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Mariana deve diversificar receita, diz economista

Valor Econômico, Brasil, p. A2
Autor: CHIARETTI, Daniela
02 de Dez de 2016

Mariana deve diversificar receita, diz economista

Daniela Chiaretti

Mariana, a cidade mineira que teve sua receita fortemente abalada pelo rompimento da barragem da Samarco, em novembro de 2015, deveria redesenhar sua economia.
Estima-se que 70% da arrecadação do município tenha origem na mineradora.
"Qualquer cidade cujas receitas dependam principalmente de uma única empresa tem que diversificar. Isso se chama concentração de risco", diz o economista indiano Pavan Sukhdev, conhecido por ter comandado a iniciativa sobre economia verde do Programa sobre Meio Ambiente das Nações Unidas (Pnuma). "Hoje, nas cidades, o crescimento vem do setor de serviços e não mais do setor primário ou secundário", continua.
Sukhdev foi convidado pela Renova para fazer palestra no primeiro dos diálogos que a fundação quer promover entre representantes de comunidades atingidas e do poder público para discutir ideias sobre a recuperação do Vale do Rio Doce. O encontro aconteceu esta semana, na sede da Fundação Dom Cabral, em Nova Lima.
Há muitas dúvidas de como avançar na reparação dos danos que a ruptura da barragem provocou na região e na reconstrução de comunidades, atividades econômicas, biodiversidade. Uma das perguntas em aberto é a definição do ponto de partida. "Qual é a nossa 'baseline'? Queremos voltar ao rio Doce com toda a degradação que tinha no momento do desastre ou queremos retroceder ao rio de 70 anos atrás?", perguntou Roberto Waack, diretor-presidente da Renova. "Temos 41 programas para implementar. E estamos na fronteira do conhecimento em muitos deles", continuou Waack.
Sukhdev narrou o que viu acontecer depois de dois grandes desastres, os terremotos e tsunamis na Indonésia, em 2004, e no Japão, em 2010. Em uma área afetada pelo desastre no Japão, a reconstrução foi apoiada em um modelo de economia circular que teve por base uma usina de biomassa, alimentada pelo refugo. "O que estava na frente deles era a devastação completa. Mas estes não são desafios únicos e singulares", seguiu o economista. "Não quero parecer alarmista, mas eventos como esse irão acontecer de novo, em algum lugar. Temos que ser mais capazes de controlar os riscos e ser mais resilientes aos impactos."
Ele foi didático para explicar o que quer dizer com resiliência. "Trata-se da habilidade de qualquer sistema, quer seja um ecossistema, uma sociedade ou uma economia, de resistir aos choques". Em sua visão, uma sociedade se torna resiliente se tiver fortes instituições formais (Constituição, Judiciário, sistemas de taxação) assim como as informais (valores familiares e comunitários) e vontade de colaborar. A diversidade econômica, social e natural ajuda a resistir aos golpes. "Diversidade melhora a adaptação, que é uma peça-chave da resiliência."
Sukhdev lembrou que não se pode gerenciar o que não é possível de medir e sugeriu que a reconstrução priorize equipamentos públicos, para que todos possam se beneficiar. Ele acredita que o Vale do Rio Doce possa se recuperar. "Acredito que se deixar a natureza agir, ela se recupera."
Sukhdev lembrou que todas as empresas têm externalidades e, portanto, um custo para a sociedade. Ele diz que este custo é reparado por design (com a empresa redesenhando sua atividade), por decreto ou por desastres.

Valor Econômico, 02/12/2016, Brasil, p. A2

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