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Manifestantes impedem audiencia publica do Sao Francisco na Bahia

O Globo, O Pais, p.4
29 de Jan de 2005

Manifestantes impedem audiência pública do São Francisco na Bahia
Grupo protesta contra projeto do governo federal de transposição do rio
Um grupo de manifestantes formado por diversos segmentos da sociedade civil impediu a realização de mais uma audiência para discutir o projeto de transposição do Rio São Francisco, já aprovado pelo governo federal. A audiência, que se realizaria quinta-feira à noite no Centro de Convenções da Bahia, em Salvador, chegou a ser aberta mas foi interrompida pelos manifestantes quando o chefe de gabinete do Ministério da Integração Nacional, Pedro Brito, iniciava a apresentação do Projeto de Integração do Rio São Francisco com bacias hidrográficas do Nordeste Setentrional”.
Nariz de palhaço como protesto
Usando nariz de palhaço, os manifestantes promoveram um apitaço” no local. Eles portavam faixas e cartazes e ainda gritavam palavras de ordem contrárias à transposição, do tipo Não à transposição, sim à revitalização”. Contaram com o apoio do deputado federal Edson Duarte (PV) que, embora integre a bancada governista na Câmara, não aprova o projeto. Os manifestantes permaneceram à frente da mesa até o anúncio do encerramento da audiência pelo gerente-executivo do Ibama na Bahia, Júlio Rocha.
Representando uma das tribos indígenas que integravam o protesto, Maria José Gomes, líder dos índios Tumbalalá, de Abarê, no norte da Bahia, repetiu um questionamento que vem sendo feito pelo governador da Bahia, Paulo Souto (PFL), um dos principais críticos do projeto federal.
— Como o governo vai levar água para tão longe, quando os ribeirinhos não dispõem de ajuda para irrigação nem mesmo para aquisição de bomba elétrica? — reclamou ela.
Também promotores de justiça das cidades de Ibotirama, Bom Jesus da Lapa, Xique-Xique, São Desidério, Cotegipe, Paramirim, Rio do Pires, Caturama e Barreiras, situadas na bacia do Rio São Francisco, protocolaram pedido para realização de audiências públicas. Hoje acontece mais uma audiência em Sergipe e na segunda-feira, em Alagoas, encerrando os debates com a sociedade civil.
Presente à reunião, o secretário estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos e vice-presidente do Comitê da Bacia Hidrográfica do São Francisco, Jorge Khoury, observou que as manifestações são uma representação fiel do pensamento da sociedade em relação aos planos federais.
— O mesmo se deu em Minas, e estou certo de que se repetirá em Sergipe e Alagoas.

Integração deve começar em abril
Maior obra prevista no governo Lula, a integração da bacia do Rio São Francisco às bacias hidrográficas do sertão nordestino deve começar em abril. 0 cronograma do Ministério da Integração Nacional acredita que terá a concessão da licença ambiental, pelo Ibama, até março. Os editais de licitação já estão sendo preparados. Serão 14 lotes de obras, a serem realizadas simultaneamente, com custo total de R$ 4,5 milhões. A licença ambiental, contudo, ainda depende da realização de audiências públicas nos estados envolvidos que vão até 2 de fevereiro. Há resistências grandes ao projeto, especialmente de Minas e da Bahia, e as audiências têm servido de palco para manifestações. O assunto deverá ser levado à Justiça pelo Ministério Público e entidades ambientais. Senadores prometem provocar a discussão no plenário no início dos trabalhos legislativos.
0 projeto retomado pelo governo Lula abandonou a idéia de transposição das águas do rio, para vencer resistências. Agora, utiliza-se a idéia de integração da bacia
do rio com as bacias do Nordeste setentrional, que englobaria Ceará, Paraíba, Rio Grande do Norte e parte de Pernambuco. A proposta prevê a construção de dois grandes canais. O primeiro, captaria água na barragem de Cabrobó, em Pernambuco, e rumaria para o Norte, levando água às bacias dos rios Jaguaribe (CE), Piranhas-Açu (PB-RN) e Apodi (RN). No segundo canal, as águas seriam bombeadas a partir da barragem de Itaparica, também em Pernambuco., Chegariam aos rios Paraíba (PB) e Ipojuca (PE).

O Globo, 29/01/2005, p. 4

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