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mil pessoas vivem isoladas no Pantanal

Correio do Estado-Campo Grande-MS
20 de Jul de 2003

Morar em uma localidade que não oferece energia elétrica ou água encanada. Cavalgar cerca de seis horas para pegar um barco e enfrentar outras dezesseis horas de viagem até chegar à cidade mais próxima. Embora dê a impressão de ser uma cena de séculos atrás, o cenário ainda existe e é enfrentado atualmente por aproximadamente 4 mil pessoas que vivem em 51 localidades no Pantanal, em Corumbá.
A dificuldade no acesso é o fator que mais chama atenção, principalmente para quem mora em grandes centros urbanos e está habituado a utilizar diversas formas de transporte. Cavalo e embarcações, conhecidas como lanchas, são para os pantaneiros os meios de locomoção mais comuns.
Eles vivem isolados da cidade, o maior contato com a civilização é através de programas de rádios específicos para troca de avisos entre parte dos familiares que moram em Corumbá e os que ficaram nas fazendas, sítios e ranchos.
Os problemas começam com as distâncias, que não são medidas em quilômetros, mas em hora que passam dentro de barcos para chegar até o local. Aí surge um componente curioso, porém de fácil explicação, segundo os pantaneiros. A viagem de ida até Corumbá dura menos tempo que a volta. Quando parte para a cidade a embarcação desce o rio com pouco peso, ao retornar é preciso subir o rio com os bagageiros lotados das mais variadas mercadorias.

Viagens caras
Uma das maiores distâncias é percorrida pelos índios guatós, que vivem em uma reserva na Ilha Ínsua. "Com o nosso barco, o Guató I, gastamos 20 horas para ir até Corumbá e 30 horas para voltar, no total do percurso só de combustível o gasto fica em 900 litros", explicou o cacique Severo, 65 anos, líder da comunidade indígena.
Não são todos que possuem embarcações próprias, como os índios, e nestes casos é preciso pagar pelo serviço prestado. Os valores variam muito e a alta quantia cobrada gera reclamações.
"Não há controle sobre os preços praticados, os donos de lanchas cobram entre R$ 40 e R$ 45, além do acréscimo de mercadoria que a gente carrega, são poucos os que cobram valores entre vinte e trinta reais", denunciou Adevanir Estigarribia, 53 anos, que mora em um pequeno sítio na região do Palmital.
Além do preço que considera alto pelas viagens, Estigarribia lembrou que a "lancha" passa uma vez por semana e para conseguir pegá-la, precisa andar a cavalo até o Porto do Amolar por aproximadamente seis horas. Lá entrega o animal para o acompanhante de viagem que retorna para a propriedade, que divide com outros seis familiares. "Quando volto, aviso pelo rádio para me esperarem no porto com o cavalo".

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