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Mananciais em perigo

Quarteirão Paulista, n. 21, jan-fev 2007, p. 14-15
28 de Fev de 2007

Mananciais em perigo
As principais fontes de abastecimento de água de São Paulo estão ameaçadas pelo crescimento urbano e pelo desconhecimento da população

A água que sai da torneira em sua casa - limpa e cristalina - é uma versão tratada que teve sua origem em um dos quatro mananciais que abastecem cerca de 19 milhões de pessoas nos municípios da Região Metropolitana de São Paulo. Se a degradação desta água continuar, será mais difícil garantir o abastecimento para as futuras gerações. Atualmente cerca de 1,6 milhão de pessoas vive em áreas de mananciais e são vários os fatores que levam à contaminação da água, como o esgoto das habitações irregulares, de empresas diversas, de mineradoras e de regiões de pastagem, desmatamento, entre outros.
Historicamente não se tratou a água com a devida responsabilidade. Não é novidade a tendência em poluir rios e córregos, pois é a forma mais rápida de se livrar do lixo. Porém, todo esse acúmulo se transforma em toneladas que criam sérios problemas ambientais. E a Região Metropolitana de São Paulo tem 52% de seu território em mananciais, mas vive sob ameaça de racionamento em períodos de estiagem. Isso porque a quantidade de água produzida para abastecimento está muito próxima da disponibilidade hídrica dessas fontes.
Segundo Marussia Whately - arquiteta que há dez anos estuda a preservação dos mananciais pelo Instituto Socioambiental (ISA) -, o Tietê e seus afluentes, como Pinheiros, Tamanduateí e Ipiranga, foram tratados como canais para o despejo e afastamento de esgoto. E, ainda segundo a pesquisadora, os governos se sucedem e pouco é feito pelos mananciais. É preciso cobrar das autoridades públicas maior controle do uso do solo, fiscalização de empresas e também conscientizar pessoas que vivem às margens das represas. O ISA disponibilizou no site www.mananciais.org.br todo o conteúdo de dez anos de pesquisas e monitoramento dessas áreas de importância vital para o abastecimento da Região Metropolitana. "Precisamos divulgar e fazer com que as pessoas se conscientizem da importância desses locais, que estão cada vez mais degradados", conta Marussia. Para ela, um dos maiores problemas do ISA é a falta de recursos para seguir os trabalhos, pois não existem grandes patrocinadores do projeto Mananciais. "As empresas investem em vários outros setores, mas se esquecem justamente deste que é essencial."
Para ter idéia da ameaça sofrida pelos mananciais, segundo o ISA, em pleno século 21, somente cerca de 30% do esgoto da Região Metropolitana é devidamente tratado antes de ser despejado nos rios. Culpa da falta de saneamento básico e da existência de ligações clandestinas. Com o constante crescimento da população do entorno e com toda a poluição que recebe, os mananciais podem ter um destino muito parecido com o do Rio Tietê - um esgoto a céu aberto que para ser despoluído precisa de muitos milhões em investimento.

O que são mananciais?

São as fontes de água que servem para abastecimento da população. Podem ser de águas superficiais (rede de rios que formam a bacia hidrográfica de uma região) ou águas subterrâneas (os aqüíferos). Os rios que passam pela Região Metropolitana de São Paulo formam represas de onde se capta a água para o abastecimento de milhões de pessoas. Conheça melhor os mananciais dos sistemas Alto Tietê, Cantareira, Billings e Guarapiranga, afinal, é uma dessas fontes que abastece sua casa. Veja em www.deolhonosmananciais.org.br.

Governo paulista promete plano para os mananciais

Em reunião realizada em janeiro, o novo secretário de Meio Ambiente e Recursos Hídricos do Estado, Francisco Graziano, afirmou que o governo estadual pretende dar prioridade aos mananciais e que, para começar, em 60 dias apresentaria um plano de ações para a região da Guarapiranga, que abastece aproximadamente 4 milhões de pessoas. O plano pretende conter a ocupação irregular e reverter o processo de despejo de esgotos na represa. Pelo prazo previsto, o novo plano deve ser apresentado no mês de abril.

Tietê, o rio que a cidade perdeu

Tudo se acabou: a pesca que garantia o almoço da família, os românticos passeios de canoa e os mergulhos refrescantes - sempre observados pelos "fiscais de rio", que faziam relatórios ao prefeito sobre o que se passava por ali. Assim já foi um dia o rio Tietê, como mostra o livro Tietê, o Rio que a Cidade Perdeu, feito a partir da pesquisa de doutorado do historiador Janes Jorge. A pesquisa analisou o período entre 1890 e 1940 na cidade de São Paulo, quando a urbanização cresceu desenfreadamente, trazendo progresso e também poluição da água. Além de fazer um resgate histórico, o levantamento é impressionante e, quem sabe, sirva como reflexão para a necessidade de preservação dos mananciais - antes que tenham o mesmo destino do Tietê. "Quem vive na cidade hoje muitas vezes não tem consciência do custo social e ambiental que resultou da degradação do rio. Perdeu-se um local de lazer e até de sustento para várias famílias, a maioria de baixa renda", resume o autor sobre o enfoque da pesquisa, de grande importância para a história ambiental (editora Alameda).

Quarteirão Paulista, n. 21, jan-fev 2007, p. 14-15

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