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Mandante do assassinato de Chico Mendes cumpre pena em casa de Xapuri

Terra - http://terramagazine.terra.com.br
Autor: Altino Machado
17 de Out de 2008

O fazendeiro Darly Alves da Silva, 74, mandante do assassinato do líder sindical e ecologista Chico Mendes, ocorrido na noite de 22 de dezembro de 1988, em Xapuri (AC), dessa vez não teve que fugir pelo portão de entrada do presídio do Acre, como em fevereiro de 1993, quando contou com o apoio de pecuaristas, políticos e policiais do Acre.

O fazendeiro voltou a deixar o mesmo presídio neste 2008, mais conhecido no Acre como "Ano Chico Mendes Vive!", instituído que foi pelo "governo da floresta", para marcar a passagem dos 20 anos do assassinato do seringueiro de Xapuri. Dessa vez, Darly saiu sob escolta da Polícia Militar para cumprir mais três meses de prisão domiciliar concedida pela Câmara Criminal do Tribunal de Justiça do Acre.

Baseados em laudo da Junta Médica Oficial do Estado do Acre, os advogados do fazendeiro conseguiram convencer os desembargadores Feliciano Vasconcelos (relator), Francisco Praça e Arquilau Melo de que Darly sofre de graves problemas de saúde - úlcera, visão deficiente, problemas pulmonares e intestinais. A prisão domiciliar, em princípio, só é admitida para presos que cumprem pena em regime aberto. Excepcionalmente, a jurisprudência concede o benefício quando é comprovada doença grave e o tratamento médico não poder ser ministrado no presídio.

Mas, após manifestação do Ministério Público, a juíza Maha Kouzi Manasfi e Manasfi, da Vara de Execuções Penais, havia indeferido a sugestão de prisão domiciliar. A direção do presídio chegou até a afirmar que poderia fornecer dieta especial ao preso "nos termos da orientação médica" e enviou à juíza uma cópia do cardápio da alimentação especial fornecida a quem dela necessita.

- Verifica-se que na mesma Unidade Prisional há outros presos acometidos com tal enfermidade e ainda assim encontram-se segregados, recebendo os cuidados exigidos, conforme se extrai da lista de reeducandos que necessitam de dietas especiais e do cardápio de dietas, elaborado pela nutricionista da empresa Tapiri, que é a responsável pela confecção das refeições, dando conta do elevado número de reeducandos que recebem dietas especiais - assinalou na ocasião a juíza ao decidir sobre a sugestão da Junta Médica.

Ao votar a favor da prisão domiciliar, o desembargador relator, Feliciano Vasconcelos, destacou a alegação da Junta Médica, para quem o fazendeiro necessita de "cuidados dietéticos e cuidados especiais tais como, o aspecto psicológico do mesmo, em função de sua idade, e do seu estado clínico". O benefício ao fazendeiro, de acordo com os médicos, deveria ter sido concedido a partir de 19 de maio.

Darly tem uma extensa ficha de crimes comuns e hediondos. Em tese, tem a cumprir ainda uma pena de 12 anos, oito meses e quatro dias , isto é, até fevereiro de 2021. É provável que não voltará a se apresentar à Justiça durante a noite de Natal, conforme está estipulado. Seus advogados trabalham para assegurar até lá novos benefícios. Há 20 anos, durante a noite de Natal, o corpo do seringueiro que o fazendeiro mandou assassinar com um tiro de espingarda estava sendo velado no salão paroquial de Xapuri e a repercussão do crime apenas começava a se multiplicar na mídia internacional.

Antes de deixar o presídio estadual, o fazendeiro foi advertido pela juíza Maha Kouzi Manasfi e Manasfi das condições que deverá cumprir durante a prisão domiciliar: todo e qualquer deslocamento terá que ser feito mediante escolta e as consultas ou exames terão que ser informados com antecedência mínima de 48 horas, para que seja providenciada a devida escolta. Cabe ao Juízo Criminal da Comarca de Xapuri a fiscalização dessas condições.

Evangélico desde a juventude, enquanto permanecia preso Darly costumava se empenhar na conversão de seus companheiros de cela. Com uma Bíblia na mão, pregava na tentiva de convencê-los a aceitar Jesus como único e suficiente Salvador.

- Já estou perdoado por Deus, pois não matei ninguém que não merecesse morrer - era o que costumava responder quando questionado a respeito da vida de crimes dele e da família, em Minas Gerais, onde nasceram, no Paraná, para onde fugiram, e no Acre, onde buscaram refúgio final até Chico Mendes exigir o fim da impunidade e se tornar mais uma vítima deles.

O Comitê Chico Mendes, entidade virtual usada durante anos para manifestar o ponto de vista de organizações do movimento social sobre vários temas da realidade acreana, dessa vez silenciou após a decisão da Justiça. Os parlamentares e gestores petistas que administraram o governo estadual e prefeituras também não esboçaram qualquer protesto. Enquanto o fazendeiro cumpre prisão domiciliar em Xapuri, os documentos oficiais do "governo da floresta" tramitam com imagem do seringueiro na qual é dito que ele ainda vive.

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