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Mais de 200 especies invasoras causam estragos

OESP, Vida, p.A22
06 de Out de 2005

Mais de 200 espécies invasoras causam estragos
Conclusão é de levantamento realizado em diversos biomas do Brasil. Espécies exóticas são consideradas a segunda causa mundial de perda de biodiversidade
Lígia Formenti
Elas desembarcam no Brasil de formas variadas - acidentalmente, encomendadas para enfeitar jardins ou como sinônimo de uma fonte promissora de lucro. Em pouco tempo, expõem um potencial destrutivo: reproduzem-se de forma descontrolada, alteram o equilíbrio do ecossistema, mudam a composição do solo e passam a concorrer com espécies nativas.
Consideradas como uma grave ameaça ao equilíbrio ambiental, as espécies exóticas invasoras acabam de ser alvo de um levantamento detalhado, feito em vários biomas do País. O trabalho, divulgado ontem em Brasília, revela que aqui existem mais de 350 espécies invasoras, terrestres, no ambiente marinho ou em águas continentais. Do total, 64% - ou mais de 200 - já ameaçam a biodiversidade local ou regional.
O estudo teve financiamento do Ministério do Meio Ambiente e comprovou que as espécies invasoras estão presentes em todos os ecossistemas brasileiros. "Quanto maior o nível de degradação, mais chances estas plantas têm para destruir e ocupar a área", afirma a coordenadora do Programa de Espécies Exóticas Invasoras para a América do Sul da ONG The Nature Conservancy, Sílvia Ziller. "Em áreas preservadas, tais espécies podem ter concorrência com as nativas para dividir o espaço e alimento, o que dificulta a expansão."
A invasão não é exclusividade brasileira. O problema é a segunda causa mundial de perda de biodiversidade. A resposta a essa ameaça varia entre os países. Vai desde a proibição de importação de espécies até a total ausência de normas sobre o assunto. É o que ocorre no Brasil. Aqui, a vigilância acontece somente para a área agrícola.
Especialistas e ministério querem mudar o quadro com um Sistema de Prevenção e Análises de Risco. Diante do argumento de que o sistema pode emperrar negócios, Sílvia tem uma resposta na ponta da língua: "Com tais importações, poucos são os ganhadores. E os prejuízos são inúmeros".
Os exemplos são vários. Entre as pragas está o capim annoni, introduzido no País na década de 50 e que hoje toma conta de 1 milhão de hectares no Sul. Um fazendeiro, de sobrenome Annoni, notou que o capim era resistente à geada. Logo o imaginou como substituto para outras gramíneas, usadas para alimentar animais. Ele não contava com o fato de que os animais não comem o tal capim.
O estudo mostra que 32% das espécies exóticas são de plantas ornamentais. Em seguida, vem espécies para alimentação (24%), como carpa e abelhas africanizadas, e as forrageiras, espécies usadas para alimentação de gado (12%) e , por fim, árvores para plantio florestal (8%) e para estabilização de solo (4%). O restante foi trazido para fins desconhecidos.
O trabalho também classificou as espécies invasoras. No grupo de plantas 36% são árvores, 31% são arbustos, 12% herbáceas e 11% gramíneas. Na fauna, peixes e moluscos estão empatados na porcentagem: 20%. Logo depois vêm crustáceos, com 19%, e mamíferos, com 13%.

OESP, 06/10/2005, p. A22

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