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Menos Brasileiros têm fome

CB, Brasil, p. 15
26 de Nov de 2003

Menos Brasileiros têm fome
Relatório divulgado pela Organização das Noções Unidas para a Alimentação e a Agricultura mostra que houve uma redução de 3 milhões no total de famintos no país

Renata Giraldi

Na contramão do que ocorre no mundo, o Brasil está entre os 19 países que conseguiram reduzir o número de famintos. Na década de 90, 18,6 milhões de brasileiros passavam fome; atualmente, o total está em 15,6 milhões. O número é ainda assustador, mas o ritmo de queda coloca o país em melhor situação que outros 26 nações, com registro de aumento no número de subnutridos. A Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) divulgou ontem um relatório mostrando que há 842 milhões de pessoas com fome no mundo.
De acordo com a FAO, do total de famintos, 798 milhões vivem em países em desenvolvimento, 10 milhões estão em países ricos e 34 milhões nos considerados de transição, como o Brasil e outros latino-americanos, além da China. "O número de subnutridos foi reduzido na Ásia, no Pacífico, na América Latina e no Caribe", analisa o diretor-geral do organismo, Jacques Diouf.
No Brasil, os 15,6 milhões de famintos são o principal foco de atenção do governo Luiz Inácio Lula da Silva, que elegeu o programa Fome Zero como meta social prioritária. Os números revelados ontem pela FAO não refletem as ações da atual gestão, mas resultam de uma série de programas anteriores. 0 Fome Zero, no entanto, recebeu elogios. O relatório da FAO cita o programa como um dos "sinais encorajadores" de combate à fome no mundo.
Meta radical
Sem conhecer detalhes do relatório, o ministro da Segurança Alimentar, José Graziano, avisou que a meta do governo é bastante radical em relação ao combate à fome. "Nós propomos acabar com a fome de uma vez", acrescenta.
Graziano afirma que a meta é a resposta aos que questionam o porquê de existirem famintos no país. "É difícil responder a pergunta que fica quando você propõe reduzir a fome pela metade. 0 que dizer para outra metade?", reage. Na opinião dele, há dois tipos de críticas ao programa Fome Zero, carro-chefe da área social: as que contribuem e as de fundo político.
O presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, dom Geraldo Magela, acredita que a Igreja, por meio principalmente da Pastoral da Criança, ajudou a reduzir a fome no país.
Demonstrando otimismo, o presidente nacional do Partido dos Trabalhadores, José Genoino, afirma que os dados revelados pela FAO servirão como estímulo ao programa do governo. De acordo com ele, o Fome Zero está começando a se estruturar e vai produzir mais resultados positivos na medida em que estiver organizado nacionalmente e as ações forem mais coordenadas.
Em Brasília, existem programas que servem como exemplo de organização. 0 Sesc, por exemplo, oferece refeições a preços mais acessíveis para a população. É possível tomar café da manhã por R$ 1,30, almoçar por R$ 3,20, e fazer uma refeição leve à noite, com sopa, a R$ 1,20. 0 preço baixo do Sesc atraiu a família do segurança Roberto dos Santos, 38 anos que, junto com a mulher, a funcionária pública Maria José de Brito, 39, e os filhos João Lucas, 11, e Luís Augusto, 7, freqüenta o restaurante popular. Moradores de Santa Maria, eles também recorrem ao restaurante comunitário do governo distrital. 'Acho interessantes essas iniciativas, a comida sai mais em conta que fazer em casa. Aqui, temos certeza de que comemos uma comida balanceada e sadia", elogia.
Quadro pessimista
Apesar das boas intenções do governo brasileiro e de empresas, o
quadro geral da fome no mundo é pessimista. 0 relatório afirma que, em 13 anos, aumentou em 60 milhões o número de pessoas que passam fome no mundo. Nesse grupo, estão África, índia, Indonésia, Nigéria, Paquistão e Sudão.
0 continente que mais chama a atenção dos especialistas é a África. Eles advertem que um conjunto de fatores contribuiu para o agravamento da situação na região, especialmente as más condições sanitárias e as raras oportunidades para melhora da qualidade de vida.

No mundo e no Brasil
842 milhões é o número de famintos no mundo
15,6 milhões de brasileiros passam fome no Brasil
3 milhões é o número de brasileiros que deixaram de passar fome
18 milhões é o aumento do número de famintos entre 1990 a 2001

CB, 26/11/2003, Brasil, p. 15

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