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Mato Grosso precisa de Políticas Socioambientais

Novos Rumos Ed. 4, ago., 2005, p. 14-18
Autor: SANTILLI, Marcio
31 de Ago de 2005

Mato Grosso precisa de Políticas Socioambientais

Márcio Santilli

O Estado de Mato Grosso vem apresentando um acentuado e contínuo crescimento econômico ao longo da última década, mesmo durante períodos em que a economia brasileira esteve em recessão. O Estado mantém um PIB fortemente composto pela atividade agropecuária e vem sendo, historicamente, um dos principais polos de expansão do agronegócio no Brasil.
Anos atípicos de alto nos preços internacionais da soja e de outras commodities agrícolas alavancaram a mecanização no campo, especialmente nas áreas mais planas, em grande medida coincidentes com a região de Cerrado. Houve forte valorização do preço da terra, com processos de conversão de áreas antes ocupadas pela pecuária para a agricultura de exportação. Com isso, a fronteira agrícola expandiu-se para o norte, incrementando os índices de desmatamento da Amazônia Legal Brasileira.
Evidentemente, a expansão da fronteira agrícola não é o único passivo ambiental do Mato Grosso. Até hoje estão expostas as sequelas deixadas pelo garimpo
Desmatamento
No entanto, é a questão do desmatamento, no âmbito das políticas socioambientais, que vem colocando o Mato Grosso em evidência nos pianos nacional e internacional. O que espanta não é o desmatamento em si, prática de tradição histórica em todo o País desde os tempos do Pau-Brasil, que nos deu nome. E o ritmo que impressiona, movido pelo capital acumulado oriundo das atividades agrícolas e pela disseminação de tecnologias que operam até em tempos de chuva. Neste quadro, o crescimento dos desmates ilegais põe em xeque a eficácia e a vontade política em operar os instrumentos de controle ambiental existentes.
Vale ressaltar o papel crescente do Mato Grosso na predatório que deu origem a vários municípios. As políticas federais de concessão de terras e colonização também se basearam, durante décadas, na comprovação da ocupação pelo desmatamento. O Estado viveu o mesmo intenso processo de urbanização que marcou o Brasil das últimas décadas, além das migrações regionais, e que está visível nas condições do meio ambiente urbano, em especial na degradação da qualidade de vida nas cidades. A situação do saneamento básico - provimento de água potável, serviços de coleta de esgoto, tratamento do lixo, canalização de águas pluviais - é muito precária no Estado e não tem melhorado na proporção do crescimento econômico conquistado.
Por sua vez, o desejado crescimento também não se refletiu linearmente na melhoria dos indicadores sociais. Se aumentou a oferto de vagas nas escolas e de serviços de saúde, ainda ocorrem índices alarmantes de mortalidade infantil e há falta de mão-de-obra especi-alizada em vários setores. Se o agronegócio ampliou a oferta de empregos registrados na atividade rural, também promoveu migrações para os centros urbanos e a concentração da propriedade da terra em poucas mãos. composição do índice de desmatamento na Amazônia. No pico histórico observado em 1994-95, em que mais de 29 mil km3 de florestas foram derrubados em toda a Amazônia, 10.391 km2 estavam no Mato Grosso, o equivalente a cerca de 35% do desmatamento total. Aquele recorde para a Amazônia ainda não foi superado, tendo havido uma queda nos anos seguintes sucedida de uma nova ascensão, até a projeção recentemente divulgada pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) de que mais de 26 mil km2 teriam sido desmatados em 2003-04. O recorde mato-grossense de 1994-95, superado em 2002-03 com a marco dos 10.458 km2, atingiu, porém, os 12,5 mil km2 em 2003-04, com a elevação para 48% da participação do Mato Grosso na composição geral do índice.

Íntegra do artigo em pdf.

Márcio Santilli, Formado em filosofia, foi deputado federal (1983-1986), presidente da Fundação Nacional do Índio (Funai), sócio-fundador e secretário-executivo do Instituto Socioambiental (ISA). Atualmente, é coordenador da campanha 'Y Ikatu Xingu, cuja idéia mobilizadora é preservar e recuperar as nascentes e as matas ciliares do Rio Xingu em Mato Grosso.

Novos Rumos Ed. 4, ago., 2005, p. 14-18

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