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Mato Grosso lidera ranking do desmatamento em 2003

GM, Saneamento & Meio Ambiente, p. A9
08 de Abr de 2004

Mato Grosso lidera ranking do desmatamento em 2003

Soja é apontada como responsável pela derrubada de 10,4 mil km². O Mato Grosso, maior produtor e exportador de soja do Brasil, é também o líder no ranking do desmatamento da Amazônia Legal. Segundo dados divulgados ontem pelo Ministério do Meio Ambiente (MMA), com base nos dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), o estado foi responsável por 46% do total desmatado em 2003, o equivalente a 10.416 mil quilômetros quadrados. No total, a estimativa é que o ano tenha fechado com uma derrubada de 23.750 km² de floresta, um aumento de 2% sobre o último levantamento, que vai de agosto de 2001 a agosto de 2002. A confirmação destes valores só acontecerá daqui a dois anos, como é de praxe do Inpe.

Apesar de ter sido estancado o ritmo de crescimento do desmatamento, os números ainda são muito altos e quase atingem o pico registrado em 1994/1995, de cerca de 30 mil km². "As taxas ainda estão em patamares intoleráveis", disse o ministro chefe da Casa Civil, José Dirceu. O Inpe confirmou oficialmente ontem os dados de 2002 (período de agosto de 2001 a agosto de 2002), que ficaram em 23.266 km². É um pouco abaixo do previsto inicialmente (25.470km²), mas bem acima do registrado em 2001, de 18.165 km².

Entre os municípios, São Félix do Xingu, no Pará, lidera o ranking neste novo levantamento, com 14% de todo o seu território mapeado já devastado. Somente em 2003, foram derrubados 1.333 km2 de mata, cerca de 7% do total registrado na Amazônia. Logo em seguida aparecem Uruará (PA), Aripuanã (MT), Tapurah (MT) e Novo Repartimento (PA). Segundo o secretário de Biodiversidade e Florestas do MMA, João Paulo Capobianco, estes números confirmam a manutenção do Mato Grosso, Pará e Rondônia na liderança do desmatamento, sendo responsáveis por 90% do total registrado.

Avanço da fronteira

O Mato Grosso, no entanto, é único dos três que está em ritmo ascendente. Saiu de 7.703 km², em 2001, para 7.578 km² em 2002, e agora registrou 10.416 km². A elevação da área desmatada coincide com a chegada ao poder no Estado de Blairo Maggi, o maior plantador individual de soja do mundo. O avanço da fronteira agrícola é apontado como uma das principais causas do desmatamento.

Para Denise Hamú, secretária geral do WWF-Brasil, falta coerência entre as diferentes estratégias do governo para o crescimento econômico do país. "Há pressa demasiada no aumento da receita, ainda que a um elevado custo sócioambiental", diz.

Sérgio Guimarães, da organização não-governamental Instituto Centro Vida, que atua naquele estado, ressalta que há uma conjunção entre a pressão econômica e a falta de interesse do governo estadual em alterar o cenário ambiental. Segundo dados da Fundação Estadual de Meio Ambiente do Mato Grosso (Fema), apresentados ontem pelo MMA, somente em 2003 o estado autorizou 5.540 km² de desmatamento, o que já é considerado elevado. Mas o mais grave é que todo o restante foi derrubado ilegalmente.

Terras indígenas

O desmatamento em áreas indígenas também cresceu - 57,33% em 2003. Mas este avanço, segundo Capobianco, é bem concentrado, principalmente na Terra Indígena Apyterewa, limite norte da região chamada de Terra do Meio, no Pará, com 288 km² devastados. "No geral, estas terras são barreiras para o avanço da derrubada", disse. Por outro lado, o desmatamento recuou 23,45% em Unidades de Conservação (UCs) administradas pelo governo federal e 6,10% em UCs estaduais.

Para reverter este quadro, o governo anunciou há duas semanas uma série de ações. Uma delas é fiscalização integrada entre diversos ministérios, que começa neste mês, em 19 bases instaladas na região. Em 2003, o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente (Ibama) operou apenas com quatro bases. Segundo a ministra Marina Silva, o Ministério da Justiça também acaba de criar 27 delegacias da Polícia Federal especializadas em crimes ambientais.

"A preocupação com a Amazônia não é mais somente do Ministério do Meio Ambiente mas, sim, uma questão de governo", disse a ministra Marina Silva. Serão criadas ainda 13,4 milhões de hectares de Unidades de Conservação no chamado Arco do Desmatamento, sendo 8,1 milhões para proteção integral e 5,3 milhões para uso sustentável. Além disso, serão instaladas sete bases de campo na área que compreende a BR-163 para cadastrar e regularizar as áreas ocupadas.

Desmatamento na Amazônia
Taxa por estado (em km2)

UF 2001 2002 2003
MT 7.703 7.578 10.416
PA 5.237 8.697 7.293
RO 2.673 3.605 3.463
AM 634 1.016 797
AC 419 727 549
RR 345 54 326
MA 958 1.330 766
TO 198 259 136
AP 7 - 4
Total 18.165 23.266 23.750
Fonte: Ministério do Meio Ambiente

GM, 08-11/04/2004, Saneamento & Meio Ambiente, p. A9

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