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Marina critica proposta brasileira sobre clima

O Globo, O País, p. 11
26 de Ago de 2009

Marina critica proposta brasileira sobre clima
Ex-petista diz que empresários e acadêmicos estão à frente do governo na questão; Minc rebate e cita realizações de sua pasta

Adauri Antunes Barbosa

A senadora Marina Silva (AC), que deixou o PT semana passada e se filiará ao PV no próximo domingo, disse ontem que empresários, movimentos sociais e a academia estão à frente do governo na elaboração de propostas para evitar os danos ao meio ambiente. Ela também criticou a posição "bastante genérica" que o Brasil levará em dezembro à Conferência Mundial sobre Mudanças Climáticas, em Copenhague, na Dinamarca.

- As empresas já estão se colocando à frente do governo, a academia há muito tempo já se colocou à frente e os movimentos sociais antes mesmo desses que acabei de mencionar. Então, neste momento, falta o governo se colocar de forma estratégica, liderando o processo interno e externamente. A sustentabilidade ambiental é o desafio deste século, e não é uma discussão de verde pelo verde, como dizem aqueles mais desinformados. É discutir economia, como isso se traduz na agricultura, no transporte, na geração de energia, na saúde, na educação, no conhecimento, na inovação tecnológica - afirmou Marina, depois de participar, como ouvinte, do seminário "Brasil e as mudanças climáticas", promovido por GloboNews, jornal "Valor" e Vale.

Provável candidata à Presidência da República pelo PV, ela afirmou que a posição do governo é genérica porque não se sabe a meta a ser apresentada para a redução de gases responsáveis pelo efeito estufa, entre outros fatores que levam a mudanças climáticas:

- O governo ainda está com uma posição bastante genérica no meu entendimento; precisa fazer rapidamente esse debate, assumir com transparência e participação dos diferentes setores e produzir o acordo que vai levar a Copenhague - disse. - Ainda não se sabe qual é a meta que o governo vai apresentar.

Participando do mesmo evento, como debatedor, o ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, respondeu à crítica da ex-petista de forma indireta, comparando o que ele já fez e o que foi feito antes de assumir a pasta, quando Marina era ministra:

- Acho que o governo avançou bastante porque há um ano não tínhamos plano, não tínhamos metas, não tínhamos Fundo Amazônia e não tínhamos pactos setoriais. E, neste último ano, passamos a ter plano, metas, Fundo Amazônia, o pacto da soja, que é um sucesso. A soja deixou de desmatar a Amazônia.

Agora, podemos avançar muito mais. Acho que a dinâmica da sociedade ajuda o governo a avançar mais - disse Minc.

Perguntado sobre o que o Brasil levará a Copenhague, Minc afirmou que será uma "posição de protagonismo".

- O Brasil vai levar uma posição de cobrança dos países ricos, que realmente tenham metas mais altas, mais expressivas, que identifiquem fundos para apoiar esforços dos países em desenvolvimento, de reduzir emissões, de adaptação.

Sem falar em metas específicas, Minc disse que o Brasil vai se destacar na conferência.

- Vamos mostrar o que estamos fazendo, o que pretendemos fazer - afirmou.

Carta de compromisso
Empresários se unem pelo clima

Amélia Gonzalez

Empresários brasileiros apresentaram ontem uma carta de compromisso para combater as mudanças climáticas. No evento "Brasil e a mudanças climáticas", eles se comprometeram, entre outras coisas, a publicar anualmente o inventário das emissões de gases de efeito estufa de suas empresas, bem como ações para a mitigação de emissões e adaptação às mudanças climáticas.

O desafio criado pela necessidade de crescimento econômico associado à redução das emissões de carbono foi uma das questões debatidas.

- É razoável imaginar que os ganhos obtidos pelo pré-sal possam ser usados para desenvolver tecnologias para mitigaçao de emissões - disse Ricardo Young, presidente do Instituto Ethos.

Para o ministro Carlos Minc, a descoberta do présal requer regulamentação.

Temos que criar rapidamente uma regulamentação porque as emissões do pré-sal serão grandes. Preferíamos outras riquezas, mas descobrimos esta, não vamos ignorá-la.

Na carta, os empresários se comprometem também a incluir como orientação estratégica no processo decisório de investimentos a escolha de opções que promovam a redução das emissões nos processos produtivos e serviços. Para Adalberto Veríssimo, pesquisador do Imazon e representante do Fórum Amazônia Sustentável, o encontro foi importante justamente porque o setor privado se comprometeu:

- Criamos, com esta Carta, um mecanismo de cobrança, de transparência.

Co-responsável pelo encontro, o presidente da Vale, Roger Agnelli, está otimista com relação ao papel das empresas. Para ele, o setor produtivo já percebeu a urgência de se mitigar os impactos das mudanças climáticas. Mas ele acha que o governo também precisa mostrar suas metas.

O Globo, 26/08/2009, O País, p. 11

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