O Globo, O Pais, p.5
15 de Fev de 2005
Milhares de pessoas velam missionária no Pará
BELÉM E ALTAMIRA. O corpo de Dorothy Stang foi levado de avião de Belém para Altamira às 8h de ontem, depois de ser velado domingo à noite no bairro do Guamá, na periferia de Belém, próximo à sede das Irmãs Notre Dame, a ordem religiosa da missionária. Centenas de pessoas acompanharam o velório em Belém. A missa foi celebrada às 4h pelo arcebispo metropolitano de Belém, Dom Orani Tempesta.
Em Altamira, uma carreata acompanhou o caixão até a igreja da Imaculada Conceição. Mais de cinco mil pessoas assistiram à missa de corpo presente e, em seguida, cerca de duas mil foram ao aeroporto acompanhar o embarque do corpo.
Trabalhadores de toda a Transamazônica foram ao velório que teve ainda a presença de muitos religiosos. Uma bandeira brasileira foi posta sobre o caixão da missionária. Chegou a se pensar em levar, em carreata, o corpo de Altamira a Anapu, distante cerca de 140 quilômetros. Mas o governador do Pará, Simão Jatene, cedeu um avião.
Prefeita lembra empregos gerados por madeireiras
A prefeita de Altamira, Odileide Sampaio, afirmou que o crime é o resultado de diversas imprecisões a respeito de como se usar as terras da região.
A indústria madeireira é o setor que mais emprega na região. Então temos que observar com cuidado a melhor forma de resolver os problemas econômicos locais disse ela.
Embaixador dos EUA cobra resolução
BRASÍLIA. Apesar de elogiar as iniciativas das autoridades policiais na investigação da morte da missionária Dorothy Stang, o embaixador dos Estados Unidos no Brasil, John Danilovich, cobrou a elucidação do crime. Ele lamentou a morte da freira e classificou o caso como brutal e insano. Em nota, informou que a embaixada acompanhará as investigações de perto.
A embaixada dos EUA está acompanhando a investigação de perto, e sente-se encorajada pela rápida reação do governo brasileiro e da Polícia Federal. Estamos confiantes de que haverá investigação completa e detalhada desse assassinato e que os responsáveis serão trazidos perante a justiça, diz.
CNBB: religiosa foi vítima da luta dos pobres pela terra
A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) também divulgou nota e o presidente da entidade, dom Geraldo Majella Agnello, afirmou que a religiosa foi mais uma vítima da luta dos pobres pela terra para trabalhar e viver da preservação da natureza. Este vil assassinato, como tantos outros, que não são divulgados, traz novamente à tona, de maneira trágica, a questão da violência no campo e a urgência de soluções para dívidas sociais tão antigas e graves, afirmou dom Geraldo.
O presidente da OAB, Roberto Busato, também cobrou a punição rigorosa dos culpados e comparou a situação no estado com o Oriente Médio. A Anistia Internacional pediu um fim para o derramamento de sangue.
PDS é alternativa aos assentamentos comuns
BRASÍLIA. Defendido pela missionária Dorothy Stang, o Projeto de Desenvolvimento Sustentável (PDS) é uma alternativa aos projetos de assentamentos convencionais do Incra, adaptado para a região amazônica. Criado em 1999, o PDS era uma antiga reivindicação dos movimentos sociais, em especial dos ambientalistas. O modelo associa assentamento em área de preservação, com projetos de desenvolvimento sustentável, que não degradam o meio ambiente.
O assentamento onde Dorothy foi morta, de três mil hectares, surgiu em 2004 e era uma reivindicação antiga dos sem-terra. Fazendeiros tentam na Justiça reaver parte da área e chegaram a obter uma liminar. A freira morreu quando discutia a criação de uma cooperativa de assentados.
Nos PDS, são permitidos apenas planos de manejo sustentável e projetos alternativos, como, por exemplo, apicultura ou exploração do cipó para artesanato. Os projetos criados até hoje são em lugares que permitem ao assentado explorar espécies madeireiras e frutíferas. Também podem ser explorados seringais, castanhais e outras plantações que não agridem o meio ambiente.
O Globo, 15/02/05, O País, p.5
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