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Madeireiras acreanas estão investindo em manejo florestal

Gazeta do Acre-Rio Branco-AC
Autor: LAMLID NOBRE
14 de Fev de 2005

A prática da exploração predatória de madeira das florestas do Acre está com os dias contados. Os próprios empresários do setor madeireiro estão se organizando para garantir a preservação da floresta através do manejo e, assim, obter o selo internacional de certificação florestal, FSC.

No Brasil, apenas as experiências comunitárias desenvolvidas no Acre nos projetos de assentamentos Porto Dias, Cachoeira, São Luiz do Remanso e Pedro Peixoto o obtiveram.
Com o selo FSC, a madeira tem mercado livre em todo o mundo. A certificação florestal atesta que a madeira foi extraída de forma legal, de floresta manejada com respeito à fauna, à flora e as populações que nela habitam.

Para alcançar a meta de obter o FSC, as empresas privadas do setor criaram a Associação das Indústrias de Madeira de Manejo do Acre (Assimanejo), que tem como presidente a empresária Adelaide Fátima Oliveira. Segundo ela, a meta principal da organização é que as indústrias madeireiras implantem seus projetos de manejo florestal e deixem de ser vistas como predadoras da floresta.

"Nós estamos trabalhando para mudar a fama de vilã das madeireiras que antes só eram vistas como garimpeiras. Estamos lutando contra essa prática sendo guardiãs da floresta porque sem ela nossas empresas não terão continuidade", ressaltou.

Atualmente, a Assimanejo possui em seu cadastro doze associados e outros sete estão aguardando a aprovação para se associar. "O critério é ser manejado", destacou Fátima. Além de sua empresa, que desde 2002 está em processo de certificação e está em vias de ser a primeira de iniciativa privada a ser certificada, no Brasil, outras duas estão em processo de certificação para ainda este ano.

O setor madeireiro do Acre tem, hoje, cerca de sessenta empresas e ela acredita que até o final deste ano mais vinte tenham implantado seus projetos de manejo e possam fazer parte da Assimanejo.

A floresta manejada passa por rigoroso cuidado

A floresta a ser manejada passa por um rigoroso mapeamento feito pela própria empresa. Adelaide Fátima explicou que é realizado um Censo Florestal para detectar as áreas passíveis de exploração. A partir daí, o proprietário da área é contatado e a ele é proposta a parceria para a realização do manejo. Segundo ela, a família que mora no local participa de todo o processo.

Daí é realizado um detalhamento da floresta mapeada. Dois a três "mateiros" são enviados para realizar um estudo preliminar com o objetivo de detectar as espécies existentes na área e com a ajuda do GPS, fazem a marcação da localização exata de cada árvore encontrada.

"Com isso eu sei, que árvore tenho, de que espécie ela é e quando vou poder cortá-la", acrescentou.

Feito esse trabalho é firmado um contrato com a família que mora no local e é cedida a concessão para a empresa madeireira explorara área. "Nós nos responsabilizamos pela floresta cedida por, no mínimo 25 anos. Acompanhamos e somos responsáveis por sua manutenção", destacou Fá-tima.

Ela explicou ainda que só são cortadas às árvores após a avaliação de um engenheiro florestal da própria empresa, que após o mapeamento, avalia árvore por árvore a fim de distinguir as que podem ser cortadas e as que não podem.

Para ser extraída uma árvore tem que ter o caule com 60 metros ou mais de diâmetro, não pode estar em área de preservação permanente co-mo às margens de rios ou igarapés, e se for porta-sementes também deve ser preservada para garantir o ciclo reprodutivo da espécie. Do total de árvores mapeadas, pelo menos a metade é preservada, segundo Adelaide Fátima.

"Tudo isso é levado em conta no projeto de manejo que nós adotamos na nossa empresa e estamos divulgando, através da Assimanejo para as outras empresas do setor. Nós nos preocupamos até com o arraste", afirmou ela.

Depois disso, é elaborado um plano de exploração que é apresentado ao Instituto de Meio Ambiente do Acre (Imac) para concessão da licença ambiental.

A implantação de um projeto como esse requer investimentos em pessoal e tecnologia. Fátima disse que o custo desse projeto que está em prática, a mais de dois anos, na sua madeireira foi de cerca 200 mil reais.

Em termos de remuneração e rentabilidade econômica para as famílias também é um excelente negócio. As diárias durante o período de exploração de seis meses giram em torno de 250 reais.

Além disso, as informações são todas compartilhadas com elas. "Temos conhecimento de pessoas que começaram o extrativismo da castanha e da seringueira, a partir desse mapeamento porque antes nem sabiam que tinha em suas florestas este tipo de árvore", relatou Fátima.

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