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Manejo muda hábitos dos índios kaxinawás

O Rio Branco-Rio Branco-AC
Autor: Ana Sales
03 de Dez de 2004

Os índios kaxinawás estão mudando seus hábitos culturais- alimentares passando a manejar as espécies da floresta como forma de garantir a abundância de caça nas suas comunidades. No início deste ano eles resolveram aceitar o desafio de proteger as praias de postura de quelônios e manejar os filhotes para ficarem livres dos predadores naturais.

Resultados surpreendentes foram colhidos pela equipe de técnicos da Gerência de Fauna da Secretaria Extraordinária de Assistência Técnica e Extensão Rural (Seater), através das ações do "Projeto preservar - manejo participativo", desenvolvido em 12 comunidades da etnia Kaxinawá, localizadas por centenas de quilômetros do rio Purus, no município de Santa Rosa.

A extensionista Maria Nogueira de Queiroz explicou tratar-se de um projeto pioneiro desenvolvido em extensa área contínua de praia do rio Purus. "Em motor potente de voadeira, corresponde a um dia de viagem subindo o rio em época de cheia". Além dos índios, uma comunidade dos denominados brancos também participa do projeto, totalizando 245 famílias envolvidas e 1.381 beneficiários diretos das ações do projeto.

Nogueira destacou o aporte financeiro recebido do Serviço Brasileiro de Apoio à Micro e Pequena Empresa (Sebrae) no Acre para os excelentes resultados obtidos.

"O Sebrae tem o interesse de desenvolver ações empreendedoras no manejo de espécies da fauna nativa. A meta futura é tornar viável a comercialização - objeto de manejo e exploração em cativeiro - de tracajás, jabutis e de outros animais da família dos quelônios".

Antes do projeto ser desenvolvido, Nogueira relata que os hábitos alimentares do índios eram de saírem às praias, coletando os ovos de tracajás para o preparo da iguaria conhecida por "arabu" ou "mujangué". "Além de comerem todos os ovos, eles também comiam as fêmeas que vinha depositar os ovos na areia das praias". Um avanço substancial nas relações do homem ao intervir no meio ambiente, saindo da condição de mero predador para também passar a criar as condições propícias para as diferentes formas de vida continuarem coexistindo.

Novas espécies serão manejadas

Novos projetos serão executados a partir de 2005 ampliando as espécies de quelônios para jabuti e outras apreciadas por indígenas e população branca. Entre os índios machineri será realizado treinamento e capacitação para o manejo da ave mutum e porquinho do mato. Os yawamawás irão receber orientações para a criação em cativeiro de paca e jabuti. Os índios ashaninka demonstraram interesse pelo manejo de jabuti e tracajá.

A extensionista Nogueira disse que tudo é feito com a participação da comunidade e muita liberdade de escolha. "No caso dos Kaxinawá, eles puderam discutir amplamente com todos os membros da comunidade se gostariam de continuar comendo todos os ovos ou passar a preservar uma parte para o futuro". No final, tanto a natureza como os índios saem ganhando nesta luta pela sobrevivência em um mundo marcado pela devastação.

A dedicação dos índios garantiu que 721 ovos pudessem se desenvolver e se transformassem em animais perfeitos, protegidos por gaiolas teladas para evitar o ataque de predadores, novidades que correm a passos largos nos planos futuros das comunidades de índios". A perspectiva é instalar criatórios e os kaxinawás entrarem para o mundo dos
agronegócios".

A febre também contaminou positivamente os grupos rurais da civilização que está interessada em manejar quelônios e outros animais silvestres. É a sabedoria do homem amazônida sobrepujando o conhecimento das academias e ensinando com simplicidade como se usar e explorar a floresta com sabedoria.

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