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Microalga ameaca Lagoa de Araruama

OESP, Vida, p.A13
11 de Jul de 2005

Microalga ameaça Lagoa de Araruama
No Rio, a maior laguna hipersalina do mundo está sendo afetada pela poluição e sua água fica mais escura a cada dia
Clarissa Thomé
A Lagoa de Araruama, a maior laguna hipersalina do mundo, com 220 quilômetros quadrados de extensão e que abrange seis municípios da Região dos Lagos, está sucumbindo à poluição. O espelho d'água, que já foi cristalino, ganhou um tom marrom escuro há cerca de 40 dias, depois que a lagoa foi invadida por uma espécie de microalga ainda não identificada pelos pesquisadores.
O fenômeno foi registrado pelo ambientalista Ernesto Galiotto, que fez três sobrevôos na região nos últimos 20 dias. "O preocupante é que a cada dia a água está mais escura, mais turva. O cheiro está diferente. Até os biguás sumiram. A morte dessa lagoa não representa apenas a falência ambiental, mas do turismo, dos pescadores que trabalham ali há cinco séculos", afirmou Galiotto.
A lagoa abrange os municípios de Saquarema, Araruama, Iguaba Grande, São Pedro da Aldeia, Cabo Frio e Arraial do Cabo e já foi conhecida pela transparência da água. Desde a década de 70, com o crescimento da região e o despejo de esgoto na lagoa, a cor da água foi se modificando. No fim dos anos 90, ganhou tom esverdeado.
Há cerca de 40 dias, uma espécie de alga avermelhada entrou pelo Canal de Itajuru, única ligação da lagoa com o mar. A temperatura alta e o excesso de nutrientes contidos no esgoto lançado fizeram com que a alga se proliferasse. Em três dias, a lagoa inteira foi colonizada. "A lagoa chegou ao estado de eutroficação, que é o limite para depurar o esgoto. Chegamos a suspeitar que a lagoa tivesse sido atingida pela maré vermelha, formada por algas tóxicas, mas isso não se confirmou", disse Luiz Firmino Martins Pereira, secretário executivo do Consórcio Lagos/São João, que reúne 12 prefeituras da região, o governo do Estado, 54 ONGs e empresas da região.
Firmino informou que foram compradas redes para fitoplânctons que permitem a coleta de partículas para análises da espécie que dominou a lagoa. Para ele, o remédio é um só: interromper o despejo de esgoto. De acordo com Firmino, dois terços dos lançamentos já são tratados. A expectativa é de que até o fim do ano 80% do esgoto tenha passado por tratamento antes de ser despejado na água. O Canal de Itajuru também está sendo dragado para a duplicação de uma ponte. A expectativa de Pereira é de que a lagoa volte à situação normal até o verão de 2007.
O biólogo Manildo Marcião de Oliveira, doutorando em Bioquímica Toxicológica pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro, pesquisa o fenômeno na Lagoa de Araruama e disse que ainda não é possível precisar a espécie que proliferou na região. "É uma microalga, que ainda não demonstrou ser tóxica, já que não houve mortandade de peixes, mas o que não quer dizer que não vá ocorrer aumento da toxicidade ao longo do tempo", afirmou.
Pescadores que atuam na região estão preocupados com a nova coloração da água. "Vivo aqui desde 1958 e nunca vi a lagoa dessa cor. Não tivemos mortandade de peixes, mas o pescado está escasseando. O camarão sumiu", disse o pescador Nilzio Chagas dos Santos, de 58 anos.

OESP, 11/07/2005, p. A13

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