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Mais raros e mais intensos

O Globo, Ciência, p. 28
23 de Fev de 2010

Mais raros e mais intensos
Aquecimento produzirá menos furacões, mas com poder de destruição 60% maior

Renato Grandelle

Mais intensos, ainda que menos frequentes.

Assim serão os furacões até o fim do século, segundo a avaliação de dez cientistas da Organização Meteorológica Mundial (OMM). As mudanças climáticas aumentarão a velocidade dos ventos e as tempestades.

Até a área das catástrofes pode crescer. O litoral brasileiro, nas regiões Sul e Sudeste, por exemplo, passa por uma fase especialmente propensa a este fenômeno climático.

Embora os cálculos da OMM concluam que o número de furacões pode diminuir em 34%, o corte seria observado principalmente entre os fenômenos de média e baixa profundidade. Os tufões remanescentes seriam encorpados: sua potência, medida pela velocidade do vento, aumentaria até 11%. O percentual parece tímido, mas já é o bastante para aumentar os estragos em 60%.

O levantamento da OMM veio apenas um mês depois de uma pesquisa sobre o mesmo tema coordenada pelo Instituto de Estudos Oceânicos e Atmosféricos Americanos. De acordo com o órgão dos EUA, os furacões de categoria 4 e 5 (as mais altas) praticamente dobrariam até o fim do século. Estes furacões têm ventos superiores a 211 km/h e acontecem, em média, uma vez a cada sete anos naquele país. O último foi o Katrina, em 2005, que devastou a cidade de Nova Orleans e deixou mais de 1.800 mortos.

- Aquele ano foi repleto de eventos climáticos significativos, mas, desde então, não registramos furacões semelhantes - avalia Augusto José Pereira Filho, professor do Instituto Astronômico e Geofísico da USP. - Foi, portanto, um período de poucos furacões, embora de intensidade maior. Mas é cedo para afirmar se este padrão será repetido até o fim do século.

Segundo Pereira Filho, o comportamento seguido pelos furacões nos últimos anos é o mesmo observado com as chuvas. Na grande São Paulo, as precipitações ocorreram menos vezes nas últimas décadas, embora tenham ganhado em intensidade.

Cauteloso, o cientista prefere não atribuir estas alterações ao aquecimento global.

- Quando o furacão Catarina passou pelo sul do país, em 2004, pensamos que ele seria o sinal de uma mudança significativa, mas não houve qualquer outro evento depois - lembra. - As transformações, portanto, podem ser isoladas. Prova disso é que só agora reunimos condições um pouco mais propícias para a ocorrência de um furacão em nosso litoral. Ainda assim, nada deve acontecer. A água está muito aquecida, uma condição fundamental, mas as correntes marítimas do El Niño atrapalham a formação de furacões.
Tempestades até 20% maiores
O estudo da OMM, divulgado domingo na revista "Nature Geocience", considerou como cenário um planeta cuja temperatura global, no fim do século, será 2,8 graus Celsius maior do que hoje. Para ambientalistas, trata-se de uma hipótese conservadora, já que muitos acreditam que este aumento chegue a 4 graus.

As tempestades serão 20% maiores a até 100 quilômetros do olho do furacão. Segundo o artigo publicado no fim de semana, essas precipitações terão "provavelmente" um impacto maior ao observado hoje.

No artigo, os pesquisadores ressaltam que suas estimativas podem variar de acordo com o local analisado. Os dados seriam mais frágeis no Oceano Atlântico.

Em ambos os hemisférios, a incidência de furacões é mais forte na transição do verão para o outono, quando o oceano atinge sua temperatura máxima e a atmosfera esfria.

Esta é a condição ideal para a formação das tempestades. No Hemisfério Sul, porém, a temperatura da água não é tão alta, e há grande ocorrência de correntes marítimas, o que torna este fenômeno climático menos comum por aqui.

O Globo, 23/02/2010, Ciência, p. 28

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