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Mercado aprova leilão, mas acha que apagão não está descartado

OESP, Economia, p. B7
12 de Out de 2006

Mercado aprova leilão, mas acha que apagão não está descartado
Venda de energia garante abastecimento até 2011, mas somente se o País continuar a crescer pouco

Teresa Navarro, Renée Pereira

O leilão de energia nova realizado ontem foi considerado positivo por especialistas do setor porque garantiu 99,6% da oferta necessária para suprir quase toda a demanda de 2011 e ter conseguido despertar o interesse dos investidores. 'O resultado do leilão mostra que o novo modelo do setor elétrico passou no teste', diz o professor do Instituto de Economia da UFRJ, Edmar Fagundes de Almeida.

Ao mesmo tempo, os especialistas acreditam que não se pode afirmar que o Brasil está livre do risco de escassez nos próximos cinco anos, pois pode faltar gás natural para as térmicas. 'O leilão garante que haverá capacidade instalada para atender a demanda até 2011, mas não há certeza se as usinas terão condições de gerar toda essa energia', afirma Almeida.

Para participar do leilão, as térmicas precisam provar que têm lastro de combustível. No leilão de ontem, foi vendida energia de nove termoelétricas, no total de 535 megawatts (MW) médios, sendo menos da metade, 200 MW, de térmica a gás, vendida pela Usina Macaé, da Petrobrás.

Mas o que preocupa é que nos últimos meses o Operador Nacional do Sistema (ONS) determinou o funcionamento de termoelétricas a gás natural e elas não atenderam à ordem por falta de combustível.

'Por enquanto, não precisamos usar as térmicas, mas, se o Brasil crescer em torno de 4%, em 2008 ou 2009 elas serão importantes para complementar a oferta', diz Almeida. Nesse caso, há o risco de não haver gás suficiente, já que o Brasil não pode contar mais com a expansão do gasoduto Bolívia-Brasil.

O professor do Instituto de Energia da USP, Edmilson Moutinho dos Santos, lembra também que a situação dos reservatórios é bem melhor hoje que a do racionamento de 2001. 'De 1998 a 2001, os reservatórios baixavam e não conseguiam se recuperar na época de chuvas, pelo excesso de geração; por isso, houve o racionamento', diz. Hoje, segundo Santos, os níveis estão altos e 'ainda temos as termoelétricas''

A forte presença de termoelétricas nos leilões, porém, tem sido duramente criticada. Do total da energia vendida, 569 MW médios foram ofertados pelas usinas hidrelétricas, representando 52% da demanda. O restante foi atendido pelas térmicas. A proporção é mais ou menos a mesma do último leilão.

'Para um País com vocação hídrica, é muito pouco', afirma de Ericson de Paula, diretor-executivo da DCT Energia. Isso sem contar que boa parte da participação veio de hidrelétricas antigas. Mesmo criticando a pouca participação de hidrelétricas, Paula acredita que o leilão foi positivo por atender à demanda do mercado.

Para o secretário de meio ambiente de São Paulo, José Goldemberg, 'o resultado pode ser considerado bom, mas falar que o País está livre de racionamento é um pouco exagerado'. Segundo ele, o ponto positivo do leilão foi a outorga de usinas térmicas movidas a bagaço de cana. Foram 5 de um total de 9 leiloadas. 'Pelo menos não teve usina a carvão.'

INVESTIMENTO

Uma crítica do secretário é que o fato de a demanda estar 100% contratada não assegura que não haverá escassez de energia. Isso porque muita coisa pode ocorrer em cinco anos, especialmente se o País crescer acima do esperado.

Outro ponto negativo do leilão foi o fato de o montante de energia que as distribuidoras contrataram para 2011 ficou 37% abaixo da demanda contratada para 2010 e muito abaixo das estimativas da EPE no Plano Decenal 2006-15. O total contratado foi inferior até ao observado nos últimos 12 meses, que tem ficado em torno de 1.600 MW médios, conforme dados do ONS, num período em que a expansão do PIB tem sido baix.

O total de investimento nas usinas leiloados na terça-feira é de R$ 4,9 bilhões, informou ontem a Empresa de Pesquisa Energética (EPE). Desse total, 24% é dinheiro estatal e 76%, privado. O presidente da Associação Brasileira dos Investidores em Autoprodução de Energia Elétrica (Abiape), Mário Luiz Menel da Cunha, diz que esse volume seria muito maior se as regras fossem mais favoráveis aos autoprodutores.

Ele afirma que as empresas representadas pela entidade têm R$ 3 bilhões por ano para investir. Especialistas alertam que o setor precisa de ajustes para atrair investidores. Segundo um relatório do Banco Brascan, para afastar o risco de racionamento é preciso dar andamento ao Proinfa, programa de incentivo a fontes alternativas, melhorar a execução das obras e pôr em prática os projetos do Rio Madeira e Belo Monte até 2015.

PRÓS E CONTRAS

Edmar F. de Almeida
Professor da UFRJ

'O leilão garante que haverá capacidade instalada para atender a demanda até 2011, mas não há certeza se as usinas terão condições de gerar toda essa energia'

'Por enquanto, não precisamos usar as térmicas, mas, se o Brasil crescer em torno de 4% ao ano, elas serão importantes para
complementar a oferta'

OESP, 12/10/2006, Economia, p. B7

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