VOLTAR

México quer que emergentes colaborem em fundo do clima

OESP, Vida, p. A20
19 de Ago de 2009

México quer que emergentes colaborem em fundo do clima
Brasil diz que vai analisar proposta mexicana de Fundo Verde Mundial

Afra Balazina

A disponibilidade de recursos é um ponto-chave para combater o aquecimento global. Mas a maneira como será financiada a redução da emissão de gases de efeito estufa, que provocam o aquecimento global, ainda provoca impasses.

Nas negociações internacionais, os países em desenvolvimento exigem que os ricos financiem o corte de emissões dos mais pobres. Mas o México propõe algo diferente: a criação de um Fundo Verde Mundial, com a contribuição tanto dos países desenvolvidos quanto dos emergentes.

A ideia é que países com maior Produto Interno Bruto (PIB) coloquem mais dinheiro no fundo. Para retirar recursos, a lógica é inversa: quanto mais pobre, mais recebe.

"Será difícil definir metas em Copenhague, em dezembro, se não houver um acordo internacional sobre como a política climática será financiada", afirmou ao Estado Enrique Lendo, chefe da área de relações internacionais da Secretaria de Meio Ambiente e Recursos Naturais do México.

O fundo complementaria, de acordo com ele, o Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL) do Protocolo de Kyoto. Pelo MDL, os países ricos podem comprar créditos de carbono de países pobres.

O Fundo Verde Mundial funcionaria principalmente com recursos públicos. "Tivemos um retorno positivo de que a ideia é abrangente e inclusiva", disse Lendo.

O embaixador extraordinário para a mudança do clima do Brasil, Sérgio Serra, afirma que a proposta do México contraria a Convenção do Clima das Nações Unidas (pela qual os países industrializados devem custear as ações para cortar emissões nos demais países).

"É difícil que o grupo do qual o Brasil faz parte (G77 + China) apoie. Mas, realisticamente, poderá ocorrer uma mistura das diferentes propostas de financiamento em Copenhague", disse.

No fundo mexicano, o Brasil teria um ganho líquido (receberia mais recursos do que colocaria).

Ontem, em razão da visita do presidente mexicano, Felipe Calderón, ao Brasil, os dois países soltaram um comunicado conjunto. No documento, "sublinharam a urgente necessidade de ampliar a escala de recursos disponíveis para enfrentar os efeitos adversos da mudança climática" e "acordaram seguir considerando as propostas de estabelecer mecanismos de financiamento internacional".

Facilitador

Para o professor Eduardo Viola, da Universidade de Brasília, o presidente Calderón internalizou no país a importância da questão climática. Em 2007, criou um plano para guiar o país para uma economia de baixo carbono - o que o Brasil fez em 2008. "O México adotou uma postura de facilitador para o acordo em Copenhague", afirmou.

''Falamos pouco, fazemos muito''

Herton Escobar

O diplomata Qian Guoqiang invoca uma espécie de provérbio chinês para descrever a atitude de seu governo em relação ao aquecimento global. "Nós falamos pouco e fazemos muito: essa é a tradição chinesa. Os países desenvolvidos falam muito, mas fazem muito pouco", disse, ao Estado. "Somos os que mais contribuem para o combate às mudanças climáticas, mas ninguém reconhece. Só dizem que somos o maior poluidor do mundo."

Mesmo sem ter obrigação de reduzir suas emissões (por ser um país em desenvolvimento), a China possui um plano de "desenvolvimento de baixo carbono" que deverá evitar a emissão de 1,5 bilhão de toneladas de CO2 entre 2005-2010, segundo Guoqiang. A meta de redução da União Europeia no Protocolo de Kyoto, comparativamente, é de 350 milhões de toneladas.

Ele deixa claro, porém, que seu país não aceitará metas internacionais de redução de emissões. "O direito dos países em desenvolvimento de se desenvolver precisa ser honrado", disse, reconhecendo que isso implicará aumento de emissões. "Nós é que vamos decidir como contribuir. Todas as ações serão nacionais, determinadas por nós." Mais informações sobre a posição chinesa no blog do jornalista Herton Escobar (blog.estadao.com.br/blog/herton) no site estadao.com.br.

OESP, 19/08/2009, Vida, p. A20

As notícias aqui publicadas são pesquisadas diariamente em diferentes fontes e transcritas tal qual apresentadas em seu canal de origem. O Instituto Socioambiental não se responsabiliza pelas opiniões ou erros publicados nestes textos. Caso você encontre alguma inconsistência nas notícias, por favor, entre em contato diretamente com a fonte.