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Meio Ambiente reforça críticas ao governo

FSP, Brasil, p. A7
25 de Nov de 2004

Meio Ambiente reforça críticas ao governo
Ausência de última hora de Lula é vaiada; Stedile xinga o agronegócio e ataca ministro da Agricultura

Leila Suwwan
Da sucursal de Brasília

A Conferência Nacional Água e Terra que ocorre em Brasília, com militantes do campo, virou campo de vaias e críticas ao governo e de reforço das investidas contra o agronegócio. Depois do ataque do presidente do Incra, Rolf Hackbart, ontem outro representante do governo criticou os grandes fazendeiros pela degradação da biodiversidade e reclamou da força do setor na administração federal.
Paulo Kogeyama, diretor de Biodiversidade e Florestas falou à platéia de cerca de 9.000 pessoas sobre a divisão existente no governo e criticou a monocultura, as recentes autorizações de plantio de sementes transgênicas e a degradação da biodiversidade.
Afirmou falar em nome da ministra Marina Silva (Meio Ambiente) e disse representar o "braço do governo que apóia a agricultura familiar" e que tem sido a "resistência contra o rolo compressor". Não escondeu os choques entre a área econômica e agrícola e o setor de desenvolvimento agrário e meio ambiente. "Não diria que são dois governos. São braços do governo que têm contradições muito fortes."
"Certamente o governo tomou uma atitude de priorizar a questão da balança comercial [com exportações agrícolas], o que deixa o outro braço enfraquecido", disse. "Já deu para ver que nesse governo não vão ocorrer as mudanças que todos esperavam." Mas disse: "É uma organização que pode afetar a relação de forças entre os diferentes modelos".
Rolf Hackbart, por sua vez, foi defendido pelo líder do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra), João Pedro Stedile. "O Rolf disse alguma bobagem aqui ontem? Não. Mas ele terminou de dar a palestra aqui e já correu um bando de ruralistas pressionar o governo para demitir o Rolf. O coitado só falou a verdade. Qual foi a verdade que ele disse aqui? É que o problema da reforma agrária está vinculado diretamente com a necessidade de um novo modelo agrícola e de política econômica", disse.
Anteontem Hackbart havia dito que estão, "sob a etiqueta do agrobusiness", os fazendeiros suspeitos de matar e ferir sem-terra e acampados. E pediu união contra o "outro lado".
A ausência de última hora de Lula foi vaiada, assim como o ministro Roberto Rodrigues (Agricultura), suposto representante do "agronegócio burro". O Planalto avisou os organizadores que Lula não iria comparecer ao evento no meio da tarde. Um palestrante perguntou ao público se almoçar com o PMDB era mais importante que dialogar com as lideranças do campo. Confirmada a ausência, a vaia foi geral.
Burrice
O ponto alto do dia ocorreu no discurso de Stedile, que distribuiu críticas e insultos aos grandes agricultores, ao governo e à imprensa. Depois de anunciar que o encontro irá definir em quem vão "bater" e quem são os "verdadeiros inimigos", atacou duramente a política de exportação agrícola.
"Vender matéria-prima não é orgulho, é burrice", disse, citando nominalmente os ministros Rodrigues e Luiz Fernando Furlan (Desenvolvimento). Em seguida, pediu uma vaia para Rodrigues e foi atendido pelo público, que gritou por 28 segundos. Amanhã os sem-terra irão marchar até a sede do BC, onde pedirão a demissão do presidente do órgão, Henrique Meirelles, e do ministro Antonio Palocci (Fazenda).

Frase
Não diria que são dois governos. São braços do governo que têm contradições muito fortes. Certamente o governo tomou uma atitude de priorizar a questão da balança comercial, o que deixa o outro braço enfraquecido. [...] Já deu para ver que nesse governo não vão ocorrer as mudanças que todos esperavam
Paulo Kogeyama diretor de Biodiversidade e Florestas

FSP, 25/11/2004, Brasil, p. A7

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