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Meio ambiente

CB, Opinião, p. 32
15 de Mai de 2008

Meio ambiente

A saída de Marina Silva do comando do Ministério do Meio Ambiente levanta questão sobre a continuidade da política ambiental brasileira. Na administração Lula, houve avanços conceituais que passariam a orientar a ação do governo. A ministra que ora se afasta defendeu a tese de que a política ambiental tem de migrar da área setorial para o coração do poder. Trata-se de guinada de 180 graus em relação ao que se vinha fazendo.

Segundo o novo entendimento, o Palácio do Planalto funcionaria como aspersor: todas as ações que dali saíssem, independentemente do setor a que se referissem, estariam impregnadas de preocupação ambiental. Em outras palavras: agricultura, saúde, educação, indústria e comércio, minas e energia, trabalho, relações exteriores seriam, eles também, defensores do meio ambiente.

Sem o compromisso interministerial, o Ministério do Meio Ambiente continuaria a jogar papel reativo. Surpreender-se-ia sempre com este ou aquele ato de destruição dos recursos naturais. As providências tentariam minimizar o mal, às vezes irreversível. Ora, para a equipe formar um conjunto movido por ideal comum, necessita de líder convicto do caminho a trilhar - a certeza da importância do meio ambiente para o desenvolvimento sustentável.

O presidente Lula abraçou a causa com entusiasmo. Mas, diante das demandas cruciais para o crescimento do país, voltou atrás. Manteve o discurso, mas a prática levou à cisão. De um lado, o desenvolvimento. De outro, o meio ambiente. Os embates dentro do governo, à frente Dilma Rousseff, submeteram Marina Silva a sucessivas derrotas. Desgastada, ela pediu demissão.

Foi, sem dúvida, duro golpe na imagem internacional do país. A trajetória da seringueira que abraçou a causa, mas não teve forças para administrar os múltiplos interesses em jogo num país que precisa conciliar crescimento com preservação ambiental, angariou o respeito de governos e especialistas dos cinco continentes.

O desafio de Carlos Minc, o novo ministro, é encontrar um denominador comum sem arrefecer os controles. Deve, para isso, conseguir apoio do capitão do time para impedir retrocessos. Em outras palavras: o meio ambiente deve ser preocupação interministerial. Sem isso, volta-se à situação anterior: ministério sem orçamento e sem força política.

CB, 15/05/2008, Opinião, p. 32

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