VOLTAR

Maioria quer demarcação, diz Funai

FSP, Brasil, p. A6
09 de Jan de 2005

Maioria quer demarcação, diz Funa
Reserva em Roraima espera por homologação há 20 anos

Iuri Dantas
Da sucursal de Brasília

O presidente da Fundação Nacional do Índio, Mércio Pereira Gomes, rebateu a liminar do Supremo Tribunal Federal que suspendeu a demarcação contínua da reserva Raposa/Serra do Sol, em Roraima. Na decisão, a ministra Ellen Gracie suspendeu o processo até que o pleno do tribunal analise a questão, levando em conta resistências locais contra a homologação contínua.
"A única coisa que a Funai faz na vida é ouvir índios. Sabemos que uma pequena porcentagem não quer a homologação contínua. A maioria quer", afirmou Gomes.
Segundo o presidente da Funai, os fazendeiros, em sua maior parte produtores de arroz, também foram ouvidos pelo Ministério da Agricultura e estão sendo realocados em outras regiões de várzea do Estado pelo Incra (Instituto de Colonização e Reforma Agrária).
"Os fazendeiros também não querem a homologação. Mesmo assim, muitos já estão deixando a terra: das 207 fazendas que tínhamos, agora há apenas 40", afirmou Gomes.
A suspensão do processo de homologação é apenas mais um capítulo na extensa polêmica que envolve a área há mais de 20 anos. Na segunda-feira, a ministra Ellen Gracie atendeu o pedido do senador Mozarildo Cavalcanti (PPS-RR) e cancelou a portaria de demarcação da reserva editada em 1998 pelo Ministério da Justiça. A demarcação é o penúltimo passo antes da entrega definitiva da região aos índios.
A reserva ocupa uma área equivalente a 12 vezes o tamanho da cidade de São Paulo, cerca de 1,7 milhão de hectares, onde existem 148 aldeias com 15 mil índios dos povos macuxi, uapichana, taurepang, patamona e ingaricó.
Por se localizar em uma área de fronteira com a Guiana e a Venezuela, a homologação contínua da reserva encontra resistência do Ministério Público e das Forças Armadas, que não poderão entrar na área após a homologação sem autorização.
Por outro lado, a OEA (Organização dos Estados Americanos) pressiona publicamente o Brasil no exterior pela homologação contínua, devido aos conflitos intermitentes entre índios e fazendeiros na região. Liminares judiciais impediram o governo de homologar por quase dois anos, até que, em dezembro, o ministro Carlos Ayres Britto suspendeu as restrições e deu chance para a edição do decreto.
Na segunda-feira, o governo foi surpreendido pela decisão de Ellen Gracie, que responde pelo período de plantão do STF durante o recesso forense. Em julho, a ministra já havia negado a suspensão das liminares que impediam a homologação contínua.
A tendência do governo é recorrer da decisão, mas até a conclusão desta edição, era dado como certo na AGU (Advocacia Geral da União) que o recurso só será feito em fevereiro.
Nos bastidores, o ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, e o advogado-geral da União, Álvaro Augusto Ribeiro, também vinham negociando com as Forças Armadas um meio-termo para a área de fronteira. A palavra final caberá ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

FSP, 09/01/2005, Brasil, p. A6

As notícias aqui publicadas são pesquisadas diariamente em diferentes fontes e transcritas tal qual apresentadas em seu canal de origem. O Instituto Socioambiental não se responsabiliza pelas opiniões ou erros publicados nestes textos. Caso você encontre alguma inconsistência nas notícias, por favor, entre em contato diretamente com a fonte.