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Marina diz que saiu para manter política ambiental

OESP, Nacional, p. A6
16 de Mai de 2008

Marina diz que saiu para manter política ambiental
Ex-ministra afirma que não tinha mais condições dentro do governo para avançar essa agenda e 'foi preciso fazer com que as pedras se movessem'

A ex-ministra do Meio Ambiente Marina Silva explicou ontem que fez de sua demissão uma estratégia para constranger o governo Lula a manter a política ambiental de desenvolvimento sustentável e o veto à concessão de crédito para quem desmata ilegalmente. Ela disse que vinha encontrando dificuldades para tocar projetos de punição a desmatadores por causa das fortes pressões, principalmente de governadores. Entre eles, citou os de Mato Grosso, Blairo Maggi (PR), e de Rondônia, Ivo Cassol (sem partido).

"Para o eixo do desenvolvimento sustentável minha presença não estava mais agregando. Nesse caso, foi preciso fazer com que as pedras se movessem", afirmou na sua primeira entrevista desde que se demitiu, na terça-feira. "Minha decisão foi tomada porque senti que não tinha mais as condições necessárias dentro do governo para avançar com a agenda da política ambiental. É preciso recuperar a vitalidade que havia no primeiro mandato."

Em nenhum momento Marina admitiu que sofreu grandes derrotas em sua gestão. Disse que essa resposta só a história dará, porque o que é derrota hoje pode ser uma vitória amanhã. Ela disse que os números lhe são favoráveis, porque conseguiu reduzir o desmatamento, aumentar as áreas protegidas em 59%, punir crimes ambientais e mudar substancialmente alguns projetos, como o da concessão das licenças para as Usinas do Rio Madeira ou a transposição do Rio São Francisco.

"Entrei pela porta da frente. Saio pela porta da frente. Saio no momento em que achei que era oportuno", afirmou. "Se quisesse sair pela porta dos fundos, poderia ter pedido demissão do governo durante os embates sobre a concessão da licença para as Usinas do Rio Madeira. Não fiz isso, porque prejudicaria o presidente Lula."

A entrevista foi dada no auditório da Agência Nacional de Águas (Ana) e não no Ministério do Meio Ambiente, onde ela ficou 5 anos, 4 meses e 13 dias. Durante as quase 2 horas em que falou, Marina foi aplaudida oito vezes por diretores do ministério. Quando se levantou para sair, recebeu um buquê de flores de Pedro Ramos, do Conselho Nacional dos Seringueiros.

Marina contou que ficou muito feliz quando Lula anunciou que não vai mudar a política ambiental. E disse confiar em Carlos Minc para manter a política de desenvolvimento sustentável. "É fundamental que possamos preservar os avanços, é fundamental que não tenhamos retrocessos. A escolha de Minc qualifica o processo', afirmou.

Retrocesso, para ela, seria revogar a decisão do Conselho Monetário Nacional (CMN) de suspender a concessão de crédito oficial para os 36 municípios que mais desmataram em 2007 ou plantar cana-de-açúcar na Amazônia. "O Ministério da Agricultura levantou 300 milhões de hectares de terras agricultáveis, sendo que 50 milhões estão ociosos. Não é preciso tirar uma árvore para produzir alimentos ou biocombustível."

Ela foi firme na defesa dos biocombustíveis que o País produz. "O biocombustível brasileiro é limpo e pode ajudar no combate ao aquecimento global. É preciso não esquecer isso. Vocês não sabem como é difícil para o negociador brasileiro lá fora. Muitas vezes atacam nossos produtos com outros objetivos."

Marina evitou criticar Lula quando lembrada que, nos bastidores, ele disse que não lhe daria a direção do Plano Amazônia Sustentável (PAS) porque não era isenta. "Para mim, ser isenta é ter ponto de vista e ser capaz de mediar o ponto de vista dos outros. Me considero isenta e tenho meu ponto de vista." Ela admitiu, porém, que foi pega de surpresa. "Não fui avisada. Mas foi uma decisão do presidente. Não posso questioná-la." A ex-ministra contou que desde a demissão ainda não conversou pessoalmente com Lula.

O mandato de senadora, Marina disse que vai reassumir depois do feriado de Corpus Christi. Por enquanto, vai cuidar de alguns trabalhos escolares, pois está concluindo um curso de psicopedagogia na Universidade de Brasília (UnB).

A gestão da ministra por ela mesma

Proteção aos peixes

"Conseguimos resolver a questão dos bagres, do acúmulo de sedimentos e de prevenção à malária. De que adiantaria fazer uma obra no Rio Madeira e vê-la assoreada dez anos depois?"

Usinas do Rio Madeira

"Conseguimos reduzir em 8 vezes o tamanho do lago e as turbinas não serão mais as convencionais, e sim as tipo bulbo (que não têm necessidade de inundar áreas)"

Transposição do Rio São Francisco

"Foi um grande embate com o ex-ministro Ciro Gomes (Integração Nacional).

Conseguimos convencê-lo a reduzir a vazão de 146 mil metros cúbicos para 26 mil metros cúbicos"

Transgênicos

"Dizem por aí que fui derrotada na questão dos transgênicos. Mas não é bem assim. A história vai mostrar quem tinha razão"

BR-364 (Cuiabá/Santarém)

"Só com o anúncio da construção da estrada o desmatamento aumentou em 500%. Fizemos então o projeto de concessão de florestas em toda a região. Só então concedemos a licença ambiental"

Desmatamento

"Reduzimos o desmatamento em 29%, criamos o plano nacional de recursos hídricos, o combate à desertificação e fizemos o plano de desenvolvimento sustentável"

OESP, 16/05/2008, Nacional, p. A6

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