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Maior especialista do mundo em mogno desenvolve projeto piloto de manejo no Acre

Página 20-Rio Branco-AC
Autor: Válber Lima
18 de Out de 2002

Manejo florestal e capacitação técnica são as especialidades de James Grogan, com PhD e um currículo invejável

O governo do Estado do Acre contratou há dois anos o maior especialista em mogno do mundo para assessorar a implantação do Projeto Piloto de Manejo Florestal e Capacitação Técnica no Município de Sena Madureira (Promatec). James Grogan, mais conhecido com Jimmy, é americano e tem doutorado em engenharia florestal. Sua tese de doutorado teve a espécie mogno como tema central. Ele estudou a cadeia de reprodução da árvore em três continentes onde a madeira se desenvolve com variações dentro da qualidade mais cobiçada e cara entre as outras espécies. O trabalho acadêmico lhe conferiu respeito e credibilidade junto aos organismos que defendem a preservação das florestas e das instituições que pregam a exploração com baixo impacto no meio ambiente.

Tímido e bastante concentrado, Grougan fala português perfeito e se diz um amante da floresta. Para iniciar o projeto no Acre percorreu quase todo o Estado à procura de uma região que concentrasse o maior número possível de indivíduos da espécie e ao mesmo tempo em que tivesse o acesso necessário por terra. Com a sabedoria e experiência de quem já catalogou a espécie em toda a América Latina, farejava a árvore mais nobre do mercado como quem procura por um velho amigo, não como um caçador sedento em ver a presa cair vencida. Visitou vinte municípios em regiões de mata densa e acabou encontrando em Sena Madureira o local ideal. Fica na fazenda São Jorge, a 22 quilômetros de Sena Madureira e 120 km de Rio Branco, de propriedade de um casal de madeireiros, Ciro e Fátima.

MODELO - Os proprietários, então, receberam o convite para entrar no projeto que, para Grogan, será um possível modelo de exemplo de manejo de mogno para todo o mundo. A princípio, depois do convite, o casal ficou desconfiado. Mas logo abraçaram a idéia e começaram realizar as operações numa área inicial de 500 hectares. O projeto total pretende desenvolver o Promatec em 8.000 hectares da fazenda.

Grogan conta que o local foi escolhido por conter a maior diversidade de descendentes de ancestrais diferentes. "Para que o manejo tenha sucesso é preciso que numa grande área haja várias matrizes sem parentesco, isso garante que o processo de reprodução ocorra com mais probabilidade de dar certo", orienta.

EQUIPE - O primeiro passo do especialista foi reunir uma equipe de técnicos, estudantes e profissionais da floresta para, por meio do GPS, identificar e localizar todas as espécies da área em um mapa. Em seguida, aproveitando os ramais já abertos e abrindo novos de forma estratégica para fazer a demarcação. Na sede do acampamento, a Secretaria Executiva de Floresta e Extrativismo (Sefe) está construindo uma escola para repasse dos conhecimento e um viveiro para plantil de novas mudas de mogno e outras espécies.

Para retirar a madeira nobre, dentro do projeto de manejo, é preciso ter muita técnica e seguir aos padrões estabelecidos. Por exemplo, para que haja a fecundação na época da floragem é preciso que o mogno macho e a fêmea não estejam muito distantes. Quem faz a polenização são os insetos e se as árvores estão muito distantes não entra no raio de alcance do agente transportador do pólen de cada flor. Mas, quando fecundada, a árvore do mogno produz sementes em abundância. A semente tem aerodinâmica semelhante com uma asa de avião. Isso é para que consiga se distanciar ao máximo e garantir uma nova geração. Mas tem que cair no lugar certo. Se não, nada acontece.

No projeto do Promatec as clareiras abertas com a derrubada de de outras árvores vão servir para o plantil dessas sementes colhidas e das mudas produzidas na escola. Cada semente leva no mínimo 30 anos para atingir uma copa de 45 centímetros. Mas o diâmetro melhor para o abate é de 55 centímetros. Um mogno adulto chega a valer até mais que 10 mil reais. Um metro cúbico da madeira serrada vale no mercado internacional, 1.400 dólares.

Mas a exploração depredatória extinguiu a espécie em várias áreas nativas como em países da América Central. Existe atualmente no Pará uma área muito grande de mogno destruída. O Imazon (Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia) desenvolve no Pará um projeto de baixo impacto ambiental. De acordo com o especialista Grougan, a forma de extrair madeira em padrões de baixo impacto ambiental torna o processo mais econômico e confere ao produto final mais valor agregado, por tratar-se de madeira extraída sem causar danos ao meio ambiente.

O mogno é o ouro verde da Amazônia

Em 2001, um metro cúbico de mogno serrado de qualidade superior era vendido por cerca de US$ 1,2 mil. É a espécie de maior valor madeireiro do mundo. Por causa dessa importância, o mogno vinha sendo intensamente extraído nas últimas décadas em sua área de ocorrência natural na América tropical, desde o México até o Brasil. Entre 1971 e 2002, o Brasil exportou aproximadamente quatro milhões de metros cúbicos de mogno serrado. A maioria (75%) foi exportada para os Estados Unidos e Inglaterra. O valor bruto estimado dessa produção é estimado em US$ 3,9 bilhões.

POLÊMICA - A elevada importância comercial do mogno e sua vulnerabilidade ecológica têm sido objetos de intensa polêmica sobre como garantir a conservação e o uso sustentado dessa espécie. De acordo com o americano especialista em mogno, Jimmy Grogan, um passo importante para a solução desse dilema é conhecer a história natural do mogno, e principalmente, o padrão de proliferação das unidades ao longo de sua área de ocorrência.

Grogan conta que estudos realizados na América Central e Bolívia revelaram que o mogno tende a regenerar-se depois de grandes perturbações da floresta, como incêndio, furacões e inundações. Outras pesquisas na Amazônia Brasileira indicam que a regeneração do mogno ocorre sob condições de distúrbios moderados tais como a abertura de clareiras naturais na floresta.

Nas palavras de Jimmy Grogan, "a exploração do mogno foi uma das questões de conservação mais polêmicas dos anos 90, principalmente no âmbito da Convenção Internacional sobre Espécies Ameaçadas de Extinção. Alguns países e grupos ambientalistas têm defendido a inclusão do mogno como espécie ameaçada de extinção, o que poderia coibir a exploração predatória dessa madeira. Por outro lado, países produtores e madeireiros argumentam que não há informação conclusiva sobre o risco de extinção da espécie".

CONTROLE - No Brasil, a exploração de mogno tem sido freqüentemente associada a práticas predatórias e ilegais. O governo federal tem tentado controlar a exploração de mogno desde 1996, quando proibiu a entrada de novos planos de manejo desde 1996, quando proibiu a entrada de novos planos de manejo. Além disso, o país estabeleceu contas decrescentes de volume para exportação desde 1990. Finalmente, em 2001, após uma avaliação no campo, o Ibama suspendeu todos os planos de manejo de mogno por considerá-los tecnicamente inadequados ou fraudulentos. O Ibama também suspendeu a exportação de madeira já explorada.

No entanto os organismos responsáveis pela fiscalização dessa espécie liberaram o Acre a desenvolver pesquisas nessa área com a orientação do americano Grogan. Para ele, Jimmy Grogan, "na medida em que os madeireiros exploram os últimos estoques de mogno existentes no Brasil, na Bolívia e no Peru, é necessário entender a situação dessa espécie e as possibilidades para o seu manejo e conservação."

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