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Madeireiras geram pouco emprego, diz Ong

Amazonpress-Rio Branco-AC
Autor: Raimundo José Pinto
24 de Out de 2002

A grande maioria da madeira processada no Pará (78%) é destinada ao mercado brasileiro e apenas uma pequena parte (22%) vai para o exterior. E da madeira que fica no mercado brasileiro, a maioria (30%) vai para o Nordeste, vindo depois a região Sudeste - sem São Paulo -, com 16%; o Estado paulista, com 11%; o Sul e o próprio Estado do Pará, com 8% cada; e 5% para outras regiões. Esses dados constam de um estudo que está sendo divulgado pelo Instituto do Homem e do Meio Ambiente da Amazônia (Imazon), intitulado "Pólos Madeireiros do Estado do Pará - Produção, Mercado, Renda e Empregos".

De autoria dos pesquisadores Adalberto Veríssimo, Eirivelthon Lima e Marco Lentini, o objetivo do trabalho é caracterizar o setor madeireiro no Pará no período de 1998 a 2001. O estudo mostra que, com base em dados de 1998, a atividade madeireira gerava pouco mais de 54 mil empregos. E que, das 1.210 empresas existentes nos 24 pólos madeireiros indicados pelos pesquisadores, a maioria (540) é de porte micro, vindo depois as de médio porte (331), as pequenas (189) e as grandes (150). Ainda pelos dados de 1998, foram extraídos no Pará 11,3 milhões de metros cúbicos de madeira em tora (4,25 milhões de m3 beneficiados), com a geração de uma renda bruta de US$ 1,068 bilhão.

O trabalho alerta ainda para dois exemplos distintos. De um lado, regiões que enfrentam o colapso da atividade madeireira, com uma severa queda de geração de renda e emprego, representadas principalmente por Paragominas, na zona leste do estado, que tinha 124 empresas instaladas dentro da cidade em 1990, que consumiam cerca de 2 milhões de m3 de madeira em tora por ano. No final de 2001 eram apenas 60 empresas, consumindo 900 mil m3. No lado oposto aparece o município de Novo Progresso, no oeste, que não tinha nenhuma empresa madeireira em 1990 e que hoje tem em torno de 100. Em 1998, as 19 empresas ali instaladas já consumiam 300 mil m3 anuais de madeira em toras, número que dobrou para cerca de 600 mil m3 ano passado.

"Nas novas fronteiras, o padrão de exploração predatória dos recursos tende a se repetir. O oeste do Pará recebe atualmente inúmeras empresas madeireiras que migraram de outras regiões, e juntamente com estas, massas de trabalhadores tenderão a inchar estes municípios. O conhecimento sobre a situação e a geografia econômica da atividade madeireira no Estado pode guiar iniciativas de sustentação da indústria e conservação das florestas em regiões críticas. Nas velhas fronteiras, são necessários incentivos para buscar alternativas econômicas e para conservar os recursos remanescentes. Nas novas fronteiras, esforços devem ser feitos para disciplinar a atividade (zoneamento, controle e melhoramento)", diz o estudo do Imazon.

Potencial

Os pesquisadores do Imazon começam por destacar o potencial da Amazônia, responsável por 85% da produção brasileira de madeira. A indústria madeireira amazônica responde por 15% do Produto Interno Bruto (PIB) regional e gera uma renda bruta de US$ 2,5 bilhões. E o Pará ocupa um lugar de destaque na região, com 40% de sua produção. Do total de 676 indústrias que estavam em funcionamento no estado em 1998, 89% eram serrarias equipadas com serras-de-fita, 6% laminadoras e 5% fábricas de compensados. Do volume de madeira extraído em 1998, 56% foi explorado pelas próprias empresas processadoras e 44% por terceiros.

Outro dado levantado no trabalho revela que apenas 10% da madeira processada no Pará é extraída em áreas públicas, ficando os 90% restantes com as propriedades particulares. Mas os pesquisadores destacam que 27% da área do estado possui potencial para o estabelecimento de florestas públicas de produção madeireira, ou seja, "possuem florestas com potencial madeireiro, acessibilidade econômica, poucos indícios de ocupação e não estão legalmente protegidas".

O trabalho separa o Pará em seis zonas madeireiras: central, estuarina, leste, oeste, sul e norte. A maior área de florestas (94%) está na região Norte, que compreende os municípios localizados na margem esquerda do rio Amazonas. E a com menor área de floresta (39%) é a leste, que abrange pólos madeireiros como os de Paragominas, Tomé-Açu, Tailândia, Goianésia, Dom Eliseu e Rondon. A zona leste é apresentada no trabalho como a que tinha a maior concentração de empresas madeireiras, com 464 das 676 empresas (entre serrarias, laminadoras e fábricas de compensados), sendo que só Paragominas abrigava 155.

