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Meio ambiente: Índios condenam destruição

Amazonas em Tempo-Manaus-AM
Autor: Marcia Daniella
23 de Ago de 2002

O homem branco sabe destruir, mas não sabe consertar. Nós índios ajudamos a defender a natureza para o mundo", a frase do pajé yanomami, Davi Kopenawa (foto), foi aplaudida por todas as pessoas que compareceram na manhã de ontem à abertura da "I Conferência de Pajés do Amazonas", na sede da Fundação Oswaldo Cruz. As palavras do líder espiritual resumem o objetivo do evento que tem como tema "Biodiversidade e direito de propriedade intelectual: Proteção e garantia do conhecimento tradicional".
Durante quatro dias, 50 indígenas, entre eles cerca de 20 pajés das etnias Baniwa, Barassana, Dessana, Marubu, Tikuna, Tukano,Tuyuka, Yanomami, Terena, Kaingang, Munduruku, Hixkariana, Piratapuya, Sateré-Mawe, Krahô e Mayoruna estarão discutindo junto com os organizadores do evento, a Fundação Estadual de Políticas Indigenistas do Amazonas (Fepi) e outras entidades integrantes do Núcleo de Estudos e Análises sobre Propriedade Intelectual Indígena (Neapi), a criação de políticas públicas que protejam o conhecimento tradicional de seus povos, ameaçado pela biopirataria na Amazônia.
A "I Conferência de Pajés do Amazonas" resultará em um documento intitulado "Carta de Manaus", cujas propostas provisórias (que só serão definidas no próximo sábado) apontam a necessidade de implantação de uma política pública que proteja o conhecimento tradicional associado a biodiversidade, paralela a uma política de desenvolvimento sustentável que respeite as especificidades dos povos indígenas.
Outras proposta inicial para a "Carta de Manaus" é a criação de uma legislação estadual que regulamente diretrizes para o desenvolvimento sustentável e a proteção do conhecimento tradicional , garantindo o direito à propriedade intelectual indígena, além da divisão dos benefícios originados da sabedoria indígena e da apropriação de recursos biogenéticos.
De acordo com o presidente da Fepi, Ademir Ramos, é preciso alertar a sociedade que o conhecimento indígena merece ser tratado como ciência. "Para isso iremos discutir e organizar políticas públicas e estratégias para a proteção do conhecimento indígena, o que será feito com estreita avaliação das lideranças indígenas presentes", explica Ramos.
O coordenador do conselheiro do Instituto Indígena de Propriedade Intelectual e coordenador geral dos direitos indígenas, Marcos Terena, destaca que os indígenas têm a expectativa de serem reconhecidos como detentores de uma gama muito grande da biodiversidade brasileira. "Nosso pajés e líderes espirituais possuem a sabedoria e ao longo dos tempos protegeram o patrimônio da biodiversidade para o bem estar de toda a sociedade", argumenta.
Terena acentua que, enquanto o homem branco possui uma visão economicista, a sabedoria indígena não pode ser vendida como moeda, mas sim como qualidade de vida para ajudar no desenvolvimento mundial. "As lideranças indígenas não querem ser mais tratadas como fornecedoras de dados para os biopiratas transformarem em moeda", desabafa.

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