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Madeira certificada não é modismo

GM, Opinião, p. A3
Autor: AHARONIAN, Karla
31 de Mai de 2005

Madeira certificada não é modismo

Karla Aharonian

Demanda por produtos com selo verde é maior do que a oferta. Há uma crescente preocupação da sociedade com o consumo consciente, um exercício de cidadania pelo qual a compra de qualquer produto leva em conta o impacto da produção e a postura da indústria sobre o planeta e a sociedade. Trata-se de um desafio para governo, empresários e consumidores. O combate à pirataria de CDs e softwares é um exemplo, assim como a luta contra a exploração da mão-de-obra infantil e a não-utilização de produtos nocivos à saúde. O cidadão tem a opção de adquirir uma madeira manejada de forma sustentável e outras - em muitos casos de maneira ilegal - que foram extraídas sem nenhum planejamento com o desmatamento de áreas imensas. Tramita no Congresso Nacional o projeto de lei de gestão de florestas públicas, que estabelecerá regras para a gestão dessas imensas áreas verdes. Em resumo, consiste na concessão de terras do governo para empresas que poderão explorar os recursos de forma sustentável por um período de até 60 anos. Essa é uma das ações concretas do Ministério do Meio Ambiente para a regularização de regiões na Amazônia com o objetivo de minimizar efeitos causados por grileiros. O objetivo do projeto é também estabelecer uma forma adequada de gerir e fomentar o crescimento do potencial florestal do País. No que diz respeito à extração de madeira, a melhor técnica de manejo com menor impacto ambiental é o critério de seleção. Como disse a ministra Marina Silva, "é um meio de a floresta continuar floresta e de as terras do governo continuarem sendo do governo". O manejo florestal sustentável compreende um conjunto de práticas que visam à produção de produtos madeireiros e não-madeireiros para preservar as florestas. Numa área de manejo florestal típico em um hectare de floresta (10 mil m²), existem cerca de 200 árvores adultas e mais de 1.000 jovens. O manejo compreende a colheita de cinco a seis árvores por hectare a cada 30 anos. A Floresta Amazônica tem sofrido cerca de 24 mil km² de desmatamento ao ano. Para reverter esse processo e explorar a floresta de forma sustentável, empresas já comercializam produtos de madeira com o selo verde FSC (Forest Stewardship Council, ou Conselho de Manejo Florestal). O sistema de certificação independente baseia-se em padrões ambientais internacionalmente aceitos e o selo é amplamente reconhecido. Além de garantir o manejo sustentável e o respeito às comunidades da floresta, o selo verde assegura ainda a integridade da cadeia de custódia da madeira desde o corte das árvores até o produto final chegar ao consumidor. Construtoras, arquitetos, designers, indústrias, governo e consumidores precisam ficar atentos à questão da madeira certificada, pois, além dos benefícios ambientais e sociais que o produto proporciona, transformou-se em interessante nicho de mercado. A longo prazo acreditamos que será um fator de exclusão do mercado, pois a conscientização fará com que os consumidores recusem produtos sem o selo verde. Voltando ao projeto de lei federal, os resultados esperados são a geração de 140 mil empregos diretos, receita anual direta (taxas pagas pelo uso do recurso florestal) de R$ 187 milhões e arrecadação de impostos de R$ 1,9 bilhão/ano. Em dez anos a área máxima total sob concessão planejada é de 13 milhões de hectares (cerca de 3% da área da Amazônia). Sem sombra de dúvidas, um passo importante para a preservação dessa região. Enquanto essa realidade não se concretiza, a sociedade pode participar dessa batalha começando pela escolha de produtos ecológicos. Não se trata de um modismo. O mercado global de produtos certificados pelo FSC poderá movimentar mais de US$ 5 bilhões, de acordo com recente pesquisa realizada junto a 250 empresas certificadas pelo sistema. Em franca expansão, o crescimento provocou um aumento anual de 25% nos certificados da cadeia de custódia. A pesquisa também revelou que a demanda por produtos com selo verde é maior do que a oferta no mercado de produtos madeireiros, cuja necessidade ultrapassa 10 milhões de metros cúbicos.

Karla Aharonian - Gerente da EcoLeo.

GM, 31/05/2005, Opinião, p. A3

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