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Maggi frustra ministra e defende os madeireiros

Gazeta de Cuiabá-Cuiabá-MT
Autor: Romilson Dourado
27 de Jul de 2003

A 2ª Feira de Iniciativas Sustentáveis (Expoambiente) de Alta Floresta (800 km ao extremo-norte de Cuiabá) se encerrou ontem, ainda sob o impacto do discurso do governador e empresário Blairo Maggi (PPS), feito ao final da solenidade de abertura, na quinta-feira à noite. Logo após a ministra Marina Silva (Meio Ambiente) usar o microfone para detalhar os planos do governo federal para o combate à predação e o incentivo à empreendimentos alternativos, Maggi, maior produtor individual de soja do mundo, iniciou um desabafo que dividiu opiniões e ainda lançou dúvidas sobre a possibilidade de consenso.

"Não somos funcionários públicos de carreira, não temos direito à aposentadoria, mas sim de ralar a vida inteira. Esse é o momento de fazermos nossa poupança", disse, diante de centenas de pessoas, entre elas ambientalistas. "O que queremos do governo é clareza sobre o que se pode e o que não se pode fazer, dentro da lei". O que é proibido por lei, na opinião de Maggi, deve ter fiscalização rigorosa. Já no universo das possibilidades, ele defendeu menos controle do Estado. "Vamos flexibilizar, vamos ser maleáveis. Precisamos agir com base na realidade, não na emoção", enfatizou o governador socialista, que comanda um conglomerado de empresas do Grupo Amaggi.

O trecho que mais deixou os ambientalistas enfurecidos foi quando Maggi recomendou que a ministra "não se deixasse impressionar" com os mais recentes números sobre o avanço do desmatamento na região Amazônica. "Estes 24 mil km quadrados representam absolutamente nada diante da Amazônia. Esta região é um continente onde cabem todos os países da Europa", argumentou, para depois pedir respeito ao passado dos colonizadores. "O governo federal trouxe as pessoas para esta região, depois interrompeu e mudou seus programas. Agora faz de conta que são estas pessoas as culpadas".

Vereador critica ambientalistas e prega a unidade

O vereador de terceiro mandato por Alta Floresta, Luiz Carlos de Queiroz (PSB), criticou os ambientalistas e defendeu a união da classe política como forma de combater a fiscalização dura e sistemática do Ibama sobre o comércio madeireiro na região norte. "Os madeireiros têm recebido uma fiscalização acirrada e isso prejudica o setor", declarou Queiroz. Garante que seus aliados não estão atuando ao arrepio da lei.

Na sua avaliação, o governador Blairo Maggi atendeu reivindicação do setor ao cobrar da ministra do Meio Ambiente um trabalho de parceria que venha resultar no crescimento socioeconômico do nortão. Esta foi a 1ª vez que Marina Silva visitou o Estado, após a posse no Ministério do Meio Ambiente. Alta Floresta arrecada em torno de R$ 1,5 milhão mensal. Cerca de 80% das receitas são oriundas do comércio madeireiro. O município, que tem 70 comunidades rurais, sofre com a falta de infra-estrutura. Abriga 2,5 mil km de estradas vicinais e estaduais.

Preservação - Uma das maiores preocupações das entidades ambientalistas são como encontrar meios eficientes para controlar os focos de queimada e o desmatamento em Mato Grosso, principalmente no nortão. Na Amazônia Legal, o Estado "contribuiu" com 40% do desmatamento, uma proporção avaliada pelo governo federal como assustadora.

Para o secretário nacional de Desenvolvimento Sustentável, ex-deputado Gilney Viana, Mato Grosso, que é o maior produtor nacional de soja e de algodão, vive num descompasso com o crescimento econômico. "Muitos compradores de nossos produtos começam a questionar a forma que Mato Grosso tem se utilizado para se posicionar no mercado", pondera o secretário.

Para Juliano, governador demonstrou preocupação

"O governador fez um discurso afinado com a região (norte). Não vejo interesse pessoal da parte dele", comentou ontem o ex-vereador por Alta Floresta e deputado estadual Juliano Jorge (PL), ao comentar as críticas feitas por Blairo Maggi.

Segundo o parlamentar, assim que o governador chegou a Alta Floresta juntamente com a ministra Marina Silva (Meio Ambiente) e outros políticos, Maggi foi procurado por madeireiros para externar preocupação sobre as ações duras de fiscalização por parte do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama). "Com a programação da vinda da ministra à região, o Ibama passou a bater duro nestes últimos 40 dias, negando, inclusive, a ATPF (Autorização de Transporte Florestal). Muitos madeireiros começaram a fechar as portas e ameaçaram a deixar a região", comentou o deputado.

Irmão do prefeito Romoaldo Júnior (PL), Juliano disse que os ambientalistas ficaram frustrados com as declarações do governador e diz concordar com o discurso de Maggi. "Esses ambientalistas são muito radicais".

Marina Silva diz enfrentar reação com tranquilidade

Tentando manter visão otimista da visita ao norte do Estado, a ministra Marina Silva comentou, em entrevista coletiva, ter ouvido a manifestação do governador Blairo Maggi com tranquilidade. "É na adversidade que a gente cria os consensos. É em cima de uma firmeza de propósitos que fazemos esta interação com os governos, mas nunca tive a pretensão de ser a dona da verdade. O importante é que a gente não inviabilize as grandes questões, os grandes processos, por conta de algumas divergências", comentou.

Para o secretário nacional de Desenvolvimento Sustentável, Gilney Viana, o discurso mostrou que o debate é público. "Embora o discurso do governador não tenha sido para nós agradável, acho que nesta viagem avançamos muito em busca de pontos comuns de entendimento". Viana abriu, na quinta, o "Seminário de Negócios Sustentáveis", parte da programação da 2ª Expoambiente, que terminou ontem em Alta Floresta.

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