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Madeireiras no Pará: pouco emprego e muita devastação

O Paraense-Belém-PA
Autor: Rose de Melo
04 de Jul de 2002

Segundo a federação dos trabalhadores, o setor emprega 120 mil pessoas, mas mais de 30% desses empregos são ilegais, com baixos salários e sem equipamento de segurança

Os dados de emprego na indústria madeireira do Pará divulgados pelo Instituto do Homem e do Meio Ambiente da Amazônia, estimados em 54 mil, estão bem aquém dos números fornecidos pelas empresas e pelos trabalhadores. Segundo a Associação das Indústrias Exportadoras de Madeira (Aimex), são gerados 200 mil empregos pelo setor. Já para a Federação dos Trabalhadores da Indústria de Construção e Mobiliária (Fetracom) os empregos são cerca de 120 mil, sendo 40 mil ilegais.

Segundo o presidente da Fetracom, Iran Farias Guimarães, o setor madeireiro, além de ser o mais perigoso do Estado, é o que paga pior. "Os trabalhadores estão sujeitos a acidentes graves, muitos não contam com equipamentos de segurança, e a média salarial é de apenas R$ 260,00", afirma. O setor também é o que mais emprega irregularmente. "Em alguns municípios, como Jacundá, existem 46 madeireiras legais e quase o mesmo número de ilegais, 40", cita Guimarães.

Denúncias - Para superar as dificuldades, os trabalhadores só contam com as raras visitas da Delegacia Regional do Trabalho, diz o presidente. "A DRT tem dificuldades em chegar ao local denunciado. O número de fiscais é reduzido e por isso eles demoram seis, sete meses para ir e quando chegam a empresa não está no mesmo local", afirma, denunciando as centenas de empresas itinerantes que existem ao longo dos rios paraenses, todas atuando ilegalmente.

A Fetracom também denuncia que muitas empresas madeireiras só existem para vender notas fiscais. "Elas funcionam para facilitar a saída de madeira ilegal do Estado e do país", diz Iran. Mas ele garante que, apesar desse sistema existir e ser conhecido por muitos, não há como provar. "Isso funciona muito no sul do Pará. A empresa declara que faz, por exemplo, laminados de madeira, o que não é verdade". Guimarães diz que ainda não fez a denúncia ao Ministério Público por que tenta reunir provas, que são difíceis.

Patrões - A jornada dos trabalhadores da indústria madeireira é por safra, segundo a federação. "Geralmente se trabalha oito meses por ano. A empresa que não consegue manter estoque durante a entressafra pára os quatro meses restantes", comenta. A maioria dos empregos está no corte da madeira, mas já existem pólos que trabalham com beneficiamento, segundo Iran. Ele afirma que o destino da madeira paraense é, quase sempre, a exportação.

Os maiores problemas enfrentados pelos trabalhadores das madeireiras, "pelo menos os que chegam até nós", segundo Iran, são a não-assinatura da carteira de trabalho, o atraso no pagamento dos salários, carga horária excessiva e, muitas vezes, condições subumanas para o desempenho da função. "É a diferença entre os patrões e os empresários. Os primeiros são aqueles que só exploram o trabalhador; os segundos são os que nos tratam com mais respeito", define.

Corrida pelo emprego

Segundo dados do Dieese, no mês de abril a indústria de transformação, na qual se inclui as madeireiras, gerou um saldo de 933 novos empregos formais. Mas a análise de janeiro a abril mostra o fechamento de 44 postos de trabalho no setor. Para o supervisor técnico do Dieese, Roberto Sena, a oscilação se deve à crise com o embargo do mogno e à não-verticalização da indústrias. "As empresas atuam mais no corte da madeira para exportação. Não há investimentos no aproveitamendo da madeira, no setor dos moveleiros, por exemplo, que poderia gerar mais empregos", afirma.

Para Sena, mais qualificação garantiria móveis de maior qualidade e mais competitivos no mercado. "O setor da indústria é o que mais precisa correr contra o tempo para não perder mais postos de trabalho, e vai ser preciso pensar novas funções para os trabalhadores", ressalta.

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