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Madeireiros queimam ônibus no Pará

FSP, Brasil, p. A11
03 de Fev de 2005

Madeireiros queimam ônibus no Pará
Trabalhadores reclamam de regras do Ibama e bloqueiam acesso a município

Silvio Navarro
Da agência Folha

Os trabalhadores de madeireiras do sudoeste do Pará que protestam desde a semana passada contra as restrições do governo federal à exploração de áreas florestais queimaram ônibus e pontes, ontem, e mantiveram o bloqueio da rodovia BR-163 (Cuiabá-Santarém), na região de Novo Progresso (754 km de Santarém).
Na terça-feira, também houve interdição de trechos dos rios Tapajós e Amazonas. As barreiras, formadas por aproximadamente 200 embarcações, foram desmontadas pela Marinha.
Os manifestantes reclamam que as novas regras impostas pelo Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis) e pelo Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária) deixaram milhares de trabalhadores da região desempregados.
As principais reivindicações dos madeireiros são a revogação da portaria conjunta no 10 do Incra e do Ministério do Desenvolvimento Agrário, que obrigou o cadastramento de propriedades com mais de cem hectares, e a liberação de 33 projetos de manejos, suspensos pelo Ibama.
Ônibus queimado
Na madrugada de ontem, os manifestantes queimaram um ônibus que transportava passageiros de Mato Grosso a Novo Progresso. Ninguém ficou ferido.
O ônibus foi incendiado justamente no ponto mais crítico dos protestos, na altura do km 310 da BR-163, a dois quilômetros do município de Novo Progresso, que tem cerca de 15 mil habitantes e cuja economia depende basicamente da extração de madeira. Revoltados, os próprios moradores queimaram pequenas pontes e montaram barreiras com troncos de árvores em outras vias de acesso ao município paraense.
Isolado há uma semana, Novo Progresso só tem reserva de energia até sexta-feira. Os caminhões de óleo diesel que abastecem a termelétrica da cidade estão parados na fila de mais de 15 km de congestionamento formada com o bloqueio nas pistas.
Desespero
O prefeito da cidade, Tony Gonçalves (PPS), disse que o município vive uma situação de "desespero". "Já decretei estado de emergência, mas até agora não recebi resposta nem do governo [federal] nem do Estado."
Ele disse ainda que é tensa a situação entre os manifestantes e os caminhoneiros parados na estrada, cujas cargas, especialmente alimentos, estariam estragando.
Outros quatro municípios da região de Novo Progresso também sofrem com a falta de abastecimento decorrente do bloqueio: Moraes de Almeida, Castelo do Sonho, Itaituba e Trairão. Essas cidades, entretanto, ainda dispõem de outras vias de acesso por meio de municípios vizinhas.
Anteontem, madeireiros de Santarém derrubaram parte de uma ponte que fica a 20 km da cidade, impedindo o tráfego de caminhões com carga.
A manifestação também tem o apoio de índios da reserva Baú, que se queixam das normas do Ibama para manejo florestal.
O secretário de Biodiversidade e Florestas do Ministério do Meio Ambiente, João Paulo Capobianco, e o presidente do Ibama, Marcus Barros, enviaram um ofício aos representantes do setor madeireiro, no qual propõe a conversão de terras dentro de assentamentos para a exploração.
O documento afirma ainda que "a solução definitiva para o entrave está contida no projeto de lei de Gestão de Florestas públicas, que será enviado ao Congresso".

FSP, 03/02/2005, Brasil, p. A11

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