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Menos vida no mar

O Globo, Ciência, p. 34
04 de Abr de 2007

Menos vida no mar
Mais da metade dos recifes de coral está degradada além da recuperação

Steve Connor

Mais da metade dos recifes de coral do mundo está degradada além do ponto de recuperação, de acordo com um novo estudo global. As descobertas sugerem que seria necessário ter uma área adicional de corais que fosse quatro vezes maior do que a Grande Barreira de Corais da Austrália - o maior desses sistemas - para manter de forma sustentável os atuais volumes de pesca.

Se a exploração comercial dos corais tropicais continuar no ritmo atual, muitos dos recifes serão irreversivelmente degradados e milhões de pessoas terão que procurar novas fontes de alimento, afirmaram os cientistas.

Os recifes são importantes para o equilíbrio da vida marinha porque é junto deles que boa parte das espécies se reproduz.

- Milhões de pessoas dependem da pesca em áreas de recifes de corais. Estamos enfrentando uma crise global nas comunidades que têm alternativas limitadas de sustento e fontes de alimento - afirmou Katie Newton, da Universidade de East Anglia, no Reino Unido.

- Atravessamos uma crise de segurança alimentar já que 30 milhões de pessoas no planeta dependem inteiramente dos recifes de corais para o seu sustento e alimentação.

Pesca é insustentável em 55% das ilhas
O estudo apontou que 55% das 49 nações insulares que registram seus volumes de pesca estão pescando de forma insustentável. Ou seja, retiram do mar mais peixes, moluscos e crustáceos do que os recifes são capazes de repor.

Os cientistas estimam que o volume de peixe capturado em áreas tropicais de recifes de corais é 64% superior do que seria considerado razoavelmente sustentável. Isso significa que seria necessária uma área adicional de corais de 75 mil quilômetros quadrados - 3,7 vezes o tamanho da Grande Barreira de Corais - para que os atuais volumes de pesca fossem sustentáveis.

Até 2050, o aumento da população humana nas áreas tropicais do planeta triplicará as pressões sobre a pesca. Além disso, as áreas de coral continuarão sofrendo outras ameaças, sobretudo por conta da poluição e do aquecimento global, que já provocam o fenômeno do branqueamento e morte dos corais.

O novo estudo, publicado na revista "Current Biology", sugere que a pressão sobre os corais fará com que muitas ilhas hoje habitadas sejam abandonadas ao longo do século XXI porque sua população não poderá mais contar com nenhum tipo de sustento.

A pesquisa também alerta que os números de pesca podem estar sendo subestimados já que os volumes capturados podem não estar sendo inteiramente registrados. Isso levaria a um quadro ainda mais grave.

Nick Dulvy, do Centro para Ambiente, Pesca e Aquacultura de Lowestoft, disse que a exploração não fiscalizada de peixes em áreas de coral levará a graves problemas sociais e econômicos.

- Além da pesca excessiva, a sustentabilidade também pode ser influenciada pelo impacto do aquecimento global: o potencial abandono de áreas insulares em razão do aumento do nível do mar e a perda da produtividade dos corais devido ao branqueamento - afirmou Dulvy. - Por isso, formas alternativas de sustento são essenciais para aqueles que atualmente dependem da pesca em áreas de recifes de corais.

Um quinto dos recifes já foi aniquilado
Estima-se que existam 284 mil quilômetros quadrados de corais tropicais no mundo e que mais de 20% desse total já tenha se perdido nas últimas décadas. Calcula-se que pelo menos outros 26% estejam sob ameaça imediata de alcançar um ponto irreversível, afirmou Katie. A pesca em pequena escala poderia ser sustentável, mas o crescimento populacional e a disseminação de métodos não sustentáveis de pesca - como o uso de dinamite, por exemplo - causam danos irrecuperáveis aos corais.

- O que estamos vendo, em primeiro lugar, é o desaparecimento dos peixes maiores, os predadores, do ecossistema. Quando eles somem, vários efeitos em cascata são registrados - apontou Katie. - A degradação dos corais chegou a um ponto em que está ocorrendo uma simplificação da cadeia alimentar. Isso não é sustentável.

O Globo, 04/04/2007, Ciência, p. 34

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