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Mais indígenas chegam à Vila Surumu

Folha de Boa Vista
Autor: Andrezza Trajano
05 de Abr de 2008

Aproximadamente 50 indígenas da comunidade do Contão, 30 do Taxi e 300 do Flechal chegaram à Vila Surumu, entrada principal da Raposa Serra do Sol, pintados para guerra. Eles foram se unir aos manifestantes favoráveis à permanência de não-índios e arrozeiros na região.

A Vila Surumu, epicentro do conflito, possui aproximadamente 300 famílias, onde 90% são compostos por não-índios. A localidade também abriga o chamado "polígono do arroz", onde oito fazendas, com mais de 30 anos, estão sediadas no local. Devido à proximidade com os rios Surumu e Cotingo, a região é propícia para a rizicultura.

Com a Upatakon 3 em andamento, os produtores de arroz decidiram cruzar os braços e, por tempo indeterminado, não abastecerão os comércios de Roraima e Amazonas. A Associação dos Rizicultores de Roraima possui 35 rizicultores, que produzem por safra, mais de 150 mil toneladas de arroz, uma média de 150 sacos de arroz por hectare, cultivados em área de 24 mil hectares. Segundo os rizicultores, o cultivo do arroz representa 10% do PIB do Estado e emprega 6 mil pessoas direta e indiretamente.

Segundo o presidente da Associação, o rizicultor Paulo César Quartiero, a medida foi adotada como forma de protesto e também visando preservar a integridade de seus funcionários, já que vários atos criminosos têm sido praticados no Estado, desde que teve início a Upatakon 3.

"Já tive um filho ferido a bomba, não posso permitir que um funcionário meu se machuque. Não estou pedindo favor de ninguém, apenas queremos trabalhar. Esses manifestantes estão defendendo os seus empregos e a comida de suas famílias", disse Quartiero.

Para o rizicultor Nelson Itikawa, as ações do Governo Federal estão impedindo pessoas que atuam no desenvolvimento de Roraima de trabalhar. "Gostaríamos de fazer o que sabemos fazer: trabalhar, de atuar na nossa profissão. Temos arroz para ser colhido, estamos também nos preparando para plantar novamente e, no entanto, nos deparamos com uma atitude agressiva do Governo Federal. Se faltar arroz na mesa do povo, não será culpa nossa", lamentou.

O também rizicultor Ivalcir Centenário criticou toda essa situação. "Não temos como colher, pois as estradas estão fechadas. Quero ver quando poderemos trabalhar em paz".

Indígenas do Contão dizem que são favoráveis à saída de não-índios

O indígena Jonas Marcolino, que já foi tuxaua do Contão, procurou ontem a Folha para informar que o verdadeiro tuxaua da comunidade é o indígena Nicodemus Andrade Ramos, e não o vereador de Pacaraima, o também indígena Genival, como ele mesmo se declarou em reportagem para a Folha, na quinta-feira.

Segundo Nicodemos, ele foi eleito tuxaua no dia 29 de outubro do ano passado, com 90% dos votos. "Quero deixar bem claro que a comunidade do Contão não está participando dessas manifestações, nem apóia a permanência de não-índios na Raposa Serra do Sol. Nós respeitamos a decisão do presidente da República e queremos viver em paz. Apenas uma minoria está a favor dos arrozeiros", explicou.

CNBB manifesta apoio à Operação Upatakon 3

Os bispos do Brasil, reunidos em assembléia em Itaici, Indaiatuba (SP), publicaram ontem uma nota na qual afirmam que estão acompanhando com "apreensão" a Operação Upatakon 3, realizada pelo Governo Federal para retirar os não-índios da terra indígena Raposa Serra do Sol (TIRSS).

Na "Nota de Esperança", a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) afirma que é necessário "pagar a dívida histórica com os povos indígenas" e manifesta "respeito, solidariedade e apoio" aos indígenas que habitam a terra Raposa Serra do Sol. Os bispos manifestaram apoio à Operação Upatakon 3 e pedem que "processo de desintrusão da TIRSS seja rápido, pacífico e que a lei seja respeitada por todos".

Veja, abaixo, a íntegra da nota assinada por Dom Geraldo Lyrio Rocha, arcebispo de Mariana (MG) e presidente da CNBB; Dom Luiz Soares Vieira, arcebispo de Manaus (AM) e vice-presidente da CNBB; e Dom Dimas Lara Barbosa, bispo auxiliar do Rio de Janeiro e secretário-geral da CNBB:

"Nós, Bispos do Brasil, reunidos na 46ª Assembléia Geral da CNBB em Indaiatuba, SP, estamos acompanhando com muita apreensão as notícias que chegam de Roraima, mais precisamente no que se refere à Operação Upatakon 3, realizada pelo Governo Federal, para a retirada dos não-índios que teimam em permanecer com métodos violentos na homologada terra indígena Raposa Serra do Sol (TIRSS).

Em nosso país, já temos feito uma caminhada muito significativa no reconhecimento e conquista dos direitos. Precisamos pagar essa dívida histórica que temos com os povos indígenas, os mais sofridos ao longo da nossa história. É hora de vislumbrarmos um novo horizonte, onde a pluralidade dos povos indígenas e seus direitos originários sejam definitivamente reconhecidos.

Com a Diocese de Roraima, queremos manifestar nosso respeito, solidariedade e apoio aos Povos Indígenas que habitam a terra demarcada e homologada. O Evangelho anunciado e acolhido por estes povos faz deles, cada vez mais, sujeitos da sua própria história.

Manifestamos nosso apoio ao trabalho que o Governo Federal vem realizando na Operação Upatakon 3. Esperamos que o processo de desintrusão da TIRSS seja rápido, pacífico e que a lei seja respeitada por todos, consignando o direito regulamentar das famílias retiradas ao recebimento de indenizações das benfeitorias decorrentes de ocupações de boa fé, conforme a Constituição.

Suplicamos que o Deus da Paz ilumine os caminhos dos Povos de Roraima e os conduza à convivência pacífica, alicerçada na verdade, na justiça e no respeito aos direitos de todos".

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