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Mais de 150 professores indígenas concluem formação em magistério

Agência Pará - http://www.agenciapara.com.br/exibe_noticias_new.asp?id_ver=53397
Autor: Maisa Portal
04 de Nov de 2009

Da Redação
Agência Pará

Com o objetivo de promover a qualificação profissional de nove povos indígenas da região do Xingu, o Primeiro Módulo de Formação do Magistério Indígena foi encerrado na noite de terça-feira (3), no auditório do Recanto do Cardoso, a 10 quilômetros da sede municipal de Altamira. Durante 30 dias do mês de outubro, 152 estudantes indígenas dos povos Arara, Assurini, Arawetê, Xikrin, Kayapó, Xipaya, Parakanã, Kuruaya e Juruna participaram no município das aulas nas disciplinas que compõem o currículo escolar do ensino médio. Português, Matemática, Ciências Biológicas, Filosofia, História, Geografia, Metodologia, Redação, Sociologia, Artes, Educação Física, Legislação e Língua Indígena fazem parte da grade curricular.

A formação envolve os governos Federal e Estadual, numa parceria entre Secretaria de Estado de Educação (Seduc), Fundação Nacional do Índio (Funai), Fundação Nacional de Saúde (Funasa), Secretaria Municipal de Educação de Altamira e outros órgãos.

Na solenidade de encerramento, representando a Coordenadoria de Educação Indígena da Seduc, a professora Edilene Costa agradeceu a presença de todos os estudantes que se deslocaram de suas aldeias, algumas muito distantes, para participar da formação.

"Sabemos que é muito difícil para os indígenas ficar longe de suas aldeias e famílias, mas também dar início a esta nova etapa de estudos é um desejo de todas as etnias aqui presentes. Espero que continuem os estudos para que possam, num futuro próximo, assumir as escolas de suas aldeias", declarou.

Genir de Fátima, coordenadora de Educação Indígena da Funai, destacou a importância da integração dos povos durante a formação e a união de todos pela educação. "É com orgulho que vemos todas as etnias reunidas, lutando e vencendo barreiras para alcançar seus objetivos na educação", disse ela.

Conquistas - Representando os estudantes indígenas, Kwazady Xiapaya citou a luta de seus antepassados por melhoria para os povos. Segundo ele, as conquistas viriam a partir do conhecimento e da educação. "Estamos realizando um sonho dos nossos antepassados, que lutaram muito para termos aqui nesta região melhorias em nossas aldeias e para que pudéssemos concluir nossa primeira etapa do magistério e, assim, ajudar nossas comunidades. Daqui a mais um tempo, a gente vai assumir nossa educação, moldada com nossa cultura em nossa própria aldeia", acrescentou o estudante.

Ao final da cerimônia os representante das etnias presentes manifestaram o desejo de continuar as etapas seguintes para a conclusão do Magistério Indígena. Um representante da etnia Parakanã, que estava sem estudar há quatro anos, disse estar cansado de ter que repetir o ensino fundamental porque não tinha expectativa de dar continuidade aos estudos.

"Sempre senti vontade de avançar nos estudos e, agora, temos essa oportunidade. Em minha aldeia ajudo o professor branco a passar os conhecimentos às crianças que não falam o português. Sou monitor e, com esta formação, daqui a mais um tempo vou assumir a escola na minha aldeia", garantiu ele.

Formação - No período passado em Altamira, a rotina de atividades dos estudantes indígenas começava cedo. Às 8 horas, divididos em quatro turmas, os 152 alunos já estavam participando das aulas.

Segundo a coordenadora do curso, Rita de Cássia Almeida, a visão de que os indíos não ficam em salas de aula por muito tempo foi desmistificada. "Eles se mostram muito interessados nos conteúdos das disciplinas, solicitam e questionam os professores sempre que surgem dúvidas", informou.

A faixa etária dos estudantes é de 15 a 65 anos. A maioria não possuía documento de identidade, fato que poderia comprometer a documentação escolar necessária. Para resolver o problema, a Polícia Civil de Altamira, a pedido da Procuradoria Geral e Funai, emitiu as carteiras de identidade para a maioria dos estudantes.

"A formação em magistério indígena é o retorno da nossa luta perante o governo, para que tivéssemos direito à educação", disse Tope Parakanã. Segundo ele, conhecer o português é muito importante, "não é pra esquecer a nossa língua, mas para conhecer os nossos direitos".

Esforço - Nem todas as etnias tiveram facilidade para aprender as disciplinas. Alguns estudantes não entendem direito a língua portuguesa, como os da etnia Arawetê, um povo que entrou em contato com outras culturas recentemente, mas que se mostrou muito esforçado.

Segundo a professora de Língua Indígena, Rosana Santos, o interesse dos estudantes pelo conhecimento é evidente. "Como professora, me senti muito valorizada. Eles questionam bastante, são interessados e são os melhores alunos que um professor poderia ter", ressaltou.

Cândida Juruna, 65 anos, foi uma das mais dedicadas. Poetisa, a indígena aprendeu a ler ainda pequena e logo passou a ler literatura de cordel. Começou a escrever seus próprios poemas. "As inspirações vêm em cima da hora, nos versos bonitos que faço agora. Comparo com o carinho da mãe que pega no colo o filho que chora", declamou.

Exemplo e lição de vida para seu povo, Cândida Juruna tem suas coletâneas expostas na Casa da Linguagem, em Belém. A primeira, "Recordações do Passado", retrata a chegada do povo Juruna em Altamira; "Como vivíamos antes e como vivemos hoje" aborda as origens, tradições e costumes da etnia, e "Uma mãe sofredora em busca de justiça", que trata da trajetória dos índios Juruna.

A próxima etapa de formação dos estudantes indígenas está prevista para março de 2010. A Seduc está implantando o ensino médio em 10 aldeias de quatro polos regionais.

Maisa Portal - Seduc

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