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Meta de redução de emissões para 2020 deve ser cumprida

Valor Econômico, Especial, p. A14
Autor: CHIARETTI, Daniela
21 de Ago de 2014

Meta de redução de emissões para 2020 deve ser cumprida

Por Daniela Chiaretti
De São Paulo

O Brasil deve cumprir sua meta de redução de emissões de gases-estufa em 2020 em função da queda do desmatamento e de a economia não estar crescendo no ritmo que era previsto. Todos os outros setores da economia - agricultura, energia, indústria -, no entanto, têm tendência crescente em suas emissões e devem chegar a 2020 em curva apontando para cima. O problema é que o Brasil, um dos dez maiores emissores do mundo, não está se preparando para os cortes profundos de redução de carbono que deverá ter que fazer a médio e longo prazo.
Essa leitura faz parte dos relatórios de análise do Sistema de Estimativa de Emissão de Gases do Efeito Estufa (Seeg) divulgados ontem, na Fundação Getúlio Vargas, em São Paulo. Trata-se de um panorama geral das emissões brasileiras feito por pesquisadores da sociedade civil. O Seeg analisa os dados de emissões brasileiras cruzando múltiplas fontes de informação. É apoiado pela rede de ONGs Observatório do Clima.
O compromisso brasileiro, acertado em 2009, é de cortar entre 36% a 39% das emissões de gases-estufa em 2020, em relação aos níveis de 1990. Trata-se de uma meta voluntária e não obrigatória. Tudo pode mudar, no entanto, a partir de 2020. Em 2015, em Paris, espera-se que seja fechado um acordo climático global para vigorar depois de 2020. Espera-se que neste novo cenário, os grandes emissores tenham que fazer profundos cortes e reorientar suas economias para uma rota de baixo carbono.
Para manter o aumento da temperatura em dois graus até o fim do século, os cientistas dizem que as emissões globais deveriam se estabilizar em torno a 2020 e ter uma queda forte dali para frente. A tendência brasileira não é essa.
"As emissões brasileiras caíram, é verdade. Mas agora todos os sinais são de que vão voltar a crescer e chegarão a 2020 apontando para cima", diz Tasso Azevedo, coordenador do Seeg. "O Brasil é uma economia média, país industrializado e um dos grandes emissores. Teria que estar se preparando de outra forma para o pós-2020."
Nos últimos 14 anos, a evolução das emissões brasileiras passou por três momentos em comparação às emissões globais. Entre 1990 e 1997 cresceram em ritmo maior que as mundiais. De 1998 e 2004 o compasso brasileiro acompanhou o global. Depois de 2005 as emissões brasileiras apresentaram forte redução, enquanto as globais crescem. O motivo foi o controle do desmatamento.
Nos anos 90, as emissões por desmatamento significavam 70% ou mais das emissões brasileiras. Isso caiu para 32% em 2012. "Quando os dados das emissões são reorganizados buscando identificar as atividades econômicas que originam as emissões, observamos que o setor agropecuário é a principal fonte de emissões no Brasil respondendo por 64% das emissões", diz o relatório.
A indústria é a segunda maior fonte -19% do total. Transportes vem em terceiro lugar, com 14% - tudo isso originário no consumo de combustíveis fósseis.
"Tivemos avanços interessantes, mas não temos visão de longo prazo", diz Carlos Rittl, secretário-executivo do Observatório do Clima.
Segundo o relatório, as políticas públicas brasileiras não estão alinhadas com o compromisso assumido pelo Brasil. "Ainda não resolvemos completamente o problema do desmatamento nem na Amazônia nem nos outros biomas", diz Rittl. "O setor de energia tende a ser nossa principal fonte de emissões. "
Embora o Brasil tenha o Plano de Agricultura de Baixo Carbono, uma referência para outros planos setoriais, ele é muito tímido em relação aos investimentos totais do Plano Agrícola e Pecuário. Apenas 3% dos recursos investidos na agricultura e pecuária em 2012/2013 foram direcionados especificamente à agricultura de baixo carbono.
"Quando se faz um leilão de energia com termelétrica a carvão, ou se concentram investimentos na indústria de combustíveis fósseis, gera-se uma contratação de emissões por, pelo menos, 30 a 40 anos", alerta o estudo.
O relatório faz recomendações para reverter esse cenário: zerar o desmatamento, neutralizar as emissões do setor agrícola, reverter a tendência de queda na participação de fontes renováveis de energia na matriz brasileira. "O que custa caro não é reduzir emissões. Vamos pagar um preço alto, porque o Brasil é muito vulnerável à mudança climática e não estamos preparando nossa economia para que seja mais competitiva no mundo do baixo carbono", diz Rittl.

Valor Econômico, 21/08/2014, Especial, p. A14

http://www.valor.com.br/brasil/3662108/meta-de-reducao-de-emissoes-para…

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