o surgimento de mecanismos legais de controle ambiental forçaram uma mudança nesse quadro. Além disso, há ainda as pressões de mercado, que obrigam as empresas a serem mais transparentes com os acionistas e a sociedade.
A Companhia Vale do Rio Doce - terceira maior mineradora mundial, com lucro de R$ 6,46 bilhões no ano passado -, cuja atividade depende diretamente da intervenção física no território, por exemplo, teve de se adaptar ao longo dos anos. Na década de 1970, antes do surgimento da Política Nacional de Meio Ambiente - que veio no início dos anos 1980 - os primeiros cuidados já começaram a ser tomados, por meio de uma engenharia de exploração mais avançada e mecanismos de controle e disposição de resíduos. A construção de barragens para minimizar a poluição das águas e a formação de pilhas de rejeitos em locais específicos datam dessa época.
Mas, se, por um lado, o impulso para os investimentos veio com a legislação ambiental, por outro, a necessidade de uma produção mais sustentável justifica os avanços. Em 1998, as 185 empresas integrantes do Conselho Mundial de Empresários para o Desenvolvimento Sustentável (WBCSD, na sigla em inglês) se comprometeram a assumir práticas menos impactantes em diferentes setores, mineração inclusa. A Vale foi uma das signatárias.
As áreas da empresa atualmente em processo de recuperação ambiental somam 422 hectares, em diferentes estágios. Há dois anos a empresa criou um guia de fechamento de minas que já é utilizado em diversos países e se tornou padrão internacional. O documento traz procedimentos e diretrizes para orientar os profissionais da área de planejamento de operação sobre a melhor forma de desativar uma mina e reabilitar o seu entorno. "Hoje já somos referência técnica no mundo todo", afirma Maurício Reis, diretor de Meio Ambiente da Vale.
Atualmente, o maior desafio da mineração é formular projetos de engenharia que se adaptem ao contexto das regiões em que estão inseridos. E que levem em conta as questões sociais associadas ao encerramento das atividades das minas. "Os estudos de viabilidade econômica para exploração de uma lavra têm de mostrar se a mina vai gerar lucro suficiente para custear o próprio fechamento", explica Reis. No balanço da empresa, figuram as provisões financeiras para fechamento de minas para os próximos dez anos, valor que atualmente é de US$ 134 milhões. "O acionista de amanhã deverá ter o mesmo resultado que tem o acionista de hoje. Ele não pode receber o passivo do lucro atual", diz.
O bom posicionamento nas questões ambientais já está se convertendo em uma unidade de negócios à parte. Desde 2001, a empresa mantém em Linhares (ES) o Instituto Ambiental Vale do Rio Doce, que emprega 350 funcionários e se tornou um centro de tecnologia florestal. Lá, são produzidas anualmente 6,5 milhões de mudas de espécies brasileiras, e os profissionais fornecem consultoria em reflorestamento para empresas e instituições do País inteiro.
Pesquisa
A Usiminas, cujo lucro líquido em 2004 ultrapassou os R$ 3 bilhões, afirma que, desde a inauguração da usina em Ipatinga (MG), em 1962, a questão ambiental já era motivo de preocupações, embora à época ainda nem existissem os requisitos ambientais. Entre os investimentos realizados para o início das operações, vieram equipamentos que já continham mecanismos para amenizar a poluição, explica o gerente-geral da Usiminas, Rômel Erwin de Souza. "Nossos primeiros equipamentos, de procedência japonesa, já vieram com tecnologias ambientais, basicamente filtros contra a poluição atmosférica e para tratamento de efluentes", explica. Dos anos 1960 até hoje, foram R$ 1,3 bilhão em equipamentos de proteção ambiental.
Com o aumento das pressões para adequação às leis ambientais, os investimentos foram crescendo, em especial em pesquisa e desenvolvimento de processos mais limpos. A empresa mantém um Centro de Pesquisas e Investigação Científica, onde são estudados os processos e produtos com maior eficiência ambiental. "Hoje, o grande desafio da siderurgia é o pleno aproveitamento dos recursos naturais, com mínima geração de resíduos. Por isso, são necessários os investimentos em pesquisa", diz Souza.

Privatização trouxe mais eficiência à indústria do aço
Rumo à expansão, CST mantém bons indicadores ambientais
O processo de privatização na siderurgia brasileira, ocorrido na década de 1990, foi mais um fator decisivo para a melhoria das práticas ambientais. Com estrutura mais enxuta e livres dos "vícios" da máquina estatal, as empresas tornaram-se mais eficientes e competitivas no mercado externo.
"A adequação a padrões mais elevados de gestão ambiental ajudou a definir a competitividade das empresas, até pelo alto consumo de água e energia elétrica nesse setor", explica Fernando Almeida, presidente do Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS). Este foi um diferencial importante em relação, por exemplo, às siderúrgicas americanas.
A Companhia Siderúrgica de Tubarão (CST) - a caçula entre as grandes usinas brasileiras, com 21 anos de operação e privatizada há 13 anos - percebeu logo que a gestão ambiental eficiente seria um diferencial competitivo. Às voltas com sua expansão, que consumirá US$ 1,2 bilhão até 2006 e permitirá aumentar a produção de 5 milhões de toneladas de aço/ano para 7,5 milhões/t/ano, a empresa capixaba mantém indicadores invejáveis nesse campo.
Atualmente, 96% da água utilizada pela empresa - 39 mil metros cúbicos/hora - vem do mar e é dessalinizada para uso nos processos industriais. A água doce responde pelos 4% restantes (2 mil m3/hora), e 97% desse volume é reutilizado internamente.
Hoje, a siderurgia brasileira já trabalha com um reaproveitamento expressivo dos resíduos do processo de produção do aço, e obtém lucros com isso. A CST chegou a um índice de reaproveitamento de 99%, sendo que a média da siderurgia brasileira é 80%.
"O cenário ideal seria não produzir resíduos. Como isso ainda não é possível, procuramos reutilizar internamente a maior parte possível, e a outra parte passa por enobrecimento e é comercializada", explica Robson de Almeida Melo e Silva, gerente de Meio Ambiente da CST. A escória da aciaria, principal resíduo do processo siderúrgico, é 100% comercializada. É usada como insumo para cimenteiras e também como lastro ferroviário pela Vale do Rio Doce. A Acerita, escória de aciaria tratada da CST, é também usada como base para pavimentação de estradas. O alcatrão é comprado pela indústria carboquímica e a lama de alto-forno é usada em cerâmicas. A venda desses co-produtos já confere à empresa uma receita adicional de US$ 28 milhões.
Para Silva, o bom desempenho ambiental da CST, além de abrir mercados, dá à empresa maior poder de fogo na negociação de financiamentos. "É a prova de que desempenho econômico e ambiental não são excludentes", afirma.

OESP, 13/04/2005, Economia, p. B20

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