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Mais calor e menos comida

O Globo, Ciência, p. 36
01 de Out de 2009

Mais calor e menos comida
Falta de alimentos, causada pelo aquecimento global, reduzirá produção em 20%

Vinte e cinco milhões de crianças em todo o mundo vão passar fome em 2050 por causa da escassez de alimentos, cuja produção vai sofrer uma redução de 20% causada pelo aquecimento global.

E o custo da adaptação às mudanças climáticas direcionada aos países em desenvolvimento será de cerca de US $ 100 bilhões anuais, já a partir de 2010.

É o que revelam dois estudos, distintos, mas interligados, divulgados ontem.

Eles colocam ainda mais pressão nos líderes mundiais a pouco mais de dois meses da reunião de cúpula da ONU, em Copenhague, quando deverá ser acertado um novo acordo climático para suceder o Protocolo de Kioto, que expira em 2012.

De acordo com o primeiro estudo, coordenado pelo Instituto Internacional de Pesquisa de Política Alimentar (IFPRI, na sigla em inglês), os habitantes dos países em desenvolvimento terão acesso a 2,41 mil calorias diárias em 2050, 286 calorias a menos que em 2000. Na África, esse valor será de 392 calorias a menos e, nos países industrializados, de 250 calorias abaixo.

- Este drama pode ser evitado com um investimento de US$ 9 bilhões anuais para aumentar a produtividade agrícola - afirmou Gerald Nelson, um dos autores do relatório, durante a sua apresentação, em Bangcoc, na Tailândia, onde ocorre a última rodada de negociações sobre clima antes da reunião da Dinamarca.

O estudo afirma que a escassez vai levar à alta dos preços de alimentos básicos, como trigo, soja e arroz (este pode sofre aumentos de até 121%). Seus autores lembram que as crises do ano passado, quando a falta desses produtos geraram protestos em vários países, foram um alerta para a gravidade desse problema.

- Deveremos ter um aumento de 50% na população do planeta até 2050 e conseguir produzir alimentos para tanta gente já seria um grande desafio, mesmo se não houvesse aquecimento - disse Nelson.

Banco Mundial estima custo de adaptações
Todos as regiões do planeta serão afetadas, relata a pesquisa, mas as mudanças no clima terão impacto mais profundo na produção de alimentos no sudeste asiático e na África Subsaariana, por causa de colheitas ruins e secas severas.

- Se não direcionarmos mais investimentos nessa área, as consequências serão desastrosas.

Nesse sentido, melhores estradas, sistemas de irrigação e acesso a água potável serão essenciais - acrescentou Nelson.

Na outra pesquisa, feita pelo Banco Mundial e também divulgada em Bangcoc, especialistas afirmaram que boa parte dos custos de adaptação nos países emergentes - que deve ser um dos grandes nós das negociações em Copenhague - deve ser destinado à proteção dos sistemas de transporte e das áreas litorâneas. Os valores divulgados - US$ 100 bilhões anuais - são considerados os mais precisos já estimados.

- Uma das razões para isso é que incluímos no estudo dados sobre o crescimento de diversas nações - disse Warren Evans, diretor de assuntos ambientais do Banco Mundial. - A maior parte dos estudos anteriores estimava, por exemplo, que Bangladesh será a mesma em 2050, e obviamente isso é incorreto. Esperamos que aconteça um maior crescimento na região e a diminuição da pobreza. Isso, sem dúvida, vai fazer uma diferença nos cálculos da adaptação.

O estudo do Banco Mundial é mais um a afirmar que a falta de ação agora tornará os custos da adaptação maiores no futuro.

- Para a população dos países emergentes, esse custo pode se tornar alto demais - afirmou o ministro do Desenvolvimento da Holanda, Bert Koenders. - Por isso, é fundamental o apoio financeiro internacional, em bases atualizadas, para essas nações

Erro e acerto

Se o Brasil, de fato, desembarcar em Copenhague, em dezembro, com uma meta firme de redução de emissões, Como anuncia o ministro Carlos Minc, terá superado um dogma do governo Lula.

Por ele, caberia às economias industrializadas - as grandes fontes de poluição - limpar o que sujaram, mantendo os países emergentes sem qualquer meta, como no Tratado de Kioto, em expiração.

Era uma tese politicamente correta e conceitualmente errada.

O Globo, 01/10/2009, Ciência, p. 36

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