A menor concentração estava na zona oeste (Itaituba e Novo Progresso), com apenas 35. É bom destacar que nesse total de empresas não estão computadas as serrarias circulares. Nada menos do que 505 das 534 que haviam em 1998 estavam localizadas no zona estuarina, que compreende uma parte do Baixo Amazonas e a chamada Região das Ilhas. A maior parte das micro empresas, aquelas que consomem anualmente menos de 4 mil m3 de madeira em tora, está localizada exatamente na zona estuarina.
Entre as pequenas (consumo anual entre 4 mil e 10 mil m3), a maior concentração ocorre na zona leste, que tem também a maioria das médias (entre 10 mil e 20 mil m3) e das grandes (mais de 20 mil m3). Essa zona, que tem como destaque Paragominas, também apresentava no ano base do estudo do Imazon a grande maioria (34.029) dos 54.594 empregos gerados pela atividade madeireira em território paraense. E detinha US$ 596 milhões do US$ 1,026 bilhão da renda bruta gerada no estado por ano.

Mais um dado de destaque apresentado pelos pesquisadores do Imazon é que a maior parte da madeira que é exportada pelo Pará sai da zona estuarina: nada menos do que 77% da madeira ali produzida vai para o exterior, 19% fica no próprio estado e apenas 4% segue para outros estados brasileiros. Já a zona leste, a maior produtora paraense, manda a maioria (42%) de sua madeira para o Nordeste, 30% para o Sudeste (incluindo São Paulo, com 11%) e apenas 11% para exportação.

O exemplo de Paragominas

Os três pesquisadores constatam que o crescimento econômico das sedes de municípios formadas a partir da atividade madeireira em áreas de fronteira é rápida, porém efêmero. "Em pouco mais de duas décadas desde o estabelecimento das primeiras indústrias processadoras até a exaustão dos recursos naturais locais, há uma repentina queda na geração de renda e emprego, além de prejuízos irreversíveis às florestas". É o que eles chamam de "boom-colapso".

Eles citam como exemplos perfeitos desse modelo de desenvolvimento econômico os municípios de Paragominas e de Novo Progresso. Localizado a 300 quilômetros de Belém, às margens da rodovia Belém-Brasília, Paragominas surgiu nos anos de 1960 como uma fronteira da pecuária graças aos incentivos fiscais administrados pela extinta Superintendência do Desenvolvimento da Amazônia (Sudam). E acabou transformando-se no maior pólo processador de madeira do País no final dos anos 80. Mas, segundo ainda os pesquisadores, a região começou a enfrentar um colapso no final de 2001, com apenas 60 das 124 empresas que possuia em 1990. "As indústrias remanescentes tiveram de aumentar suas escalas de produção, uma vez que têm que lidar com distâncias médias de transporte de matéria prima superiores a 120 km".

Outra tendência existente em Paragominas é a agregação de valor à produção industrial. O pessoal do Imazon ressalta que o município aguarda os recursos do Serviço de Apoio à Micro e Pequena Empresa (Sebrae) e do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) para a implantação de seu pólo moveleiro. E que tem a perspectiva de recuperação econômica da pecuária (possui 500 mil cabeças de gado) e o crescimento da agricultura de grãos. Novo Progresso fica, em linha reta, a cerca de 1.000 quilômetros de Belém, é cortado pela rodovia Santarém-Cuiabá e tem como principais atividades econômicas a pecuária (100 mil cabeças de gado) e a madeireira, que passa por um verdadeiro "boom", com um crescimento "rápido e desordenado" de sua economia. "Em novas fronteiras madeireiras, historicamente, terras devolutas são empossadas e áreas indígenas e protegidas são ilegalmente exploradas", dizem os pesquisadores.

Avança Brasil - Eles lembram que existe uma discussão naquela região quanto aos impactos ambientais que poderão ser causados por projetos do programa "Avança Brasil", do governo federal, como o asfaltamento da BR-163. "Esta iniciativa - dizem os técnicos - é bem vista pelas lideranças políticas regionais, já que facilitaria o escoamento de produtos até o porto de Santarém e propiciaria uma ocupação populacional mais rápida no interflúvio dos rios Tapajós e Xingu. Entretanto, diversos estudos vêm sendo conduzidos com o intuito de produzir previsões sobre como essas políticas públicas poderão afetar o uso do solo na região e a conversão de novas áreas para atividades agropecuárias".

Estudos que estão sendo realizados na região mostram que a maior parte da produção de madeira de Novo Progresso é de espécies de alto valor econômico e que metade dessa produção é exportada e que, por isso, as empresas estão interessadas em certificação florestal. "Apesar desse interesse, a maior parte das indústrias não possui relação com a exploração florestal, terceirizando-a ou comprando matéria prima de extratores".

Adalberto Veríssimo, Eirivelthon Lima e Marco Lentini terminam por recomendar que essas regiões produtoras precisam de políticas voltadas ao desenvolvimento sadio da atividade madeireira, como assistência técnica, treinamento, segurança fundiária, incentivos econômicos ao manejo e áreas públicas de concessão.

"Estudos específicos devem ser conduzidos para levantar e enfocar as formas de implementação de tais políticas", acrescentam eles.

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