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Mais de 10 por cento do CO2 resultante da destruição da Floresta Amazônica vêm de áreas protegidas

O Globo - https://oglobo.globo.com/sociedade
28 de Jan de 2020

Mais de 10% do CO2 resultante da destruição da Floresta Amazônica vêm de áreas protegidas
Territórios indígenas e unidades de conservação perderam 1,3 gigatonelada de carbono em 14 anos, indica levantamento que contou com participação de pesquisadores brasileiros

Rafael Garcia

SÃO PAULO - Mais de 10% do gás carbônico (CO2) decorrente da destruição da Floresta Amazônica saem de dentro de áreas protegidas, indica um novo estudo que analisou a situação da mata nos nove países que abrigam a floresta.

O trabalho, liderado por Wayne Walker, do Centro de Pesquisa de Woods Hole (EUA), indica que, num período de 14 anos, terras indígenas e unidades de conservação perderam 1,3 gigatonelada de carbono, o equivalente a 0,3% do total de biomassa que armazenam.

Publicado nesta segunda-feira (27) na revista PNAS, da Academia Nacional de Ciências dos EUA, o estudo conclui que a criação de áreas protegidas ainda é uma ferramenta importante para conter emissões de CO2, porque fora dela 3,6% da biomassa foi perdida. Essas categorias fundiárias com restrições de uso, porém, de acordo com o estudo, estão longe de oferecer a proteção ideal.

O trabalho, que teve a participação de pesquisadores brasileiros do IPAM (Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia) e do ISA (Instituto Socioambiental), é o levantamento mais preciso feito até agora sobre o papel das áreas protegidas na contenção das emissões de CO2.

Para estimar a perda de carbono, os cientistas levaram em conta não apenas o desmatamento com "corte raso", mas também formas de degradação florestal, como aquela provocada por extração seletiva de madeira.

A conclusão é relevante: quase metade da perda total de carbono em áreas protegidas (47%) foi atribuída pelos cientistas à degradação ou perturbação.

Apesar da fragilidade que terras indígenas e unidades de conservação têm mostrado, os autores do estudo ressaltam que elas são uma ferramenta de conservação indispensável.

"Nosso trabalho mostra que as florestas sob a proteção de povos indígenas e comunidades locais continuam a ter melhores resultados no balanço de carbono do que as terras sem proteção", afirmou Walker, em comunicado à imprensa. "Isso significa que o papel dessas populações é crítico e deve ser fortalecido para que os países da Bacia Amazônica consigam manter esse recurso globalmente importante."

Perda líquida

Outro aspecto importante da pesquisa é ter levado em conta também o ganho de biomassa em zonas nas quais as árvores estão conseguindo crescer. Esse foi um dos principais diferenciais entre as áreas protegidas e não protegidas: as primeiras estão dando mais espaço para regeneração florestal, sofrendo menor "perda líquida" de CO2.

- É a primeira vez que estamos fazendo uma análise desse aspecto incluindo áreas protegidas, principalmente os territórios indígenas - afirma Cícero Cardoso Augusto, do ISA, um dos coautores do trabalho. - A gente sempre pressupõe que o desmate com corte raso é a maior causa da perda de carbono, mas percebemos que, na realidade, a degradação florestal também é um grande vilão.

Segundo os estudo, outra tendência observada é que, no Brasil, áreas indígenas têm sido mais eficiente em reter carbono de que unidades de conservação. Possíveis explicações para isso é que a presença de índios e comunidades tradicionais torna mais difícil invasões que resultam em grilagens, comuns em parques e reservas que não possuem infraestrutura de vigilância.

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