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Lula recebe apoio de índios, ignora lenda e põe cocar

OESP, Nacional, p. A12
23 de Mar de 2006

Lula recebe apoio de índios, ignora lenda e põe cocar
Políticos evitam a todo custo esse tipo de homenagem, símbolo de azar

Tânia Monteiro

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva não teve como evitar ontem que o índio Francisco Urbano Pokze pusesse em sua cabeça um cocar conhecido por myhara, típico da comunidade rikbaktsa, do norte de Mato Grosso, feito de penas e pêlos de animais, entrelaçados de algodão. Com o adereço na cabeça Lula posou para os fotógrafos com um riso constrangido. Normalmente os políticos evitam por todos os meios usar o cocar, por causa de uma lenda corrente entre eles, segundo a qual causa azar.

O fato ocorreu durante a cerimônia de assinatura do decreto que institui a Comissão Nacional de Política Indigenista, no Palácio do Planalto. Na solenidade, a presidente do Instituto Indígena Brasileiro Warã, Azelene Kaingang, aproveitou para defender a reeleição do presidente Lula.

"Torcemos para que na próxima gestão nós estejamos mais uma vez junto com o senhor, com o movimento indígena apoiando o senhor e quem sabe na próxima gestão o senhor assine o Conselho Nacional de Política Indigenista", disse Azelene, quando agradecia a assinatura do decreto.

Na opinião da líder indígena, o documento pode ser visto como um sinal da disposição do governo em manter um diálogo "franco, aberto e transparente" com as comunidades indígenas. "Mais do que um ato político, isso é um ato de consolidação de uma democracia inclusiva e participativa em nosso País", declarou.

A comissão oficialmente instituída ontem cuidará os preparativos para a instalação do Conselho Nacional de Política Indigenista, que terá a tarefa de discutir as políticas a serem adotadas pela Fundação Nacional do Índio (Funai).

TEMOR

Não se sabe como surgiu a lenda do azar em torno do cocar. Mas os políticos sempre lembram, para fundamentar seu temor, os nomes de Ulysses Guimarães e Tancredo Neves - dois conhecidos nomes da política nacional que tentaram, mas não conseguiram chegar ao Planalto. O primeiro foi derrotado numa eleição em que concorreu pelo PMDB; e o segundo, apesar da vitória obtida em eleição indireta, ficou doente e não conseguiu assumir.

Sabe-se que o ex-presidente José Sarney evita, por todos os meios, que um cocar chegue perto dele. Como Lula está em campanha pela reeleição, apesar de não assumir isso, os mais pessimistas não gostaram de vê-lo com o cocar. Ainda mais em tempos de crise.

Mas, por outro lado, a cerimônia de ontem teve um lado positivo para o presidente: ele conseguiu ouvir um elogio à sua política indigenista, depois de uma saraivada de críticas, no Brasil e no exterior. A maior parte delas foi provocada por uma declaração do presidente da Funai, o antropólogo Mércio Pereira Gomes, numa entrevista a uma agência de notícias do exterior. Ele disse que o Brasil precisava pôr um limite às pretensões dos indígenas por mais terras.

OESP, Nacional, 23/03/2006, p. A12

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